Apesar de expectativa de safra recorde em 2023, ex-ministro da Agricultura alerta para desafios no agro

Previsões do IBGE mostram que a safra brasileira de grãos, cereais e leguminosas de 2023 deverá ser de 293,6 milhões de toneladas. A estimativa representa um novo recorde na série histórica iniciada em 1975 e um aumento de 11,8% em relação à safra de 2022. Em entrevista à Jovem Pan News, o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-ministro da agricultura do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Roberto Rodrigues, disse que esse recorde se deve à tecnologia e ao empreendedorismo: “Os produtores rurais brasileiros são realmente capazes de incorporar tudo o que há de novo em tecnologia e avançar a produtividade e sustentabilidade. Um número que caracteriza essa incrível sustentabilidade é o de que, de 1990 até hoje, 32 anos, a área plantada com grãos cresceu 95% e a produção cresceu 370%. Ou seja, a produção cresceu quatro vezes mais do que a área plantada”. O ex-ministro também projeta que o agronegócio deve enfrentar um queda de preços no ano que vem.

“Nós teremos uma grande safra aqui no Brasil, e outros países do Hemisfério Sul também terão safras grandes. Argentina e o próprio continente asiático esperam safras grandes de grãos. E isso significa que a oferta global será grande. Só que a demanda caiu por causa da pandemia. Então, há uma expectativa de que os preços caiam ano que vem. Não seria muito grave, se não fosse o custo de produção. Aumentou preço de fertilizantes, defensivos, sementes e máquinas. Todos os custos subiram muito, em média 35%. Custo sobe e preço cai, tem um descasamento da renda. Então, o maior problema que vamos enfrentar ano que vem é a hipótese de grandes safras no mundo todo, oferta muito grande, demanda pequena e os preços caírem”, declarou o professor da FGV.

Outro problema para 2023 é o excesso de regras do mercado Europeu, que deve afetar o agronegócio brasileiro: “Há uma regra defendida pela União Europeia, pelo parlamento europeu e agora pelo conselho europeu, de que toda produção oriunda de desmatamento depois de dezembro de 2020 não pode ser vendida para a Europa. O problema é provar isso daí. Tem um custo enorme de judicialização para mostrar quando a safra foi produzida. Isso vai inibir competitividade, então temos que cuidar muito desse tema, é um caráter diplomático desse processo todo”.

Roberto Rodrigues também alerta para a falta de recursos para pesquisas no agro: “Nós sabemos que o Brasil chegou onde chegou hoje, com um aumento de produtividade espetacular e sustentabilidade muito grande por causa de tecnologia, ciência. Na Embrapa, Universidades, órgãos de pesquisa e até no setor privado. Essa pesquisa está sem dinheiro agora no Brasil. Sem pesquisa, não há futuro”.

*Com informações do repórter Vinicius Moura