Conectividade: habilitadora de novos negócios
Por Hermano Pinto (*) – A conectividade deixou de ser “apenas” um serviço essencial para a população e passou a ocupar um papel estratégico como habilitadora de novos negócios para empresas de todos os portes e segmentos de mercado. No Brasil, esse movimento se intensificou nos últimos anos, com a filosofia de universalização do acesso à internet, que levou ao avanço das redes de fibra óptica, à massificação da internet móvel e à chegada das conexões 5G.
Nesse cenário, velocidade, estabilidade e cobertura se transformaram em ativos indispensáveis para a inovação, a eficiência e a competitividade empresarial. Uma verdadeira revolução, que vem ocorrendo de forma silenciosa, mas muito perceptível para quem está atento.
Segundo a Anatel, a penetração da fibra óptica no país já atinge cerca de 49% dos domicílios, praticamente o dobro do índice observado nos Estados Unidos, mercado que sempre foi considerado por nós uma referência tecnológica. O avanço formidável do Brasil é resultado de uma rede mais nova, que optou diretamente pela tecnologia óptica, ao contrário do modelo americano, ainda muito dependente do cabo coaxial e de conexões sem fio tradicionais.
O número de acessos à internet também segue uma trajetória ascendente. Segundo a Anatel, o Brasil superou a marca de 45 milhões de contratos de banda larga fixa em 2024, com um crescimento anual acima de 10% nos últimos anos. Na banda larga móvel, são mais de 250 milhões de acessos, impulsionados pela expansão do 4G e, mais recentemente, pelo início da operação 5G nas principais capitais do país.
Além da quantidade, a qualidade da conexão também evoluiu. A velocidade média da banda larga fixa no Brasil ultrapassou 200 Mbps em 2024, colocando o país entre os líderes da América Latina nesse quesito. O salto de performance tem um impacto direto na capacidade das empresas de inovar, operar em nuvem, adotar ferramentas de Inteligência Artificial e integrar cadeias produtivas mundiais. Não é nenhum exagero dizer que os avanços na conectividade capacitam o Brasil a competir globalmente.
Com isso, a conectividade habilita diversas tendências que estão redefinindo a forma como as empresas operam e inovam:
- Internet das Coisas (IoT): a expansão da cobertura e o aumento da velocidade viabilizam a adoção massiva de sensores, dispositivos inteligentes e automação em setores como indústria, agricultura e cidades inteligentes.
- Computação em nuvem: o desenvolvimento de conexões mais rápidas e estáveis permite que empresas de todos os portes migrem sistemas, dados e operações para a nuvem, ganhando flexibilidade e escalabilidade enquanto reduzem custos.
- Trabalho remoto e colaborativo: a conectividade robusta permite que equipes trabalhem de qualquer lugar, com acesso seguro a sistemas corporativos e ferramentas de colaboração em tempo real.
- Experiência do cliente: segmentos como varejo, entretenimento e educação podem investir em experiências digitais personalizadas, streaming de alta qualidade, Realidade Aumentada e atendimento omnichannel – todos recursos que dependem de alto desempenho das conexões.
- Cibersegurança: com o aumento da superfície de ataque digital, cresce a demanda por soluções integradas de segurança, de firewalls até o monitoramento em tempo real e a resposta a incidentes.
Conectividade: não mais uma atividade-fim
Historicamente, a conectividade era vista como um fim em si mesma: o importante era entregar acesso à internet para o maior número possível de pessoas. O que aconteceria depois disso era outra questão. Esse paradigma, porém, está sendo superado. Tanto no Brasil quanto no exterior, já está claro que a conectividade é, na verdade, um meio para viabilizar novos modelos de negócios, aumentar a eficiência operacional e criar diferenciais competitivos.
O setor passa por um ciclo de amadurecimento, com redução do crescimento de novos clientes e um avanço das receitas de conectividade abaixo da inflação. Esse contexto faz com que as operadoras busquem alternativas para agregar valor aos seus serviços, indo além do simples fornecimento de banda. Como consequência, tem havido uma oferta crescente de soluções que envolvem consultoria, integração de sistemas, segurança cibernética, garantia de qualidade e customização para as necessidades específicas de cada cliente.
O desafio da monetização do 5G é emblemático. Apesar das promessas de transformação, ainda há dificuldade em vender o serviço de forma ampla, uma vez que muitos modelos de negócio permanecem ancorados no passado. O futuro aponta para parcerias mais profundas, em que a operadora ou integrador se torna sócio do cliente no ganho de eficiência e na inovação proporcionados pela conectividade. Dessa forma, o risco percebido pelo cliente é minimizado e existe um estímulo a sair da inércia.
No exterior, já é possível observar exemplos concretos desse movimento. Grandes operadoras, como a Orange, na Europa, criaram empresas dedicadas para atender setores específicos, como portos, com soluções customizadas e participação nos resultados. No Brasil, esse modelo começa a ganhar tração, especialmente em setores como agronegócio, indústria 4.0 e logística.
Outro movimento nascente é o surgimento de novos players, como integradores e operadoras virtuais que investem em infraestrutura, assumem riscos e oferecem soluções sob medida. Em muitos casos, em uma abordagem realmente ganha/ganha, realizando investimentos upfront e tendo sua remuneração baseada em indicadores de desempenho (KPIs) definidos com o cliente.
Conectividade Significativa: hora de agregar valor
Com a expansão do acesso à internet, o conceito de “Conectividade Significativa” ganha força. Não se trata apenas de conectar, mas de entregar aquilo que é relevante para cada cliente ou segmento. Para uma indústria, pode ser a garantia de baixa latência e alta disponibilidade para a automação de processos. Para o agronegócio, podemos estar falando da cobertura em áreas remotas e da integração de sensores de campo. Já para o varejo, a capacidade de suportar picos de acesso em datas promocionais.
A personalização do serviço, aliada a uma consultoria especializada, permite que empresas extraiam o máximo valor da conectividade, transformando-a em diferencial competitivo. Para que isso aconteça, é necessário entender as necessidades específicas de cada negócio, dimensionar corretamente a infraestrutura, garantir a segurança dos dados e oferecer suporte proativo.
O fato é que, hoje, a conectividade é um dos principais motores da inovação empresarial. Ela viabiliza a adoção de tecnologias disruptivas, a integração de cadeias produtivas, a automação de processos e o acesso a mercados globais. Empresas que investem em conectividade de qualidade têm mais chances de inovar, crescer e se adaptar às mudanças do mercado.
(*) Hermano Pinto é diretor do Portfólio InfraTech da Informa Markets Latam e responsável pelo Futurecom.
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