Resultados das pesquisas acendem luzes amarelas e assustam o governo
Por que o governo deveria ficar preocupado com o resultado das pesquisas, se falta tanto tempo para as eleições presidenciais? Embora 2026 esteja bem distante, e em política tudo pode acontecer de um dia para o outro, há dois aspectos que precisam ser considerados: as eleições deste ano e a dificuldade para o presidente reverter sua queda de popularidade. As eleições do dia 6 de outubro, ou 27 do mesmo mês, caso haja segundo turno, vão eleger prefeitos e vereadores. Aparentemente elas não têm nada a ver com o desempenho da atual gestão do país. Afinal, nesse tipo de disputa, o eleitor quer saber se a rua será asfaltada, se as avenidas receberão iluminação, se o córrego será canalizado.
Lula x Bolsonaro
Na verdade, governo federal e municípios estariam distantes se as campanhas municipais caminhassem com suas próprias pernas. Não é o que está acontecendo. Desde o princípio, tanto Lula quanto Bolsonaro deixaram claro que vão entrar pessoalmente nessa disputa. Principalmente nas grandes cidades, onde o eleitorado é mais robusto, a luta será bem acirrada. Em São Paulo, por exemplo, o apadrinhado do chefe do Executivo, Guilherme Boulos (PSOL), vinha mantendo boa margem à frente nas pesquisas. Dava a impressão de que, com um pequeno sopro de Lula, essa prefeitura já estaria no papo.
Nesta semana houve uma reviravolta. Com o resultado das últimas pesquisas do Datafolha, a esquerda passou a vislumbrar uma perturbadora luz amarela. Ricardo Nunes pôs as manguinhas de fora e conseguiu um surpreendente empate técnico. Boulos está com 30%, e Nunes, 29%. A derrota de Boulos significaria uma contundente perda de prestígio do presidente.
Ilustres desconhecidos
Temos de lembrar que Nunes é o atual prefeito e está com a máquina nas mãos. Será mais fácil para ele mostrar a cara. Tornar-se conhecido será fundamental nessas eleições, já que a pesquisa Datafolha constatou que 15% do eleitorado não conhecem Nunes e 17% desconhecem Boulos. E mais, em resposta espontânea, 60% do eleitorado disseram não saber o nome dos candidatos. Se for considerado o eleitor de renda inferior a dois salários mínimos, esse índice sobe para 68%. Ou seja, você é o famoso quem?
E assim nas outras capitais. Bolsonaro está com o pé na estrada. Em todos os lugares que visita é acompanhado por multidões. É como se ele estivesse buscando votos para si próprio. Não adianta os analistas dizerem que os eleitores afirmam rejeitar os candidatos apoiados pelo ex-presidente. As ruas mostram realidade distinta.
Uma nova facada
Se em 2018 a facada deu a Bolsonaro os votos de que precisava para vencer as eleições e chegar ao Palácio do Planalto, o sentimento que toma conta da população hoje, de que ele sofre perseguição injusta, pode, mais uma vez, fazer a diferença nas urnas. Ninguém consegue afirmar com segurança, mas, se impedirem Bolsonaro de circular pelo país em busca de votos para os candidatos do PL (Partido Liberal) e agremiações aliadas, talvez seja ainda pior para os seus adversários. Se as pessoas cristalizarem essa sensação de injustiça, nada impedirá que votem nos indicados pelo ex-presidente.
Desaprovação de Lula
A segunda questão é a vertiginosa queda de popularidade de Lula. Segundo a pesquisa divulgada pela Atlas/Intel, do dia 7 deste mês, a situação do presidente piorou muito. A sua reprovação passou de 43% para 46%, enquanto a sua aprovação passou de 52% para 47,4%. O pior é que, mesmo mostrando números mais positivos na economia, a percepção do eleitorado segue na direção oposta. O governo diz que a inflação está sob controle, mas não é o que mostra a conta do supermercado nem a bomba de combustível. As declarações infelizes do presidente sobre os acontecimentos que se desenrolam além de nossas fronteiras, como nos casos da Ucrânia, Israel e Venezuela, têm peso preponderante nos números levantados pelas pesquisas. Outra pedra no sapato de Lula é o caos na segurança pública. Essa é a pior avaliação recebida.
As dificuldades de articulação do Executivo com o Congresso também constituem um grave empecilho. Afinal, como dar andamento aos projetos se há resistência na Câmara e no Senado? Por essas e por outras o governo anda assustado com o resultado das pesquisas. Justamente agora, no momento em que Lula precisava mais de respostas positivas da população, seu prestígio ruma ladeira abaixo. Há uma boa estrada para chegar até 2026, mas as eleições de 2024 estão ali na esquina. E, pelo que tudo indica, para ter sucesso lá, antes precisaria dar passos seguros agora na largada. Siga pelo Instagram: @polito.