Tarifaço de Trump ao Brasil vira jogo de empurra-empurra entre governo e oposição

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto desencadeou um intenso jogo de empurra-empurra na política brasileira. De um lado, o governo Lula e seus aliados acusam o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua família de articularem a medida. Do outro, a oposição bolsonarista atribui a responsabilidade ao atual governo, criticando sua política externa e o alinhamento com blocos como os Brics.
Para o governo, o aumento das tarifas é resultado direto de uma articulação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Parlamentares governistas, como a deputada Erika Hilton (PSOL-SP), classificaram os Bolsonaro de “traidores da pátria”, argumentando que eles seriam corresponsáveis pela incerteza econômica que pode atingir as famílias brasileiras. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT-SP), reforçou a acusação, afirmando que Bolsonaro e Eduardo estariam “atiçando Trump contra o Brasil para tentar se livrar da cadeia”.
Essa narrativa governista baseia-se na atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, onde ele se licenciou do cargo de deputado para, segundo ele mesmo, “apresentar, com precisão, a realidade que o Brasil vive hoje” a autoridades do governo Trump, buscando inclusive sanções a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A lei brasileira de reciprocidade econômica, já aprovada pelo Congresso, é vista por governistas como um meio legal para responder “proporcionalmente” às ameaças de Trump.
Em contrapartida, a oposição bolsonarista adota um discurso de crítica à atuação diplomática do governo Lula. Segundo o deputado Eduardo Bolsonaro, o alinhamento do atual governo com os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) contribuiu para o agravamento da situação. “A brincadeira de Lula nos Brics vai sair caro para todos os brasileiros”, questionou, em referência à recente cúpula do grupo.
Governadores alinhados a Bolsonaro, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União-GO), também responsabilizaram Lula. Tarcísio de Freitas afirmou que “Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”. Filipe Barros (PL-PR), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, defendeu que “a culpa é exclusivamente do presidente Lula”, desvinculando a tarifa das ações de Eduardo Bolsonaro e associando-a às declarações de Lula na cúpula dos Brics sobre uma nova moeda de comércio internacional.
Cenário político e influência nas eleições
A briga em torno do “tarifaço” de Trump tem potencial para influenciar significativamente a política brasileira, especialmente com as próximas eleições no horizonte. Analistas políticos avaliam que, embora a polarização possa limitar o impacto em eleitores mais fiéis, interferências externas costumam fortalecer sentimentos nacionalistas, o que poderia beneficiar o governo Lula ao permitir que este enquadre a retaliação como um ataque à soberania nacional.
Imagens de políticos bolsonaristas usando o boné “Make America Great Again” de Trump podem gerar paradoxos na percepção do eleitorado, que, apesar de abraçar o nacionalismo, pode questionar a lealdade de quem apoia um movimento estrangeiro em detrimento dos interesses nacionais. O governo Lula, ao convocar uma reunião de emergência e defender a Justiça brasileira, tenta capitalizar o sentimento de defesa da soberania, usando a Lei de Reciprocidade Econômica como instrumento de resposta. A capacidade do governo em unificar sua narrativa e transformar a situação em um ponto favorável será crucial nos próximos meses.
Publicado por Felipe Dantas
*Reportagem produzida com auxílio de IA