Por uma cultura data-driven para transpor desafios no setor elétrico
O mercado de energia elétrica brasileiro se aproxima de assistir a uma mudança de paradigma. Se tudo caminhar conforme as indicações do governo, o Projeto de Lei (PL) de reforma do setor elétrico deverá propor a abertura total de mercado até 2030. Como resultado, todos os consumidores poderão escolher seu fornecedor de energia. Às empresas cabem um olhar atento a este momento de transformação, impulsionado pela digitalização, transição energética e necessidade crescente de eficiência operacional.
A adoção de uma cultura data-driven será primordial para superar desafios de gestão de demanda, integração de fontes de energia renovável, otimização de redes de distribuição, entre outros. Tecnologia e inovação farão a diferença nessa escalada e as organizações que adotarem a democratização de dados em sua cultura organizacional terão vantagem no processo de transição energética.
A jornada pela democratização de dados e cultura data-driven apenas começou. Vamos ter ainda muitos debates sobre os caminhos a serem trilhados para que o setor de energia se torne essencialmente orientado por dados.
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A partir de troca de experiências com especialistas de tecnologia de diversos segmentos, ouso indicar três pilares centrais cruciais para uma transformação digital: gestão e governança de dados centralizada, criação de um catálogo de dados e disseminação do uso de dados e IA (Inteligência Artificial). Há de se repensar fluxos e processos e internalizar práticas endossadas por novas tecnologias para atender a futuras demandas de mercado.
Hoje, a gestão de dados no setor elétrico é fragmentada. Muitas vezes, as operações de geradoras, transmissoras e distribuidoras de energia são feitas por sistemas e bancos de armazenamento de informações separados, o que dificulta uma visão integrada de todo o sistema. Investimentos precisam ser direcionados para a centralização da governança de dados, com o uso de plataformas que agreguem variadas etapas de uma operação.
Assim, teremos ganho de eficiência com melhor previsão de demanda, otimização do fluxo de energia e resposta eficaz a emergências. Complementam esse item a implantação de padrões comuns de dados e políticas robustas de segurança cibernética.
Embora algumas empresas do setor já tenham começado a aderir catálogos de dados, muitas ainda dependem de sistemas legados e silos de informação, o que limita a capacidade de compartilhamento de informações entre departamentos e parceiros de forma eficiente. A criação de um catálogo de dados amplo e acessível a públicos internos e externos melhoraria a eficiência das companhias e a colaboração entre parceiros, além de trazer flexibilidade e resiliência à operação.
A disseminação do uso de dados e IA também será essencial para a nova configuração do setor elétrico. Trará benefícios para áreas como de manutenção preditiva, otimização de redes inteligentes – ou smart grids – e previsão de demanda.
Porém, hoje as ações ainda são tímidas, com necessidade de iniciativas mais ostensivas quanto à adoção de IA em toda a organização. Em um dos eventos de inovação que moderei recentemente, conheci a experiência da TV Globo que reduziu custos superiores a 20% com locação de veículos para gravação ao implementar uma prática orientada por dados. A emissora identificou padrões e ajustou a alocação de recursos de forma mais eficiente depois de pôr em execução uma cultura data-driven na organização.
A jornada para se tornar uma empresa data-driven não é simples. Mas, certamente, estarão mais bem posicionadas as organizações que anteciparem suas ações em um mundo mais digital, tecnológico e competitivo. A democratização de dados e o uso de IA é uma questão de cultura organizacional. No setor elétrico – mercado que está em franca expansão no Brasil –, as empresas que adotarem uma abordagem data-driven, tendem a melhorar sua própria eficiência e resiliência e, assim, contribuir para um sistema energético mais robusto e adaptável às mudanças globais.
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