8 perguntas para o CIO global da AMD

Um homem de meia-idade, com cabelos grisalhos curtos e bigode, está sorrindo. Ele usa óculos de armação fina e uma camisa social de cor clara. O fundo da imagem é neutro e sólido, destacando o rosto do homem. O homem é Hasmukh Ranjan, CIO global da AMD.

Por enquanto, 2025 tem sido um ano bastante favorável para a AMD. Em fevereiro deste ano, a companhia superou pela primeira vez uma de suas principais concorrentes, a Intel, em receita proveniente de data centers. De acordo com o relatório financeiro do quarto trimestre de 2024, o valor registrado foi de US$ 3,86 bilhões nesse segmento, representando um crescimento anual de 69%.

Esse novo marco indica também que a margem bruta da fabricante de chips aumentou de 50% para 53%. Com os resultados atualizados e tantas movimentações no mercado de desenvolvimento de semicondutores e inteligência artificial, o IT Forum procurou entender como a empresa se posiciona neste novo cenário.

Em entrevista ao portal, o CIO global da AMD, Hasmukh Ranjan, comentou sobre futuros avanços sustentáveis, o impacto do DeepSeek, novas possibilidades de expansão e a visão da companhia sobre o Brasil nesse contexto. Confira a conversa abaixo, na íntegra:

Atualmente, o mundo tem produzido muita energia para suportar o uso de chips e computadores. No entanto, agora em fevereiro essa lógica foi desafiada com o lançamento do DeepSeek, mostrando que é possível produzir tecnologias mais sustentáveis. Em questão de escala, você acha que é possível?

A forma como gosto de pensar, estando nesta indústria há mais de 30 anos, é que, quanto mais o custo diminui, mais pessoas passam a utilizar aquele produto ou serviço. Veja o exemplo da internet, que era extremamente cara quando surgiu. Com o tempo, novas soluções foram sendo implementadas e o custo foi reduzindo, o que levou ao uso massivo da nuvem.

Com a inteligência artificial ocorre o mesmo. Sempre que há uma revolução tecnológica como essa, os custos iniciais são elevados, mas, à medida que diminuem, mais pessoas começam a adotá-la. E, com o aumento do uso, cresce também a necessidade de energia. É assim que observamos a expansão da demanda por inteligência artificial. O custo unitário pode até cair, mas isso só contribui para que um número ainda maior de pessoas passe a utilizá-la.

É uma balança que se equilibra sozinha.

Como a AMD está tentando desenvolver modelos mais sustentáveis?

Como mencionei, quanto menor o custo de desenvolvimento de um modelo, mais pessoas se sentirão encorajadas a criá-los – o que, por sua vez, exigirá maior poder computacional. Hoje, acreditamos estar em um estágio no qual conseguimos fornecer software e hardware de forma que incentive mais pessoas a desenvolver modelos usando nossa plataforma, independentemente da vertical ou localização.

Acredito que a maneira certa de enxergar a AMD é como uma empresa de plataforma computacional com a maior diversidade de computadores. Atualmente, temos o dobro do alcance da internet, algo que ninguém imaginava ser possível tão cedo.

E, enquanto nossa estratégia de produtos estiver alinhada com as demandas do mercado, continuaremos a crescer globalmente – inclusive aqui, no Brasil, e em toda a América Latina. Por isso, acreditamos que a AMD estará mais presente do que nunca na região em 2025.

Como a AMD vê atualmente o mercado brasileiro? Podemos pensar no país como um futuro local para treinamento de inteligência artificial com infraestrutura energética limpa?

Há, sim, muito potencial. Não sei os detalhes, mas sabemos pela mídia que o governo brasileiro possui um projeto de IA que deseja implementar. Esse passo, por si só, pode impulsionar bastante o país. Acredito que, quando isso começar a funcionar, teremos o estímulo necessário para implementar a IA em território nacional.

Este é um país reconhecido por ter uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com fontes solares e eólicas. A partir disso, você sabe, existem outros custos envolvidos. As empresas estão buscando reduzir sua pegada de carbono, mas também tentando ir o mais longe possível nesse objetivo. Então, temos um dos elementos-chave. O Brasil já conta com a energia verde, mas ainda precisa equilibrar os demais custos.

Além disso, diversos países ao redor do mundo estão construindo infraestrutura para IA porque desejam manter seus dados localmente.

Falando em proteção de dados, temos observado um movimento intenso dos Estados Unidos em investimentos em IA e infraestrutura tecnológica durante o governo Trump. Como a AMD se posiciona diante disso?

O que está acontecendo ao redor do mundo gira em torno dos dados. Cada governo quer manter suas informações dentro de suas fronteiras, em sua própria plataforma de IA. Esse é o fenômeno que observamos globalmente: todos querem ter seu cluster soberano de computação para inteligência artificial, mantendo os dados sob seu domínio e gerenciando-os diretamente.

Acredito que esse movimento continuará impulsionando a demanda por dados e capacidade de processamento – e é exatamente nesse ponto que está o coração e a alma da AMD. Estamos no negócio de construir mais poder computacional. Agora, se isso vai prejudicar os negócios? Eu não sou a pessoa mais indicada para responder. Sou um profissional de tecnologia. Eu implemento soluções e posso afirmar que nosso foco está em oferecer a melhor plataforma possível para nossos clientes.

