Accenture alerta: ‘Quem não se preparar agora, ficará para trás’ na era da IA

Era uma vez a revolução digital. Depois, veio a era da nuvem, do big data, da automação. Agora, segundo a Accenture, estamos entrando em um novo tempo: a independência da inteligência artificial. A pesquisa Technology Vision 2025, realizada pela consultoria, aponta que os sistemas de IA não são mais apenas ferramentas de apoio — estão se tornando agentes autônomos, capazes de aprender continuamente, tomar decisões e redefinir o modo como as empresas operam. Mas, para isso, um elemento se torna imprescindível: a confiança.
A pesquisa entrevistou mais de 4 mil executivos de 21 setores e 28 países, além de 12 mil consumidores, e revela que 69% dos líderes empresariais acreditam que a IA acelera a necessidade de reinvenção. Em outras palavras, os sistemas não são mais apenas projetados e operados por humanos — eles mesmos reconfiguram processos, automatizam funções e abrem espaço para novos modelos de negócio.
“Nossa pesquisa mostra o que acontece quando a IA aprende continuamente, age de forma autônoma em nome das pessoas e leva empresas a formas inéditas de se reinventar”, afirma Julie Sweet, CEO da Accenture. “O estudo também nos permite entender o nível de maturidade do mercado e os desafios específicos de cada região”, complementa Flávia Picolo, líder de tecnologia para a Accenture na América Latina, em entrevista ao IT Forum.
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Essa nova fase, no entanto, tem um entrave central: a aceitação dos usuários. Para que a IA cumpra sua promessa, as empresas precisam provar que seus algoritmos são confiáveis, justos e previsíveis. A preocupação é compartilhada por 77% dos executivos entrevistados, que veem a confiança como o fator decisivo para viabilizar os benefícios da IA. Outros 81% concordam que a estratégia de confiança deve evoluir junto com a própria tecnologia. “Os sistemas só serão tão autônomos quanto forem confiáveis”, diz Karthik Narain, executivo-chefe de Tecnologia da Accenture.
Quando a IA começa a pensar (e decidir)
As conclusões do estudo não são apenas teóricas. Em diversas frentes, os avanços já mostram que o futuro digital está se afastando do modelo tradicional de programação estática. No desenvolvimento de software, por exemplo, a IA generativa está transformando a lógica da codificação. Sistemas automatizados, como assistentes de código e agentes autônomos, permitem que mesmo indivíduos sem formação técnica criem soluções digitais personalizadas.
Esse movimento também tem impacto direto no contato entre empresas e clientes. O estudo indica que 80% dos executivos temem que os grandes modelos de linguagem (LLMs, na sigla em inglês) padronizem a comunicação das marcas, tornando-as indistinguíveis. A solução, segundo a pesquisa, está na personalização. Para se diferenciar, as empresas precisarão injetar sua identidade — valores, cultura, tom de voz — diretamente nos sistemas de IA, criando experiências interativas singulares.
E se a IA já escreve e fala, em breve ela também ganhará um corpo. O estudo aponta que os robôs generalistas, equipados com IA, se tornarão comuns nos próximos anos, capazes de aprender novas funções em ritmo acelerado. A Accenture já trabalha com a KION Group e a NVIDIA no desenvolvimento de robôs que otimizam processos logísticos em armazéns, interagindo com equipes humanas e se adaptando às necessidades do ambiente.
O Brasil ainda olha pelo retrovisor
No cenário global, o Brasil enfrenta desafios específicos quando o assunto é a adoção da inteligência artificial. Apesar dos avanços, o país ainda tem dificuldades para sair de uma mentalidade reativa e olhar para a IA como um fator estratégico. “Infelizmente, a gente ainda está olhando pelo retrovisor. Quando outros países estão discutindo como integrar a IA aos seus modelos de negócios, nós ainda estamos tentando observar como agregar valor ao negócio”, afirma Flávia.
Essa defasagem tecnológica se reflete tanto na falta de investimentos estruturais quanto na necessidade urgente de qualificação profissional. Segundo a pesquisa, 64% dos executivos brasileiros reconhecem que há um déficit significativo de talentos especializados para trabalhar com IA, o que limita a inovação.
“Precisamos entender que a IA não é apenas uma tendência, mas uma mudança de paradigma. Quem não se preparar agora, ficará ainda mais para trás”, alerta Flávia.
Segundo a executiva, o futuro da IA no Brasil depende, portanto, de um esforço coordenado entre empresas, governo e instituições de ensino. Criar políticas de incentivo à pesquisa, facilitar o acesso a tecnologias emergentes e preparar profissionais para lidar com essa nova realidade são passos essenciais para que o país não apenas acompanhe a revolução da IA, mas também tenha um papel ativo na construção desse futuro.
Um ciclo de aprendizado sem fim
Se há uma mudança de paradigma em curso, há também desafios. Um deles é a relação entre humanos e máquinas. Para 80% dos líderes entrevistados, é essencial que os avanços na IA sejam acompanhados de um esforço para manter uma interação positiva com os funcionários. O risco é que, sem uma estratégia clara de comunicação, a percepção sobre a IA seja contaminada pelo medo da automação e pela ansiedade sobre substituição de postos de trabalho.
Nesse sentido, a Accenture lançou recentemente o Generative AI Scholars Program, em parceria com a Stanford Online, para treinar clientes e preparar empresas para lidar com as novas tecnologias. A ideia é promover um processo de aprendizado contínuo, em que tanto as pessoas quanto a IA aprimoram suas capacidades ao longo do tempo. O estudo mostra que indivíduos que já estão familiarizados com IA generativa têm cinco vezes mais chance de enxergar a tecnologia de forma positiva.
Ao que tudo indica, a inteligência artificial não é apenas uma nova tecnologia, mas uma mudança de rota definitiva para o mundo digital. No centro dessa transformação, o conceito de confiança emerge como o grande fator de sucesso ou fracasso. Empresas que conseguirem equilibrar inovação e transparência terão a chance de explorar as possibilidades dessa nova era — enquanto outras podem acabar reféns de sistemas que, ao invés de parceiros, se tornem enigmas indecifráveis para seus próprios criadores.
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