Com R$ 5,6 bi da Meituan e mais R$ 27 bi em energia e mobilidade, China amplia aposta no Brasil

A entrada da Meituan no Brasil marca mais que a chegada de um novo concorrente ao já disputado mercado de delivery. Com um investimento de R$ 5,6 bilhões para os próximos cinco anos, a gigante chinesa consolida o avanço da China sobre o setor de tecnologia e infraestrutura digital no país, ampliando um pacote de aportes que já ultrapassa os R$ 27 bilhões e inclui mobilidade elétrica, combustíveis sustentáveis e semicondutores.
Líder em entregas na China, onde realiza mais de 30 bilhões de entregas por ano, a Meituan escolheu o Brasil como seu próximo mercado estratégico fora da Ásia. A operação local será lançada com a marca internacional Keeta, já usada pela empresa em Hong Kong e na Arábia Saudita. A companhia estrutura sua atuação por meio de parcerias com operadores logísticos e centros de atendimento — um deles, previsto para o Nordeste, deve gerar entre 3 mil e 4 mil empregos diretos.
Segundo fontes do setor, o movimento representa um desafio direto ao domínio do iFood, que concentra mais de 80% das entregas no país. Com um modelo mais amplo, que na China inclui reservas de hotéis e serviços urbanos, a Meituan deve explorar também integrações com mobilidade e comércio local, além da digitalização de pequenas empresas.
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Mais que delivery
O anúncio foi feito no mesmo momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participava de encontros com empresários em Pequim, que resultaram em uma série de novos investimentos chineses no Brasil. No total, os aportes anunciados somam cerca de R$ 27 bilhões e envolvem companhias como BYD, Envision Energy, GWM, DiDi, CGN e GAC Motor, com projetos que vão de veículos elétricos a data centers e biocombustíveis.
Entre os destaques está o projeto da GAC Motor, que planeja investir R$ 7,4 bilhões em uma fábrica de veículos elétricos e híbridos em Goiás. Já a Envision Energy, multinacional de tecnologia verde, anunciou até R$ 5 bilhões para a instalação de um parque industrial net-zero na Bahia, com produção de combustível sustentável de aviação (SAF), hidrogênio verde e amônia verde. A DiDi, controladora do aplicativo 99, também firmou compromisso para eletrificar sua frota e instalar 10 mil pontos de recarga no país.
Outros investimentos incluem R$ 3 bilhões da estatal CGN para um hub de energia renovável no Piauí, e R$ 650 milhões da Longsys em semicondutores. A lista inclui ainda aportes em logística, franquias de alimentação e biotecnologia, num sinal de diversificação da pauta de investimentos chineses no país.
Brasil e a parceria chinesa
Para o governo brasileiro, a nova rodada de investimentos é estratégica. Além de reindustrializar setores estagnados, como o automotivo e o de insumos farmacêuticos, os aportes sinalizam uma nova fase da relação bilateral com a China — agora voltada à economia verde e à transformação digital.
Em 2023, segundo dados da ApexBrasil e do Conselho Empresarial Brasil-China, os investimentos chineses no Brasil cresceram 33%, somando US$ 1,73 bilhão em 29 projetos. Mais de 70% desses aportes foram destinados a energias renováveis e infraestrutura tecnológica. Com os novos anúncios, a expectativa do governo é consolidar o Brasil como destino prioritário de capital chinês na América Latina.
*Com informações da Folha de S. Paulo
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