Cafu, capitão do penta, é um predestinado e recordista de finais de Copa

Recentemente, fiz uma entrevista com Cafu, capitão do pentacampeonato, sobre momentos marcantes do último título mundial da seleção, em 2002. A imagem dele com a taça nas mãos ficou eternizada na memória da torcida brasileira e a palavra predestinado é a que mais se aplica ao lateral direito. O jogador, escolhido por Luiz Felipe Scolari para ostentar a braçadeira, depois do corte de Emerson, fez uma Copa brilhante e entrou para a história como o único atleta do planeta a disputar três finais consecutivas de Mundiais.

Cafu nasceu no mesmo dia em que a seleção derrotou a Inglaterra na Copa de 1970, ano do tricampeonato, no México (07.06.1970). A história dos Mundiais foi muito generosa e caprichosa com o jogador. Em 1994, nos Estados Unidos, era reserva de Jorginho, mas o titular se machucou aos 20 minutos do primeiro tempo da final contra a Itália. Com muita raça, Cafu teve um bom desempenho. Já em 1998, na França, já era titular absoluto, quando a seleção foi vice-campeã. Depois do título de 2002, seguiu como lateral incontestável e esteve em 2006, na Alemanha.

Ainda jovem, na busca pelo sonho de ser jogador, Cafu teve de passar por quase dez “peneiras”. Nascido em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, marcou época no São Paulo e no Palmeiras. No exterior, vestiu as camisas do Zaragoza, da Espanha, da Roma e do Milan, da Itália. Acompanhe a entrevista abaixo:

Memória da Pan: Para você, o que representou ser bicampeão pela seleção brasileira?
Cafu: É aquela sensação de orgulho. Ser campeão não é fácil e você ter a oportunidade de ser campeão mundial por duas vezes, poucos jogadores tiveram a oportunidade de fazer isso na história.

Memória da Pan: Você esteve presente em três finais consecutivas. É um recorde pessoal?
Cafu: O recorde é sempre muito gratificante. O recorde significa trabalho, dedicação e comprometimento. Você viu que tinha condições de, aos poucos, ir batendo esses recordes: único jogador a disputar três finais de Copa do Mundo consecutivas, 150 jogos com a camisa da seleção brasileira, 21 jogos em Copa do Mundo. Eu acho que isso individualmente é muito gratificante. Mas nada valeria sem a conquista do título.

Memória da Pan: Como era trabalhar com Felipão?
Cafu: Trabalhar com Felipão foi ótimo. A família Scolari realmente foi uma família. Nós ficamos pouco tempo juntos, mas no pouco tempo em que nós ficamos, nós éramos verdadeiros. Nós éramos uma família de verdade, um se doava para o outro, um ajudava o outro. Não existia a vaidade dentro do nosso time, dentro da nossa família. Por isso, nós tivemos sucesso, nós tivemos a Copa do Mundo.

O capitão da Seleção Brasileira, Cafu, acena para os torcedores, segurando a bandeira do Brasil

Cafu acena para os torcedores, segurando a bandeira do Brasil, após a seleção desembarcar em Brasília com a taça do pentacampeonato (Paulo Pinto/Estadão Conteúdo)

Memória da Pan: Sabemos que as seleções de 1994 e 2002 tiveram preparações muito conturbadas. Qual foi a mais difícil, a mais criticada?
Cafu: Olha, é difícil saber qual das duas foi mais criticada. Tanto 94, como 2002. Porém, tanto 94 como 2002 trouxeram muita alegria para o povo brasileiro. Mas eu acho que a de 94 foi mais criticada. Em uma campanha para uma Copa do Mundo, não existe jogo fácil. Para nós todos os jogos são dificílimos. Mas eu acho que o jogo contra a Turquia [válido pela semifinal da Copa de 2002, em que a seleção venceu por 1 a 0, gol de Ronaldo] foi complicado.

Memória da Pan: Fale um pouco sobre a recuperação de Ronaldo para a Copa de 2002. Os médicos diziam que ele corria o risco de nunca mais jogar futebol.
Cafu: Falar da recuperação e da superação do Ronaldo é muito fácil. Porque nós sabíamos o quanto o Ronaldo era importante. E nós sabíamos o quanto nós éramos importantes para o Ronaldo também. A recuperação dele deu-se exatamente por isso. Nós estávamos todos os dias pegando no pé dele, todos os dias apoiando ele, todos os dias mostrando para ele o quanto ele era forte, quanto ele ia superar. O quanto ele era importante para nós. Eu acho que o fato dele ter se recuperado em plena Copa do Mundo fez total diferença. O grupo fez a diferença para que ele pudesse se recuperar e se transformar naquele período em um dos maiores artilheiros da Copa do Mundo.

Memória da Pan: Cafu, os seus olhos brilharam quando ergueu a taça de campeão. Como foi aquele momento?
Cafu: Claro que meus olhos brilharam ao erguer a taça. Quando você vê aquele brilho daquela taça, refletindo nos seus olhos, sabe aquela sensação de que eu sou o campeão do mundo? Nós fomos campeões mundiais, nós somos campeões mundiais? Poucas pessoas tiveram a honra e o prazer de falar: ‘Eu sou o campeão do mundo’. E como capitão ainda, né? Nós tivemos cinco representantes mundiais, Dunga, Carlos Alberto, Mauro, Bellini e o “Cafuzinho”, estava lá, erguendo a taça de campeão do mundo. Que sensação maravilhosa!