‘Zema separatista’ e a fábrica petista de histéricos

Acreditem se quiser, segundo a esquerda, Zema se tornou uma espécie de neonazista nesta última semana ‒ o Brasil, definitivamente, não é para amadores. O que ele fez para tal? Cogitou a ideia de criar um consórcio de Estados do Sul e Sudeste, geridos por uma visão governamental mais liberal. Obviamente, e nem precisaria notar, em contraponto ao consórcio esquerdista que há no Nordeste desde 2019. O desafio aqui, no entanto, está em encontrar uma só crítica midiática ao consórcio comunista nordestino, esse, por sua vez, criado inicialmente por Flávio Dino (Maranhão), Rui Costa (Bahia) e Camilo Santana (Ceará) ‒ todos hoje ministros no governo Lula. Quando o consórcio nordestino nasceu, a fim de angariar investimentos estatais alinhados ideologicamente ao esquerdismo de matriz petista e pcdbista, além de canalizar forças políticas no Congresso com o intuito de passar pautas de interesse daquela região, não surgiu nenhuma análise julgando aquele conglomerado como se fosse qualquer força separatista ou xenofóbica ante o Sudeste e Sul brasileiro. Pelo contrário, a patota jornalística apenas se calou indiferente, ou aplaudiu por impulso, naquele bom e velho “puxassaquismo” típico das turbas alienadas.

Conheço pessoalmente Romeu Zema, estive com ele em Belo Horizonte há poucos meses. Julgar Zema como “radical liberal” ou “radical de direita” já seria de um exagero fulcral; apesar de ser um confesso liberal clássico, quando libertários ou conservadores perturbados se aproximam dele é fácil notar o seu desconforto, seguido de uma prudência redobrada nas falas e postura. Esta semana vi inúmeros tuítes o relacionando a forças conspiradoras de cunho fascista, por vezes buscando relacionar seu suposto anseio separatista a uma demanda de pureza racial ‒ ou regional ‒ quase que de cunho nazista. Se torna interessante notar, então, como os adjetivos atualmente são tão facilmente usados como munições em uma guerra de narrativas bisonha. Hoje, sob o progressismo, quando a luta ideológica sobrepõe à sanidade psicológica mais básica, qualquer desapontamento pessoal ou discordância política faz surgir do ralo mais próximo um novo “Hitler” a ser malhado na timiline do Twitter e no MASP ‒ a sobriedade que sofra. Tudo isso é, para os sãos, bizarro e assustador de muitas maneiras. Repito: bizarro! Banalizar extremismos, a fim de ganhar um debate corriqueiro, é típico dos histéricos que habitam manicômios e, com os impulsos políticos certos, cometem crimes em nome da causa. 

Outra coisa assustadora, mas paradoxalmente comum em nossos dias, é o fato de que, sem nenhum histórico que denote quaisquer anseios, ou sequer boatos longínquos que poderiam ser pintados como indícios claros, quase todos os analistas brasileiros acreditaram na narrativa de que Zema realmente queria partir o Brasil em dois. Ou que a construção de um consórcio político-econômico entre Sudeste e Sul seria com o fim de “escravizar” e afastar os nordestinos do lado de cá do Brasil geográfico. É sério? Eric Voegelin, destacado intelectual austríaco ‒ talvez o filósofo político mais proeminente do século passado ‒, já dizia que a ideologização do debate público invariavelmente gera para as sociedades análises superficiais e toscas. Quando essa ideologização se torna comum até mesmo para as mentes que naturalmente deveriam tomar as rédeas da prudência racional, aí temos a alienação grupal e a histeria coletiva.

Zema não quer dividir o país, muito menos está buscando qualquer apoio separatista, ele está tão somente unindo interesses políticos e econômicos de governadores que professam minimamente as mesmas convicções, tal como fez Dino, Costa e Santana, em 2019, no Nordeste. Repetir convictamente esta propaganda neosoviética de desinformação e difamação pública, sem o mínimo de ceticismo analítico, é um belo atestado de patetice e loucura. E, sim, se você realmente acreditou que Zema, de uma hora para outra, encarnou uma espécie de separatista neonazista, parabéns, você está neste exato hall dos toscos abobalhados.