Acordo bilionário de IA entre Microsoft e G42 enfrenta dilemas de segurança nacional

Em maio, a Microsoft e a G42, uma empresa de inteligência artificial dos Emirados Árabes Unidos (EAU), anunciaram um ambicioso plano de investimento de US$ 1 bilhão em projetos no Quênia, incluindo a construção de um centro de dados geotérmico.
O acordo, negociado com contribuições dos governos dos EUA e dos EAU, foi revelado durante um encontro de cúpula em Washington entre o presidente Joe Biden e o presidente queniano William Ruto. No entanto, o futuro desta parceria está sob ameaça devido a crescentes preocupações de segurança nacional em Washington.
Autoridades americanas temem que a dependência da Microsoft, dos EAU e da G42, que anteriormente mantinha laços estreitos com empresas chinesas, possa comprometer a segurança dos EUA.
Uma condição fundamental do acordo é que a G42 corte completamente seus vínculos com empresas chinesas em troca de um investimento de US$ 1,5 bilhão da Microsoft. No entanto, o Pentágono permanece cético quanto à capacidade da G42 de cumprir essa exigência, conforme fontes próximas ao assunto relataram à Bloomberg.
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Para que a parceria tenha sucesso, é fundamental que os funcionários do governo apoiem a iniciativa, garantindo assim a obtenção da tecnologia necessária.
Porém, as preocupações estão crescendo em Washington devido às falhas crônicas de cibersegurança da Microsoft, recentemente destacadas em um relatório governamental severo, o que levanta o receio de que potências estrangeiras possam acessar redes sensíveis dos EUA.
Além disso, segundo a reportagem, há inquietações relacionadas à exportação dos chips Nvidia H100 para o Oriente Médio, onde são usados em centros de dados de IA. Para alguns oficiais, isso representa uma questão comparável à proliferação nuclear, dada a importância estratégica desses semicondutores na “corrida armamentista de IA”.
O acordo com a G42 é visto como um potencial modelo para parcerias público-privadas que poderiam ajudar os EUA a expandir sua influência política e econômica no Sul Global, em mercados emergentes da África e da Ásia Central, onde a China já possui uma forte presença. “Estamos trabalhando de perto com o Conselho de Segurança Nacional e o Departamento de Comércio, e a segurança nacional dos EUA continuará sendo uma prioridade principal”, afirmou David Cuddy, Porta-voz da Microsoft, em uma declaração por e-mail à Bloomberg.
No entanto, o Quênia, escolhido como base inicial da iniciativa devido à sua população jovem e crescente ecossistema tecnológico (apelidado de Silicon Savannah), enfrenta desafios significativos. Embora muitos esforços tenham levado à aproximação do governo americano com talentos e negócios quenianos, a corrupção, a lavagem de dinheiro, e a infraestrutura inadequada são obstáculos que complicam a operação das empresas americanas no país.
Além das questões internas do Quênia, a Microsoft e a G42 precisam competir com a influência chinesa na região. Empresas chinesas como Huawei e ZTE, apoiadas pelo governo de Pequim, têm oferecido empréstimos estatais e assistência técnica para construir infraestruturas digitais em países do Sul Global, como o Quênia, tornando a concorrência mais acirrada.
Enquanto isso, a administração Biden, assim como gestões anteriores, continua criando parcerias com grandes empresas para ampliar sua influência geopolítica, promovendo corredores econômicos para gerar empregos e investimentos. Porém, esses esforços ainda não rivalizam com os investimentos chineses em países em desenvolvimento.
Um exemplo é o Corredor Econômico Índia-Médio Oriente-Europa (IMEC), que recebeu pouca atenção após os ataques de 7 de outubro. Biden também apoia o Corredor do Lobito, na África, mas é criticado por focar mais na extração de recursos do que em negócios sustentáveis, aponta a reportagem.
Em 2022, os EUA restringiram a venda de chips avançados para a China e expandiram essa medida para incluir grande parte do Golfo no ano passado. Segundo as fontes ouvidas pela Bloomberg, funcionários do Departamento de Comércio têm dialogado com colegas nos Emirados Árabes Unidos e outros países afetados sobre licenciamento de exportação para chips de alta qualidade, como os da Nvidia, e estratégias para proteger tecnologia sensível.
O governo dos EUA está considerando várias medidas para garantir a segurança da tecnologia exportada, incluindo o uso de auditores terceirizados e a implementação de controles rigorosos nos centros de dados. Nos últimos meses, a G42 contratou uma auditoria independente para verificar o cumprimento das condições do acordo, embora haja preocupações sobre possíveis conflitos de interesse devido às altas somas envolvidas.
Agora, enquanto a Microsoft e a G42 enfrentam pressão para proteger esses chips em seus centros de dados e remover equipamentos chineses de suas cadeias de suprimentos, há preocupações crescentes no Congresso dos EUA sobre a necessidade de supervisão do acordo.
*Com informações da Bloomberg
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