Recado da Ata do Copom: corte gastos, governo federal

A Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada sempre pelo Banco Central nesta terça-feira (12) após a decisão da alteração da taxa Selic, justificou o aumento de juros por várias razões. O primeiro motivo foi a deterioração do preço de ativos (dólar e juros futuros). Essa piora está ligada ao aumento do prêmio de risco fiscal. Racionalmente, os investidores precificam esse risco nos ativos de renda fixa e no dólar. A elevação do dólar traz impactos inflacionários, e a elevação das taxas de juros dos títulos públicos e contratos de derivativos diminui a potência monetária no combate à inflação (dominância fiscal).
A segunda razão apontada pelo documento é a desancoragem das expectativas inflacionárias. Novamente, o mau humor do mercado está ligado a problemas fiscais. Se os agentes econômicos (trabalhadores e empresários) acreditarem em elevações de preço no futuro, vão se antecipar, reajustando os valores dos produtos, dos serviços e da mão de obra no presente, retroalimentando o processo inflacionário. A terceira razão apontada pelo documento é o hiato do produto positivo, ou seja, a economia brasileira estaria crescendo acima do seu nível potencial, com baixa ociosidade no mercado de trabalho e índices de atividade econômica mais aquecidos.
Nesse cenário, qualquer aumento de gasto público ou crédito subsidiado pressiona a demanda agregada acima da capacidade de oferta (produção) do país, elevando os preços. O crédito subsidiado, além do impacto inflacionário, traz um custo fiscal, pago por todos nós, e tira a eficácia da Selic no combate à inflação, ao oferecer taxas de juros abaixo do mercado.
A Ata do Copom foi bem técnica e dura, deixando clara a mensagem para o governo: não adianta o Banco Central fazer apenas a sua parte no combate à inflação se o governo não realizar a dele. A política monetária deve estar em perfeita sincronia com a política fiscal para combater a inflação e gerar crescimento sustentável. É como numa orquestra: se o instrumento fiscal não estiver no mesmo compasso do monetário, o resultado fatalmente será um ruído. Nesse caso, o ruído é a inflação elevada, ou perda de poder de compra da população.