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Você estava falando sobre o novo caminho com investimentos em IA que a AMD vai seguir. Pode me contar um pouco mais sobre isso? Os próximos investimentos e o que estão desenvolvendo?

Claro! Bem, estamos no setor de semicondutores, onde fabricamos diversos componentes de processamento, seja para laptops ou outros dispositivos. E, nos últimos dois anos, temos investido intensamente na construção de GPUs que ajudam a reduzir o custo total da computação voltada para inteligência artificial.

Esse novo segmento continuará a se expandir. Seguimos investindo fortemente, com o objetivo de garantir que tenhamos o melhor poder de processamento do setor para qualquer pessoa interessada nesse tipo de solução. E isso falando apenas do hardware.

Mas, para toda essa capacidade computacional, é essencial contar com uma pilha de software robusta – e temos dedicado recursos significativos para garantir que a interação com nosso hardware seja altamente eficiente. A estrutura é muito completa, permitindo que desenvolvedores configurem o ambiente com facilidade. Apesar de sermos amplamente reconhecidos como uma empresa de hardware, nosso investimento em software é expressivo e continua crescendo.

Acredito que essa camada de software se tornará um diferencial importante para nós com o tempo, especialmente em como os usuários interagem com sistemas complexos de TI. Também é importante destacar que nossa abordagem nesse desenvolvimento é baseada em código aberto. Como nosso CEO costuma dizer, nenhuma empresa possui todas as respostas. Por isso, entendemos que toda a comunidade precisa colaborar para acelerar a inovação.

Temos visto gigantes da tecnologia como Microsoft, Amazon e Meta dedicando cada vez mais recursos ao desenvolvimento de seus próprios chips, voltados para processar grandes volumes de dados em aplicações de IA generativa. Como parte relevante desse mercado, como vocês enxergam esse movimento? Há possibilidades de parcerias futuras?

Vejo isso como uma ameaça e uma oportunidade. No passado, havia apenas uma ou duas empresas fabricando chips – era um mercado mais restrito. Com a expansão dos computadores, esse setor ganhou visibilidade. Se antes era uma indústria de, digamos, 10 bilhões de dólares, hoje estamos falando de um mercado de 500 bilhões.

É natural, portanto, que surjam novos players. Mas acreditamos que nossa plataforma, aliada ao nosso software, possui uma vantagem competitiva: oferecemos um serviço de ponta a ponta, com a maior abrangência em termos de portfólio computacional. E não vejo nenhuma empresa que consiga nos igualar nesse aspecto. Estamos presentes em laptops, servidores, inteligência artificial, defesa aeroespacial e em várias outras áreas da computação.

Por isso, acredito que o conjunto da nossa solução continuará nos diferenciando de empresas que desenvolvem produtos mais nichados, focados em resolver problemas específicos.

Atualmente, temos observado uma corrida pela computação quântica, especialmente pelo potencial de economia energética. A AMD tem planos de investir nessa tecnologia também?

Eu não sou um especialista em computação quântica. Na verdade, nunca sequer estive próximo de um sistema desses, e acredito que apenas duas empresas levaram essa tecnologia ao mercado: o Google e a Microsoft. São organizações muito respeitadas e que podem liderar bem esse caminho.

Na minha visão, desenvolver uma nova plataforma de computação leva tempo. E, segundo os especialistas, isso deve levar entre 10 e 20 anos. Portanto, essa não é uma iniciativa que esteja em nosso roteiro no momento, nem algo com que estejamos ocupados agora.

Mudando um pouco de assunto, temos visto também um crescimento nos ataques de hackers e grandes questões de cibersegurança para as empresas. Como vocês têm lidado com essa questão internamente e o que as empresas precisam desenvolver nesse quesito?

Na verdade, a segurança cibernética não é um problema recente. Ela existe desde os primórdios da internet. Há pessoas que têm como ocupação diária ser hackers, certo? Mas, sim, a inteligência artificial trouxe diversos novos elementos para a cibersegurança. É claro que os hackers agora dispõem de muito mais ferramentas por meio da IA, mas para os defensores – como nós — também há uma gama maior de recursos disponíveis para proteger a empresa.

A vantagem que ganhamos é que, antes, era muito difícil identificar pequenos problemas, porque a análise de grandes volumes de dados era bastante complexa. Agora, com o uso da IA, essa análise se tornou muito mais fácil e rápida. Isso tem nos ajudado bastante.

Muitas empresas de segurança estão investindo em inteligência artificial, e nós também estamos aproveitando essas inovações que chegam ao mercado para aprimorar a proteção de nossos ativos. Pela minha experiência ao longo da carreira, posso dizer que a cibersegurança, infelizmente, tem se tornado um problema cada vez mais sério a cada ano – e isso faz parte da realidade atual.

Precisamos simplesmente continuar aproveitando as novas ferramentas e mecanismos para melhorar constantemente e estar sempre um passo à frente dos hackers. Isso vale tanto para o ambiente corporativo quanto para a vida pessoal. Afinal, as ameaças também atingem as pessoas físicas. Portanto, da mesma forma que a IA oferece novas ferramentas aos hackers, ela também oferece aos defensores os recursos para se protegerem.

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