Após noite de quebra-quebra, governo de São Paulo se reúne nesta terça para definir ações na Cracolândia

O vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth (PSD), comanda nesta terça-feira, 24, a primeira grande reunião com representantes do governo do Estado e da Prefeitura da capital paulista para tratar da questão da Cracolândia. Na noite deste domingo, 22, usuários de droga que moram nas ruas da região atearam fogo e fizeram uma espécie de barricada na Rua dos Gusmões após a Guarda Civil Metropolitana (GCM) tentar dispersá-los com bombas de efeito moral em uma rua próxima. Na sequência, a GCM entrou em confronto para retirar as barricadas, que se mantiveram até depois da meia-noite. Outra ocorrência de incêndios e bloqueios foi registrada nos arredores da Avenida São João. Ramuth foi escalado foi escalado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para tentar encontrar saídas para o problema que já dura há décadas e incomoda não só quem vive no centro da maior cidade do país, mas toda a população.

A determinação de Tarcísio, como declarou quando assumiu o cargo, é definir uma política pública efetiva para tratar de um tema tão complexo com foco nas pessoas. Representantes do Ministério Público, Poder Judiciário, médicos especialistas e sociedade civil também serão ouvidos. Um levantamento recente feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que o horário de maior fluxo de pessoas no local é por volta das 17h e também foi questionado o que leva as pessoas a saírem de suas casas para consumir drogas no meio da rua.

Entre os usuários entrevistados, 43% disseram aos pesquisadores que foram parar na Cracolândia por conflitos familiares, 7% alegaram extrema pobreza e 9,5% culparam a violência doméstica. Em entrevista à Jovem Pan News, a pesquisadora da Unifesp, Clarice Madruga, defendeu a atenção inicial do Poder Público nos novos usuários: “Antes de tudo tem que se pensar que, se não tiver a interrupção do fluxo de novos indivíduos em uma dependência química grave, essa situação nunca vai ser resolvida. Ou seja, a situação de uma cena de uso não se resolve dentro da cena de uso. Se revolve fazendo ações preventivas fora, principalmente em periferias e principalmente pensando em não só prevenir o consumo de drogas e evitar que pessoas comecem a fazer esse uso e escalar para a dependência”.

“Também deve-se oferecer amparo para que essas pessoas que já estão apontando e demonstrando um grau de dependência possam ter acesso a serviços e um cardápio variado de diferentes modalidades de tratamento que sejam adequadas para cada perfil de indivíduo. Que isso seja acessível fora da rede de uso e haja uma rede, uma RAPS, que é a Rede de Assistência Psicossocial, disponível, principalmente nas periferias e fora da cena de uso para que interrompa esse influxo de novos frequentadores. Tem pelo menos 20% de novos indivíduos vindo anualmente para a cena. Não adianta nada ficar pensando em como tirar eles de lá se a gente não está fechando a torneira que faz com que novos dependentes químicos migrem para a cena de uso. Isso é uma das grandes reflexões que o estudo trás”, afirmou a pesquisadora. O vice-governador Felício Ramuth já afirmou em entrevista que não descarta soluções que foram colocadas à prova em outras gestões, como a de Fernando Haddad (PT) à frente da Prefeitura.

*Com informações do repórter David de Tarso