A união foi fundamental para os últimos dois títulos mundiais da seleção

Na coluna de ontem do “Memória da Pan”, apresentei uma entrevista com o lateral Cafu, campeão do mundo em 1994 e 2002, os dois últimos anos em que a seleção brasileira conquistou a Copa. Os torcedores e a imprensa costumam se questionar sobre as características e as diferenças entre ambas. Os cronistas consideram a do penta mais fiel às tradições do futebol brasileiro, com foco no ataque e na criatividade.
A equipe que conquistou o tetra, nos Estados Unidos, era taxada de defensiva, pouco ousada, principalmente por ter apenas dois atacantes, Bebeto e Romário. A dupla foi responsável por oito dos onze gols marcados pelo time nacional. Já a de 2002, contava com Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo lá na frente. A seleção do penta detém o maior saldo de gols entre as cinco campeãs: catorze. Ainda no recorte dos cinco títulos, Ronaldo é o que mais gols fez em apenas uma edição: oito. Veja o comparativo abaixo:

Tabela gerada com auxílio de IA
Os períodos de preparação brasileira para as Copas de 1994 e 2002 tiveram algumas semelhanças, pois foram turbulentos e cercados de desconfiança. Para o mundial dos Estados Unidos, pesavam os 24 anos sem títulos da seleção. Poucas vezes a equipe nacional foi tão atacada pela imprensa, principalmente depois da derrota para a Bolívia, em La Paz, a primeira da equipe nacional na história das eliminatórias, em 1993. A Gazeta Esportiva estampou na capa: “No fundo do poço”. Romário chegou como “salvador da pátria” e com dois gols sobre o Uruguai, no Maracanã, classificou o Brasil para o Mundial. Das cinco conquistas nacionais em Copas, a dupla Parreira e Zagallo foi a que teve mais tempo para trabalhar, ao ser escolhida pela CBF em setembro de 1991.
Já a preparação para 2002 teve outras características. Ao contrário da classificação para 1994, quando as eliminatórias duravam apenas dois meses, o que facilitava as convocações dos jogadores que tinham um pouco mais de tempo para os treinamentos, o formato de pontos corridos para 2002 ampliou a “agonia” da torcida. De março de 2000 a novembro de 2001, foram momentos de extrema turbulência, como a excessiva troca de técnicos, desde Luxemburgo, passando por Leão até a chegada de Scolari. A derrota na Copa América de 2001 para Honduras ampliou a desconfiança. Diferentemente do período 1990-1994, o momento político entre 1998 e 2002 era mais exacerbado, com a instalação das CPIs no Congresso Nacional para investigar as falcatruas do futebol brasileiro. Foi um momento também de muitos questionamentos sobre o calendário nacional e a ação da cartolagem.
Dentre as semelhanças entre as duas fases, a seleção chegou desacreditada para disputar os torneios, mas felizmente o talento dos jogadores e a união dos grupos fizeram com que o Brasil ampliasse a hegemonia de títulos no futebol.