Apoio dos EUA à Amazônia é suficiente?

A visita do presidente Joe Biden à Amazônia trouxe ao centro das atenções a questão da preservação do maior bioma tropical do planeta. Com a promessa de apoio financeiro e tecnológico dos Estados Unidos, o Brasil ganha um reforço internacional em um momento crítico, mas o sucesso dessa parceria dependerá de como ela será gerida e integrada às políticas nacionais. O desmatamento da Amazônia, embora tenha apresentado queda nos últimos meses, ainda é alarmante. Dados do INPE revelam que, em 2023, mais de 10 mil km² de floresta foram destruídos, uma área equivalente a sete vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Além disso, um estudo do Observatório do Clima aponta que, desde 1988, mais de 20% da cobertura original da Amazônia já foi perdida. Esses números mostram que a degradação é uma crise estrutural, e não episódica.
O apoio dos EUA, anunciado como uma injeção de recursos para iniciativas sustentáveis e proteção de comunidades indígenas, é um passo importante, mas está longe de ser suficiente. O Brasil, por sua vez, precisa liderar esse processo com políticas públicas robustas, maior fiscalização e incentivos econômicos para práticas sustentáveis. Somente em 2023, o corte no orçamento do Ibama afetou significativamente as operações de fiscalização, abrindo caminho para o avanço do desmatamento ilegal. Outro ponto crítico é a dependência de recursos externos. O discurso de que “não há orçamento” para preservar a floresta contrasta com os bilhões arrecadados pela exploração de commodities agrícolas, que muitas vezes estão associadas ao avanço do desmatamento. O Brasil precisa equilibrar a balança, mostrando que é capaz de proteger sua biodiversidade sem abrir mão de sua soberania.
Além disso, a parceria com os EUA precisa ir além do financiamento. Tecnologias de monitoramento, como o uso de satélites e inteligência artificial, podem ser uma grande aliada no combate ao desmatamento. Mas a aplicação dessas ferramentas só terá impacto se houver vontade política para agir contra infratores e fortalecer o papel das comunidades locais como guardiãs da floresta. A Amazônia não é apenas um patrimônio brasileiro, mas um regulador climático global. Apoios internacionais, como o dos EUA, são bem-vindos, mas é preciso garantir que essa parceria seja construída de forma colaborativa, transparente e eficiente. Sem isso, corremos o risco de transformar promessas em mais uma oportunidade perdida para a preservação do maior bioma tropical do planeta.