Derrota brasileira na final da Copa de 1998 ainda gera discussão e polêmica

Quando se fala na final da Copa de 1998, em 12 de julho, a torcida brasileira até hoje se pergunta: e se Ronaldo não tivesse passado mal horas antes da partida? O caso envolvendo o jogador ainda gera inúmeras especulações. Surgiram teorias conspiratórias de que a patrocinadora de material esportivo teria exigido a escalação de Ronaldo e até de que o Brasil teria “vendido” o jogo para a França, a dona da casa. O mundo do futebol ficou surpreso ao saber que Edmundo, e não Ronaldo, estava relacionado pelo técnico Zagallo para a partida final. Começaram a surgir as primeiras informações de que o camisa 9 do Brasil tinha sofrido uma convulsão horas antes da partida. Os médicos da seleção desaconselharam que ele fosse escalado.

Ronaldo estava dormindo quando teve a convulsão, mas acordou como se nada tivesse acontecido. Ele queria jogar. O “Fenômeno” foi liberado pelo técnico Zagallo, depois de insistir para que o treinador o colocasse em campo. E se tivesse jogado Edmundo? Durante a partida, era nítida a preocupação dos atletas brasileiros com o estado de saúde de Ronaldo. Aquele episódio abalou a seleção, que sofreu uma derrota histórica por 3 a 0. Nunca o Brasil tinha perdido um jogo de Mundial por uma diferença de três gols. E mais: foi o primeiro placar de 3 a 0 em uma decisão de Copa. O carrasco Zidane fez dois gols de cabeça: aos 27 e 46 minutos do primeiro tempo.

Na etapa final, o time de Zagallo melhorou, mas não conseguiu reagir. Edmundo entrou no lugar de César Sampaio e Denílson substituiu Leonardo. Petit sacramentou a vitória histórica e o título inédito da França aos 47 minutos da etapa final. Didier Deschamps ergueu a taça. A Champs-Élysées foi tomada e os nomes dos campeões foram projetados no Arco do Triunfo.

O jornalista Jorge Caldeira, autor do livro Ronaldo – Glória e Drama no Futebol Globalizado, desmente a teoria da convulsão. Ronaldo teria apresentado sintomas de terror noturno, um distúrbio do sono que provoca contrações na face e no qual o paciente pronuncia palavras desconexas. Segundo o jornalista, desde pequeno o jogador sofria desse problema. Já César Sampaio dá outra versão. Ele diz que Ronaldo não passou mal dormindo, mas enquanto estava no banheiro usando uma máquina para raspar o cabelo. O jogador começou a ter uma convulsão, foi colocado na cama e, depois, quando acordou, não se lembrava de mais nada.

Em entrevista ao SporTV, Zico, auxiliar de Zagallo na seleção, relatou: Depois do almoço, eu fiquei conversando com o Gilmar e o Evandro Mota. O papo era tão bom que esquecemos do horário. Quando eu olhei, eram quase 16h. Eu fui tomar banho porque daqui a pouco tem o jantar. Quando eu estava passando, me avisaram: ‘É melhor você ir no quarto do Ronaldo, porque está acontecendo alguma coisa lá.’ Já tinha rolado muita coisa. Quando eu cheguei, na porta, o Ronaldo estava na cama. O Roberto Carlos estava assustado, olhando. Eu perguntei para o doutor Da Matta se estava tudo bem. O Ronaldo deitou, e dormiu de novo. Eu fui para o meu quarto, tomei banho e voltei. O Ronaldo parou na porta do restaurante e o fez como se fosse aquecimento. Eu perguntei: ‘Ronaldo, você está se aquecendo agora?’ Ele respondeu: ‘Não sei o que aconteceu comigo, parece que eu levei uma surra.’ Eu pensei: ‘Ele não sabe que teve uma convulsão’”.

Zico também reproduz a conversa de Ronaldo com o médico Lídio Toledo: “O Ronaldo estava falando: ‘Lídio, eu joguei a Copa inteira, quero jogar.’ Lídio perguntou: ‘Você está bem, mesmo?’ O Ronaldo respondeu que sim e o Zagallo liberou. Não tinha outra alternativa. O médico o vetou às 17h30m e às 20h, não falou nada. Então, ele foi jogar”

Na entrevista coletiva, depois do jogo, Zagallo se irritou com o repórter Mauro Leão do jornal carioca O Dia. Antes mesmo das perguntas, o jornalista questionava a escalação de Ronaldo. Irritado, Zagallo respondeu: “Entrou porque entrou. Você quer baixar o nível, quer aparecer? Estou aqui porque sou homem, vocês devem muito a mim. Sou homem, tenho dignidade, moral. Precisa ter educação com os franceses aqui”. Parte da crítica o considerava ultrapassado, mas ele deixava claro: “Não vou parar”. Zagallo saiu da seleção depois da Copa. No entanto, ainda voltaria para ser auxiliar de Parreira em 2006, na Alemanha.

FRANÇA 3 × 0 BRASIL – Saint-Denis – 12.07.98

Brasil: Taffarel; Cafu, Júnior Baiano, Aldair e Roberto Carlos; César Sampaio (Edmundo), Leonardo (Denílson), Dunga, Rivaldo; Ronaldo e Bebeto.
França: Barthez, Thuram, Desailly, Leboeuf, Lizarazu, Deschamps, Petit, Karembeu (Boghossian), Djorkaeff (Vieira), Zidane e Guivarc’h (Dugarry)
Árbitro: Said Belqola (Marrocos)
Gols: Zidane (aos 27 e aos 46) no primeiro tempo; Petit (47) na etapa final.

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