Analista de qualidade de software da Motorola Solutions nunca imaginou ser contratada grávida

Natural de Manaus, a bacharel em Engenharia Elétrica com ênfase em Telecomunicações pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Yasmin Pereira Torres mudou-se para São Paulo em meados de março de 2022, deixando o emprego e sua cidade natal para acompanhar o marido, que escolheu a capital paulista para trabalhar e estudar.

Ela, que desde o ensino técnico se apaixonou por tecnologia, sempre gostou da área acadêmica, mas logo conseguiu o primeiro estágio em uma multinacional, no segmento de teste de software. Depois que se mudou para São Paulo, longe da família, com o marido trabalhando no turno da noite, Yasmim passava muito tempo sozinha. Acabou ficando desempregada por um período, mas decidiu retomar sua vida profissional. Atualizou o LinkedIn e o currículo e o enviou para a Motorola Solutions.

A Motorola Solutions tinha acabado de abrir um centro de design de software no Brasil e buscava cerca de 60 talentos com habilidades digitais para inovar no desenvolvimento de software para segurança pública e chamou Yasmin para uma entrevista.

Nesse meio tempo, uma notícia inesperada veio: Yasmin estava grávida. “Pensei: e agora, o que eu vou fazer? Que empresa contrata uma grávida?”. Fui pensando, ‘vamos ver no que vai dar’”, conta, lembrando que era justamente esse o momento em que ela mais precisava de um emprego, por uma questão financeira e de benefícios também, já que as empresas costumam oferecer plano de saúde e auxílio creche.

Inclusive, dar a notícia da gestação foi o único momento da entrevista que Yasmin ficou nervosa, lembra ela. “No dia da entrevista, quando eu vi que eram dois homens que iriam me entrevistar, fiquei um pouco desanimada, mas no final da entrevista, quando dei a notícia de que estava grávida, a reação deles me surpreendeu: eles me parabenizaram, perguntaram se estava tudo bem com o bebê, se eu já sabia o sexo. Minha confiança voltou, e eu percebi que para eles isso não impactava nem um pouco nas minhas chances de concorrer por aquela vaga. Me deu um novo ânimo sabe?”, conta.

A situação a fez perceber que ainda existem empresas que acolhem, dão apoio e sabem que a maternidade é uma condição natural e que mulheres podem ser qualificadas e ter capacidade de crescimento, independentemente de ser mães ou não. “Isso deveria ser supernormal, sabe?”.

A contratação veio e ela lembra que foi muito bem acolhida por todos na empresa. “Me perguntavam se eu estava bem, como é que estava o bebê, se eu estava precisando de alguma coisa, tanto nas reuniões quanto nos chats. E no final da gestação, eu fui até surpreendida com uma vaquinha de um chá de fraldas virtual que os meus colegas fizeram, e eu fiquei superemocionada. Então, por aí já dá para perceber que isso é uma cultura da empresa e isso pode ser até um espelho para outras empresas também”, comemora ela.

Mercado desestimula mães

Yasmin diz que sempre quis ser mãe e achava que nada nunca a faria mudar de ideia. “Mas depois que eu fui inserida no mercado e crescendo profissionalmente, algumas questões a respeito da maternidade já eram colocadas em xeque por mim mesma. Por exemplo, será que eu vou dar conta de me dividir entre carreira e filhos? Será que eu vou ter apoio suficiente das pessoas para voltar ao trabalho ou eu vou ter que abandonar minha carreira?”, lembra.

A essas dúvidas somaram-se questionamentos, como acontece com a maioria das mães, sobre se a maternidade afetaria uma futura chance de contratação ou de promoção na empresa. “Muitas dessas respostas eram até desestimulantes”, diz, completando: “Eu não sabia o quanto o fato de ser mãe ou de pelo menos querer ser mãe um dia, seria compreendido por esse meio masculino, porque como mulher a gente sempre sente que tem que se dedicar muito mais para ter a mesma visibilidade, a mesma oportunidade que um homem em uma empresa. E, dependendo do lugar, isso pode ser uma verdade ou não”, reflete.

Para ela, algo que deveria ser supernormal, como a maternidade, pode se tornar motivo de preconceito, por quem não se coloca no lugar de profissional, mas também de mulher que quer exercer a maternidade.

Yasmin segue em licença maternidade e seu retorno acontecerá no final deste mês, quando é comemorado o Dia das Mães. “Estou passando por um misto de sensações. Vou ter que passar mais tempo longe da minha filha, eu vou ter que deixá-la aos cuidados de outra pessoa, mas ao mesmo tempo sinto falta de voltar a trabalhar e eu sei que isso é importante para mim e para ela também, porque a minha filha precisa se adaptar à realidade e à rotina da nossa família, e o quanto antes isso acontecer, melhor”, revela.

Ela, no entanto, afirma estar animada com o retorno, já que ela trabalha totalmente em home office. “O modelo traz um certo conforto para minhas duas funções, de mãe e de funcionária. Porque ao mesmo tempo em que eu me dedico às realizações das minhas tarefas profissionais, também não vou perder marcos importantes no crescimento da minha filha”, finaliza ela.

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