A quantas anda o mercado de virtualização?

Não é de hoje que o mercado de virtualização enfrenta movimentações intensas. Desde a pandemia, quando as grandes empresas precisaram migrar seus dados para a nuvem, os players do setor têm navegado por mares turbulentos. A venda da VMware para a Broadcom e a mudança nos sistemas de licenciamento da companhia tornaram o cenário ainda mais dinâmico. No entanto, desde o final do ano passado, o mercado parece ter desacelerado – pelo menos do lado dos clientes.
De acordo com a pesquisa Antes da TI, a Estratégia, promovida anualmente pelo IT Forum, 50% dos líderes de tecnologia brasileiros que já investiram em virtualização não pretendem realizar novos aportes este ano. Para Luiz Eduardo Ritzmann, CTO da Arteris S.A., empresa que administra rodovias em todo o país, os dados podem ser interpretados de apenas uma forma: maturidade de mercado.
“Estamos em um estágio avançado naquilo que permaneceu on premise. Se você olhar de cinco a dez anos atrás, as empresas ainda não haviam alcançado um ponto de equilíbrio. Hoje em dia, cada uma conhece suas próprias instalações e sabe como operá-las. Só ocorrerão novos investimentos se houver aumento de demanda ou surgimento de alguma funcionalidade inovadora”, afirma.
Como usuário assíduo do modelo de virtualização, Ritzmann acredita que seu esgotamento só ocorreria com a criação de uma tecnologia inédita, capaz de unificar hardware e software. Ao contrário de um desinvestimento, o CTO tem observado um movimento de estudo mais aprofundado por parte de seus pares, agora que novas possibilidades estão em jogo.
Leonel Oliveira, diretor-geral da Nutanix, também tem notado uma cautela maior entre seus clientes. Segundo o executivo, as empresas têm buscado se reorganizar e planejar melhor os próximos passos antes de realizarem novos investimentos – seja em outras tecnologias ou plataformas. Uma decisão estratégica diante de tantas atualizações no setor de tecnologia.
“As empresas têm procurado entender o que realmente faz sentido para elas. Muitas já realizaram investimentos significativos na área de virtualização, em treinamento, capacitação e infraestrutura. Agora, preferem aguardar um pouco para se reorganizar e recuperar o fôlego antes do próximo movimento.”
Para Ritzmann, esse novo ciclo virá com a ampliação do uso de inteligência artificial, que em breve deve impulsionar a demanda por tecnologia – como já ocorre no seu caso. “Atualmente, inclusive, estamos expandindo a operação para adicionar mais câmeras embarcadas com IA nas rodovias, a fim de identificar mais eventos.”
Essa também é a expectativa de José Roberto L. Rodrigues, country manager da Adistec, que, embora atue na conquista de novos segmentos, mantém uma postura prudente quanto ao potencial da inteligência artificial para impulsionar os negócios. “Ainda estamos compreendendo a questão da IA. No início do ano, fomos surpreendidos por um sistema chinês que conseguiu utilizá-la sem demandar grandes volumes de processamento, e isso ainda deve evoluir bastante. Esperamos, sim, que traga uma demanda maior.”
Recentemente, a Rimini Street – empresa fornecedora de suporte, produtos e serviços de software corporativo – divulgou um estudo com mais de 110 tomadores de decisão em TI: “Insights e Estratégias sobre VMware: Navegando no Mercado Evolutivo de Hypervisors”. A pesquisa revela que 70% dos entrevistados apontaram a IA como a tecnologia com maior impacto significativo neste mercado.
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Rodrigues, no entanto, também associa a atual desaceleração dos investimentos a um movimento de repatriação de dados, em um esforço das empresas para conter custos enquanto garantem a segurança das informações. A lógica é simples: utilizar apenas sistemas em nuvem exige suporte interno ou terceirizado e, à medida que o uso da nuvem cresce, seus custos e a manutenção têm se mostrado bastante elevados. Com o crescimento das próprias organizações e o aumento dos ciberataques, os aportes financeiros necessários para manter a proteção adequada levaram muitas a buscarem alternativas.
Mas e as novas licenças?
Diante dos desafios atuais e das decisões de uma de suas principais parceiras, a VMware, Rodrigues se mostra tranquilo e aposta na qualidade de seus serviços, além da importância de se manter conectado nos dias de hoje. Segundo ele, em até dois anos o setor estará novamente estabilizado. “A gente fala que o mercado de TI é grande, mas, no fim das contas, ele é pequeno, né? A gente sempre está e sempre esteve concorrendo. Mas o fato é que, da forma como a VMware faz e desenvolve toda a simplificação do data center, poucos players conseguem replicar.”, afirma.
De fato, conforme dados da pesquisa da Rimini Street, a maioria dos entrevistados (79%) afirmou que seu software da VMware com licença perpétua ainda atende às necessidades de seus negócios. No entanto, 98% dos respondentes já estão utilizando, planejando utilizar ou considerando alternativas para ao menos uma parte de seu ambiente VMware. Com 92% dos empresários antecipando novos aumentos de preços da VMware nos próximos 12 a 18 meses, a questão passa a ser mais financeira do que tecnológica.
Surfando na onda provocada pela concorrente, o diretor-geral da Nutanix tem direcionado esforços para posicionar a empresa como uma alternativa sólida e alinhada às necessidades de investimento. Para Oliveira, os principais obstáculos ainda estão ligados à resistência em adotar novas tecnologias, diante do apego às soluções tradicionais. O caminho escolhido para superá-los é a reeducação, o aculturamento e o reforço da importância dos dados. “Nós nunca fomos preocupados com a aplicação, a nossa neura é com os dados. Porque se você perdeu o dado, você perdeu tudo. A aplicação, você sobe em qualquer lugar.”
Ainda em busca de alternativas para ampliar sua participação no mercado e reduzir custos, durante o Mobile World Congress (MWC) deste ano, a Intel anunciou o novo Xeon 6 SoC, um chip que, segundo a empresa, promete revolucionar a virtualização. A tecnologia combina inteligência artificial (IA), eficiência energética e otimização do custo total de propriedade (TCO), mantendo as operações exclusivamente na Unidade Central de Processamento (CPU), sem a necessidade de Unidades de Processamento Gráfico (GPUs) dedicadas.
Para o CTO da Arteris S.A., todas essas movimentações são positivas para um aspecto essencial da área: a inovação. “Quando uma empresa domina 80% do mercado, dá preguiça de inovar. Então, eu acho bacana movimentos desse tipo. Eles são, sim, complexos, mas obrigam as empresas a pensarem fora da caixa, abrem espaço para novos players. Isso dá para ver pelo movimento dos concorrentes. Estão todos prometendo muita coisa para o curto prazo”, afirma.
Até o momento, Ritzmann não enxerga o cenário como uma guerra comercial, mas sim como o desenvolvimento de outras companhias em busca de novos caminhos para alcançar as funcionalidades oferecidas pela VMware. Em janeiro deste ano, por exemplo, o executivo foi convidado pela Dell Technologies para participar de um executive briefing em sua sede no Texas, com o objetivo de discutir possíveis alternativas. No entanto, com bom humor, ele afirma que não se oporia a uma disputa comercial. “Para o cliente é sempre bom.”
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