A estreia da seleção na Copa de 70, há 55 anos, foi um espetáculo rumo ao tri

O hino nacional brasileiro ecoava no Estádio Jalisco, em Guadalajara, no México, naquela quarta-feira ensolarada, dia 3 de junho de 1970, há 55 anos. Faltavam poucos minutos para às 16h, no horário local, 19h no Brasil. Os jogadores brasileiros, como em qualquer estreia, estavam nervosos. Perfilados, as câmeras de TV mostravam a imagem deles, um a um, para mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo. Nas arquibancadas, pouco mais de 50 mil torcedores, sendo 5 mil brasileiros.
Após os hinos, era a vez do revoar dos pombos que estavam em caixas na beira do gramado. Fim do protocolo, finalmente os jogadores começaram a bater bola no gramado. O árbitro Ramon Barreto, do Uruguai, estava pronto para dar início ao duelo. O mais visado pelas lentes dos fotógrafos era Pelé, que tinha uma dívida pessoal: aos 29 anos, queria provar ser capaz de fazer uma Copa irrepreensível, jogar todas as partidas e escapar ileso de contusões e da violência dos adversários. Depois de todo tumulto causado pela demissão de João Saldanha e a indicação de Zagallo para comandar a seleção, o time nacional saiu do país desacreditado. Os 90 milhões de brasileiros sabiam que a seleção era formada por atletas formidáveis, mas como a equipe se sairia na Copa?
A Tchecoslováquia tinha um histórico de dois vice-campeonatos mundiais: em 1934 e em 1962, quando perdeu o título para o Brasil. O técnico Marko dava declarações que irritavam os jogadores brasileiros: dizia que os tchecos iriam ganhar fácil, principalmente por causa da defesa, considerada fraca por ele. E mais: questionava a eficiência do goleiro Félix e incentivava os jogadores a chutar de fora da área. A revista Veja trazia declarações do treinador que incitavam a guerra psicológica: “Nosso time é perfeito. Nós somos melhores que qualquer outro concorrente e não temos medo do Brasil. Eles são duas vezes campeões do mundo, mas não jogam como antigamente”. A imprensa mundial lembrava que o futebol tcheco tinha fama de ser fechado, intransponível, violento e duro.
Nos primeiros minutos, era nítido que a equipe brasileira estava nervosa e tentava se acertar em campo, mas logo os espaços começaram a aparecer e Pelé perdeu um gol cara a cara com Viktor, depois de um cruzamento rasteiro de Rivellino. Aos 12 minutos, enquanto as câmeras da transmissão de TV focalizavam Pelé, Clodoaldo perdeu a bola na intermediária brasileira para Petras. O camisa 8 da Tchecoslováquia driblou Brito, invadiu a área e tocou na saída de Félix. Surpresa! 1 a 0. Na comemoração, ele se ajoelhou e fez o sinal da cruz, em um protesto contra o regime ateu e socialista em vigor em seu país. Essa imagem correu o mundo, estampou as capas dos principais jornais no dia seguinte.
Entretanto, a seleção brasileira resolveu mostrar o belo futebol que tinha e empatou o jogo com Rivellino, em uma cobrança de falta espetacular. Ainda no primeiro tempo, Pelé estava na intermediária do Brasil quando viu o goleiro Viktor adiantado e não teve dúvidas: chutou ao gol a uma distância de 60 metros! Na hora, os colegas de Pelé olharam para ele e não entenderam o que estava acontecendo. O goleiro tcheco voltou correndo desesperado para a meta, mas a bola passou a centímetros da trave esquerda. Seria o gol maior das Copas. Durante todo o Mundial, Pelé surpreendeu os críticos que não acreditavam mais na capacidade dele de improvisar. Foi o que ele mais fez. O narrador mexicano Pedro Carbajal declarou: “Ele tentou o gol mais bonito que eu já vi. Digo, que eu não vi”.
A etapa final foi um espetáculo: Pelé e Jairzinho, duas vezes, balançaram as redes e fecharam o placar: 4 a 1. Eu convido você a ouvir o segundo tempo com a narração original da TV da época, com Geraldo José de Almeida e os comentários de João Saldanha. Uma viagem no tempo!