A preocupação energética continua

A Guerra na Ucrânia em 2022 não apenas trouxe um doloroso e violento conflito para a Europa, mas mudou radicalmente algumas dinâmicas econômicas dentro do continente. Até a invasão completa do território ucraniano pela Rússia, grande parte da Europa oriental e central dependia fortemente do gás russo para abastecer suas cidade e indústrias. Os extensos e caros gasodutos construídos por anos, deixaram claro a ambos os lados que a parceria em um setor tão estratégico estava sendo feita para o longo prazo, ao mesmo tempo que foi crucial para melhorar, as outrora turbulentas, relações entre os dois lados da antiga cortina de ferro.
A simbiose formada a partir do gás natural, tornou os europeus muito dependentes de um único fornecedor, enquanto acostumou os russos com um único e abastado comprador. As sanções impostas à Federação Russa desde fevereiro de 2022, atingiram pilares fundamentais do complexo industrial russo e seu sistema bancário, mas também buscaram enfraquecer o principal mercado de commodities do país, o gás natural e o petróleo. A ousada escolha dos europeus, muito pressionados pelos norte-americanos, teve inicialmente um efeito contrário do desejado.
Os europeus, pobres energeticamente, se viram sem opções próximas e baratas para importar um bem tão essencial em tão pouco tempo. Os russos, por sua vez, encontraram facilmente quem quisesse comprar sua energia, por mais que barganhassem um preço mais baixo. Nesse novo cenário, os preços da energia elétrica para domicílios e indústrias disparou na maioria dos países europeus, elevando o preço também de bens de consumo básicos, e pressionando a inflação.
Sem amigos e consumidores no ocidente, os russos ofereceram seus produtos no oriente e acharam fiéis compradores na China e na Índia. Apesar do alívio econômico oferecido por Pequim e por Nova Délhi, a logística complexa para realizar a exportação da mesma forma fácil como era com os europeus, além do preço reduzido pago por chineses e indianos, não tornaram a operação tão lucrativa como era anteriormente.
Os europeus também encontraram uma solução, mas muito mais complexa que os cômodos gasodutos russos. Atualmente a lista de fornecedores de gás natural conta com os Estados Unidos, Noruega, Qatar, Azerbaijão e tantos outros países longe de casa que entregam mais lentamente e mais caro, o que anteriormente chegava de maneira descomplicada. Hoje, um acordo selado antes da guerra, chegou ao fim. Assinado há 5 anos, o gás natural proveniente da Rússia, cruzava o território ucraniano para chegar aos países da Europa central, como Eslováquia e Áustria.
Com os conflitos no Donbas em constante intensificação e sem um acordo de paz no horizonte, a renegociação de tal contrato se tornou inviável, o que já havia preparado o mercado dentro da Europa para mais uma notícia negativa. Ao contrário do primeiro baque causado em 2022 pelos primeiros resultados das sanções, desta vez a variação no preço da energia europeia se manteve estável.
As alternativas encontradas nos últimos dois anos foram úteis no processo de preparação ante novas tempestades. Contudo, o drama energético vivido pelos europeus em um cenário de instabilidade é desanimador não só para a população fatigada com preços exorbitantes na conta de luz, mas extremamente preocupante para o setor industrial do continente, principalmente para a Alemanha, vivendo uma frustrante recessão. Seja qual for a solução de longo prazo para um questão tão crítica, nada será tão simples com já foi em um passado próximo.