A Copa de 1962 foi a primeira com jogos exibidos em videoteipe para o Brasil
No início dos anos 60, os brasileiros já estavam acostumados a assistir aos jogos de futebol ao vivo pela televisão. Moradores de São Paulo conseguiam ver uma partida que estava sendo disputada no Rio de Janeiro e vice-versa. Em médias distâncias geográficas, a transmissão das imagens era feita via sistema de microondas. Mas, naquela época, surgiu o videoteipe, que representou uma “revolução”. Com a fita magnética, mais fácil de trabalhar do que o filme, pois não havia a necessidade de revelação, as emissoras começaram a exibir programas previamente gravados, como shows, novelas, e, claro, jogos de futebol. Os clubes achavam que a transmissão ao vivo pela TV esvaziava o público dos estádios e então passaram a proibir as exibições em tempo real. A saída era gravar as partidas para levar as imagens posteriormente aos telespectadores.
Como a primeira Copa transmitida ao vivo pela TV, via satélite, foi a de 1970, no México, em 1962, no Chile, quando a seleção conquistou o bicampeonato, a população brasileira ainda teve de acompanhar as partidas pelo rádio. No entanto, o videoteipe fez uma grande diferença naquele ano. Depois de um ou dois dias, a torcida podia conferir, com imagem, o que tinha ouvido pelo rádio. Antes da estreia contra o México, em 30 de junho, a imprensa informava que o VT seria exibido pela televisão no dia seguinte à noite. “Todo mundo pergunta – e aqui estamos respondendo que as TVs do Rio (e acreditamos que de São Paulo e adjacências) estarão apresentando o videoteipe das pelejas em que o Brasil participar, no Chile, exatamente 24 horas depois do acontecimento. Assim, estaremos de olhos presos na TV, vendo o que o nosso selecionado fez, 24 horas antes, com a equipe do México”, conforme publicado pela Revista do Rádio.
A Record e a Tupi formaram um pool para exibição dos videoteipes. Alguns trechos dessas transmissões sobreviveram ao tempo e podem ser vistos no portal da Cinemateca Brasileira. Pela TV Record, emissora de propriedade de Paulo Machado de Carvalho (chefe da delegação brasileira nas Copas de 1958 e 1962), o narrador era Raul Tabajara, enquanto Paulo Planet Buarque comentava as pelejas. Já a Tupi tinha Walter Abrahão, um dos grandes nomes da história da TV e criador de bordões como “oxo”, uma referência a um placar sem gols (zero xis zero). O narrador formava dupla com o comentarista Ary Silva. O próprio Abrahão levava as fitas dos jogos aos aeroportos no Chile para serem transportadas ao Brasil em aviões comerciais ou da FAB. As organizações “Novo Mundo Vemag” patrocinaram as transmissões gravadas. No total, as imagens eram retransmitidas por vinte emissoras, localizadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Recife, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Belém, Goiânia, Vitória e Ribeirão Preto.
Mesmo sabendo do resultado dos jogos, as famílias se reuniam para assistir aos duelos e comemoravam os gols como se fossem ao vivo. De acordo com o Jornal dos Sports, a rotina dos torcedores mudou durante a Copa: “Desde o seu início, o Campeonato Mundial tem afastado o público das casas de espetáculos, pois nas noites de ‘videoteipe’, o público fica em casa para assistir as partidas do tão emocionante campeonato.”
Já a Revista do Rádio registrou a comemoração pelos gols de Amarildo, quando a TV exibiu o teipe da partida contra a Espanha: “No Rio (…), ninguém ficou fora de casa depois das 22 horas daquela quinta-feira, 7 de junho. E era para se ficar? As TVs passariam (como passaram) o videoteipe da peleja entre o Brasil e a Espanha, pela Copa do Mundo. Todo mundo quis ver os gols de Amarildo contra o time da ‘fúria’. Em alguns bairros, pasmem, chegou-se a ouvir o espocar de foguetes, quando o videoteipe mostrou o primeiro tento da nossa equipe. Era como se o gol estivesse acontecendo na hora!! E que imagem esplêndida (…).” De acordo com estimativas da época, o Brasil tinha dois milhões de aparelhos de televisão, uma audiência potencial de oito milhões de espectadores.
Ouça os gols da estreia da seleção brasileira diante do México, 2 a 0, em Viña del Mar, na narração de Walter Abrahão. Os gols foram marcados por Zagallo e Pelé.
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