Pilha Dupla: IPv6 e IPv4 em todos os dispositivos

Na atual fase de implantação do IPv6, não é aconselhável ter nós com suporte apenas a esta versão do protocolo IP, visto que muitos serviços e dispositivos na Internet ainda trabalham somente com IPv4. Como citado anteriormente, manter o IPv4 já existente funcionando de forma estável e implantar o IPv6 nativamente, para que coexistam nos mesmos equipamentos, é a forma básica escolhida para a transição na Internet.  Esta técnica é conhecida como pilha dupla (Dual Stack ou DS) e deve ser usada sempre que possível.

A utilização deste método permite que dispositivos e roteadores estejam equipados com pilhas para ambos os protocolos, tendo a capacidade de enviar e receber os dois tipos de pacotes, IPv4 e IPv6. Com isso, um nó Pilha Dupla, ou nó IPv6/IPv4, se comportará como um nó IPv6 na comunicação com outro nó IPv6 e se comportará como um nó IPv4 na comunicação com outro nó IPv4.

Cada nó IPv6/IPv4 é configurado com ambos endereços, utilizando mecanismos IPv4 (ex. DHCP) para adquirir seu endereço IPv4 e mecanismos IPv6 (ex. configuração manual, autoconfiguração stateless e/ou DHCPv6) para adquirir seu endereço IPv6.

Este método de transição permita uma implantação gradual, com a configuração de  pequenas seções do ambiente de rede de cada vez. Além disso, caso no futuro o IPv4 não seja mais usado, basta simplesmente desabilitar a pilha IPv4 em cada nó.

O funcionamento da pilha dupla está ilustrado na figura 12.

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Figura 12: funcionamento da pilha dupla

Alguns aspectos referentes à infra-estrutura da rede devem ser considerados ao se implementar a técnica de pilha dupla: a estruturação do serviço de DNS e a configuração dos protocolos de roteamento e de firewalls.

Em relação ao DNS, é preciso configurar os novos endereços IPv6, usando registros do tipo AAAA (quad-A), que armazenam seus endereços. Para mais detalhes sobre o suporte do DNS ao IPv6, consulte a RFC 3596. Responder os endereços IPv6 (registros AAAA) quando disponíveis para um determinado nome de domínio é o comportamento padrão do servidor DNS, mesmo que ele opere apenas com IPv4. O protocolo por meio do qual é feita a consulta não interfere na resposta. Ao receber endereços IPv6 e IPv4 como resposta a uma consulta no DNS a aplicação decide qual protocolo usar. Normalmente a preferência é pelo protocolo IPv6 e, em caso de falha, tenta-se o IPv4. Mais recentemente têm sido experimentadas técnicas que implicam em tentativas simultâneas de conexão IPv6 e IPv4 e optam pela que for mais rápida (draft-ietf-v6ops-happy-eyeballs-07).
Em uma rede com pilha dupla, a configuração do roteamento IPv6 normalmente é independente da configuração do roteamento IPv4. Isto implica no fato de que, se antes de implementar-se o IPv6 a rede utilizava apenas o protocolo de roteamento interno OSPFv2 (com suporte apenas ao IPv4), será necessário migrar para um protocolo de roteamento que suporte tanto IPv6 quanto IPv4 (como ISIS por exemplo) ou forçar a execução do OSPFv3 paralelamente ao OSPFv2.

A forma como é feita a filtragem dos pacotes que trafegam na rede pode depender da plataforma que se estiver utilizando. Em um ambiente Linux, por exemplo, os filtros de pacotes são totalmente independentes uns dos outros, de modo que o iptables filtra apenas pacotes IPv4 e o ip6tables apenas IPv6, não compartilhando nenhuma configuração. No FreeBSD, as regras são aplicadas a ambos os protocolos no mesmo arquivo de configuração. Entretanto a regra pode ser aplicada simultâneamente aos dois protocolos ou a somente um. Para aplicar a somente um deles basta utilizar inet ou inet6 dependendo do protocolo à qual as regras devem ser aplicadas. De uma forma ou de outra, novas regras terão de ser configuradas no firewall ao implantar-se o IPv6.

É importante reforçar que configurações independentes para IPv4 e IPv6 são necessárias para diversos aspectos da rede, entre eles:

  • Informações nos servidores DNS autoritativos;
  • Protocolos de roteamento;
  • Firewalls;
  • Gerenciamento das redes.

Utilizar pilha dupla pode não ser possível em todas as ocasiões. Por exemplo, quando não há mais IPv4 disponíveis e o provedor precisa atender a usuários novos com IPv6 e IPv4. Para redes corporativas que já utilizam NAT isso não é um impendimento: o IPv6 nativo pode ser utilizado em conjunto com o IPv4 compartilhado. Outra situação que dificulta a implantação do IPv6 usando pilha dupla é a existência de equipamentos que não o suportam e que não podem ser facilmente substituídos. Para contornar essas situações existem diversas técnicas disponíveis, algumas das quais serão abordadas nas próximas sessões.

Fonte: http://ipv6.br/entenda/transicao/#tecnicas-pilha2

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