Como a maternidade impulsionou Laís Xavier a transformar sua carreira

Uma mulher jovem, de cabelo comprido e escuro, está encostada a uma parede branca com os braços cruzados e um largo sorriso. Ela usa uma blusa de manga comprida cor de vinho e um colar delicado. Atrás dela, através de uma janela, vê-se vegetação e fios de eletricidade, indicando um ambiente urbano próximo à natureza.

“Foi na maternidade que eu descobri a minha potência”. É com essa fala que Laís Xavier, atual vice-presidente da Assespro estadual e CTO e cofundadora da Muda Meu Mundo, startup focada em conectada pequenos produtores com seus clientes, impacta mulheres por onde passa.

Carregando um legado na área de tecnologia, desde pequena a empresária se viu conectada com a área de exatas. Inicialmente, Laís buscou fugir da tecnologia, buscando outras engenharias, mas eram as análises de sistema que a encantavam. “Adolescente, eu não queria fazer o mesmo que o meu pai, mas não teve jeito”, conta com humor.

A disparidade entre mulheres e homens na área a impactou desde o ensino médio. Quando ingressou em uma turma para exatas, era a única mulher entre 110 estudantes. Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), foi uma das quatro mulheres a se formar em Ciências da Computação, entre 50 outros estudantes homens.

Até hoje, após ter assumido diversos cargos de liderança ao longo da carreira, ela conta que nunca foi liderada por uma mulher. No entanto, só percebeu realmente como o gênero impactava tudo ao seu redor, no primeiro emprego. “Quando eu era mais nova, não me atentava tanto o preconceito, mas a diferença salarial foi algo que me marcou muito quando comecei.”

Na época, ela trabalhava desenvolvendo APIs para a Educandus, empresa de tecnologia ligada ao setor de educação. Foram seus pares que se uniram para exigir que todos recebessem o mesmo aumento. Depois dessa experiência, tomou para si a missão pessoal de abrir caminho para outras mulheres que viriam.

Quando pergunto se ela se cansa de estar sempre na vanguarda, novamente ela traz a maternidade como impulsionador. “Tenho duas filhas e espero, sinceramente, que elas nunca tenham que passar por isso”, afirma.

Seu caminho de crescimento, apesar de rápido, foi linear entre as empresas que passou. Desenvolvedora, tech leader e gerente de TI, até decidir seguir sua outra grande paixão: empreender. Até hoje, Laís valoriza muito ter percorrido todas essas etapas e encoraja que mulheres mais novas façam o mesmo.

“Eu sempre falo que não temos que pular etapas, sabe? Fui estagiária, errei tudo o que se pode errar nessa época. Depois fui desenvolvedora júnior e todas as etapas. Porque a senioridade não tem a ver apenas com conhecimento desenvolvido.”

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Ainda assim, após cinco anos no mercado formal de tecnologia, Laís decidiu deixar o mercado corporativo para abrir sua empresa. A ideia era quase a realização de um sonho de criança. Na infância, a empresária já se projetava como CEO sem perceber, criando empresas de dança, de livros e até barraca de fogos de artifício. Após uma tentativa mal-sucedida em um projeto de desenvolvimento mobile, surgiu a Mídia Digitais, startup focada em prover tecnologia e melhorar os processos de ensino-aprendizagem em diversos segmentos.

Foi nessa época que ela descobriu sua maior potência. Laís conta que, antes da maternidade, era uma “workaholic”, mas durante seu primeiro puerpério percebeu que o foco no trabalho seria essencial para ter mais tempo de qualidade com sua filha.

“Ninguém acreditava que eu ia me afastar quando engravidei. E, depois que a minha filha nasceu, eu percebi que teria de entregar o mesmo de antes, mas com menos tempo. Então hoje, meu tempo é ultra produtivo porque eu estou renunciando a um negócio muito importante, que é o tempo com as minhas filhas.”

Na época, a executiva conta que quase não voltou a trabalhar. Foi seu sócio que percebeu a transição em que ela se encontrava e construiu uma minicreche no escritório em que eles trabalhavam, ainda pré-pandemia, quando não se pensava em sistemas home office.

Até o primeiro ano de vida de sua filha, Laís a levava para trabalhar com ela todos os dias.

A percepção na experiência pessoal também a fez ver que este é um padrão de outras mulheres. Hoje, à frente da Assespro estadual, ela criou e lidera o Tech Women, evento voltado para mulheres no setor de tecnologia em Recife e que provê todas as necessidades que uma mãe precisa para participar.

O projeto também promove a criação de uma rede de mulheres de conhecimento técnico, gerando um ecossistema perene para promover o desenvolvimento de mulheres na área do TI durante o ano inteiro.

Em 2024, o evento reuniu 1,6 mil mulheres e 96 crianças na capital de Pernambuco com acesso a transporte, alimentação e espaço kids com monitoria. “Para essa mãe poder focar, ela precisa ter certeza de que seu filho está bem cuidado.”, afirma. A projeção é que este ano o evento chegue a 2 mil mulheres.

O próprio cargo na instituição, inicialmente como presidente da Assespro municipal, veio junto com a segunda maternidade. Se a primeira filha da empresária a acompanhava até o escritório, a segunda compareceu em diversas viagens ao longo de sua carreira.

Laís foi também a primeira mulher a ocupar a cadeira na associação de mais de 40 anos. Além de sua competência, ela atribui o convite ao fato de se fazer presente o tempo todo, questionando e buscando aprender com todos os empresários que conhecia.

“Sempre montei minha carreira profissional nesse processo de aprendizado. Desde o meu estágio até o momento em que ocupava o espaço de senioridade. E, cada vez que eu subo nessa escala, vejo menos mulheres. Mulher empreendedora em TI, tem muito menos, então é importante se fazer presente.”

Munida de uma curiosidade sem fim, a empresária aproveitou a oportunidade e a proximidade com o Porto Digital, no Recife, como conselheira da organização, para aprender e gerar insights para seu novo negócio, o Muda Meu Mundo.

No entanto, até hoje ela alerta para a necessidade de a tecnologia ser utilizada com propósito. Quando se trata de inovar em um negócio, a empresária se diz cética com a prática de adotar todas as novidades do mercado e enfatiza a necessidade de questionar o objetivo que se quer alcançar.

“Tem um juramento que a gente faz, quando nos se formamos. Eu lembro até hoje do meu: nunca deixe que o brilho da tecnologia faça você cegar seus olhos. Levo isso para todas as inovações que vou implementar”, enfatiza.

Tanto na vida pessoal como na profissional, Laís valoriza a base. O conhecimento basal, os empreendimentos nas áreas de educação e em contato com os pequenos produtores, todos fazem parte de um ecossistema interno que busca prover para o mundo robustez para alcançar novos objetivos.

“Quando eu vejo, na prática, o impacto daquilo tudo que eu construí, sinto como se uma mola me empurrasse para frente”, finaliza.

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