As 5 formas de liderar a transformação da IA, segundo Sandy Carter

Inspirada no próprio livro, “AI-first, Human Always”, Sandy Carter deu início à sua palestra na Febraban Tech 2025 falando sobre o atual momento da inteligência artificial (IA) no mundo. Para explicar sua perspectiva, a COO da Unstoppable comparou o estado da tecnologia às reproduções caseiras de pratos preparados por chefs de cozinha – boas o suficiente, mas distantes do ideal.
No entanto, para Sandy, é justamente por isso que as empresas devem investir em IA neste momento. O início do que ela considera ser a maior revolução da história humana precisa ser acompanhado de perto, defende. “Esse é o momento de embarcar e, mesmo que seja mais difícil para o setor financeiro, testar o que existe por aí.”
A dificuldade vem das rígidas regulações do setor, o que acabou criando o ambiente ideal para o surgimento das fintechs, que contam com mais liberdade para inovar. De acordo com Carter, apesar de apenas 20% das empresas apresentarem resultados satisfatórios na implementação da IA, esse número sobe para 40% quando se trata das fintechs.
Além de incentivar a experimentação de novas tecnologias, a COO afirmou desejar que as instituições percebam a capacitação em IA de todos os seus colaboradores como um diferencial competitivo. “Na Unstoppable, todo mês eu destino um orçamento para que todos os profissionais usem e testem IA, porque é importante que todos compreendam a dimensão dessa transformação.”
A executiva afirmou ainda que, para estar na vanguarda da transformação digital, são necessários cinco princípios de liderança. São eles:
1. Liderar com visão e não com hype
Mesmo defendendo a adoção da inteligência artificial nas companhias, Sandy reforçou a importância de compreender se, e de que forma, a tecnologia auxilia no cotidiano de cada empresa, em vez de adotá-la apenas por modismo. “Precisamos pensar em como a IA pode ajudar as corporações nos bastidores, nas pequenas tarefas rotineiras que muitas vezes passam despercebidas, mas que nos atrasam.”
Como exemplo, a COO mencionou o uso da IA para empacotar produtos na Amazon e a personalização proporcionada pela tecnologia na Netflix. Ela afirmou ainda que os projetos que acompanhou, enquanto conselheira e pesquisadora, só foram bem-sucedidos porque contaram com a participação ativa de pessoas no acompanhamento do processo de desenvolvimento.
Assim como a IA foi criada para atuar como um agente invisível, o processo de implantação também envolve diversas ações nos bastidores. Carter destacou três etapas essenciais: começar pelo básico, definir um objetivo que traga benefícios reais para o negócio e realizar uma checagem da realidade dos dados da empresa. “Antes de iniciar qualquer projeto, é necessário fazer uma verificação da sua realidade de dados e entender se eles são compatíveis com aquilo que você pretende criar.”
2. Criar confiabilidade na inteligência artificial
A importância de o consumidor confiar nas tecnologias utilizadas é alta em muitos setores, mas, no financeiro, torna-se ainda mais crucial. Com o aumento de ciberataques e fraudes criadas e ampliadas por meio da IA, o público acaba acreditando em mentiras e desconfiando de verdades. Por isso, Sandy afirma que o segundo princípio para liderar a mudança está em construir essa confiabilidade – não apenas junto aos clientes, mas também entre os colaboradores.
No que diz respeito à confiança, segundo um estudo realizado pela Edelman em 2025, o Brasil se encontra em um ponto de virada significativo. Atualmente, 52% dos brasileiros confiam no uso da inteligência artificial. Em países como Índia e China, essa média ultrapassa os 70%.
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De acordo com Carter, garantir essa confiabilidade será um diferencial competitivo para as empresas daqui em diante. Para isso, a executiva sugere que as organizações comecem internamente – como fez o Banco do Brasil, por exemplo, que iniciou seu AI Guideline há quatro anos, abrangendo não apenas os modelos utilizados, mas também o uso responsável dos dados.
3. Agentes de IA ativos
Quando se fala em experiência do cliente, é chegada a hora de as marcas pensarem além, afirma Carter. Isso porque o cliente não se resume apenas ao consumidor na ponta final da esteira, mas também aos agentes envolvidos nas transações. “Estamos falando de uma geração de negócios B2A – business to agent – e até A2A – agent to agent. E, no Vale do Silício, já existem pelo menos dez companhias trabalhando no desenvolvimento dessa tecnologia.”
Um exemplo dessa inovação é o Walmart. Em maio deste ano, a companhia anunciou que está criando seus próprios agentes de IA para realizar compras em nome dos consumidores. Ao divulgar a novidade, Hari Vasudev, diretor de tecnologia da empresa nos Estados Unidos, afirmou que “a publicidade terá que evoluir e focar em anúncios que atraiam os algoritmos, em vez dos humanos”.
Ao observar o sistema financeiro, Sandy afirmou que a onda de inovação com agentes não será diferente, com assistentes virtuais pagando contas e fazendo investimentos em nome dos usuários. No entanto, segundo a executiva, as organizações do setor correm um sério risco de ficarem desatualizadas. “Eu vejo muitos projetos de agentes voltados para operações internas, mas não para as externas, e é preciso observar a fricção que pode surgir devido a esse gap na experiência do cliente.”
Para colocar esse princípio em prática, na própria empresa, a COO desafia os colaboradores a criarem agentes de IA em diferentes ferramentas e testarem seus usos tanto no ambiente profissional quanto na vida pessoal. Diante da previsão de que, até 2027, teremos uma economia A2A, ela deseja que cada integrante de sua equipe possua um agente até dezembro deste ano.
4. O redesenho da força de trabalho
Muito se fala sobre o medo de a inteligência artificial acabar com determinados empregos. No entanto, pouco se discute sobre como as empresas estão se posicionando diante dessa realidade. Como empregadora, Carter sugere que as organizações preparem seus colaboradores para deixar de fazer perguntas como “Como eu uso a IA para tornar o meu trabalho mais rápido?” e passem a refletir: “Qual pode ser o meu papel quando a IA passar a executar as tarefas do dia a dia?”
Durante sua apresentação, a executiva exibiu uma projeção de 92 milhões de empregos que poderão ser extintos com o avanço da nova tecnologia, enquanto outros 170 milhões serão criados a partir dela. No entanto, segundo ela, esses não são os números mais relevantes. “Muitas pessoas não prestam atenção na zona cinzenta, que corresponde a 1.090 milhões de cargos que continuarão existindo, mas transformados em funções realizadas por humanos + IAs.”
Para Carter, o futuro está na união de forças entre a tecnologia e o ser humano, reforçando que as pessoas sempre terão um papel central na sociedade.
5. Liderar a mudança com arquiteturas de um futuro AI-first
Para conectar as duas pontas de sua apresentação Sandy Carter retomou a necessidade de liderança dentro das empresas, mas desta vez sob um outro prisma: a forma como as empresas criam as arquiteturas para serem encontradas.
Atualmente, para serem encontradas e se posicionarem nos buscadores, as companhias se adequam ao sistema SEO, no entanto, com a chegada da IA generativa, e big techs como o Google embarcando a tecnologia em suas plataformas, uma nova estratégia se fará necessária.
“Precisamos começar a pensar no GEO (generative engine optimization). Já existem empresas com o DBS, JP Morgan Chase e até o Itaú Unibanco, que estão fazendo essas adequações. Isso é estar na vanguarda do que vem por aí”, finalizou.
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