As dúvidas sobre a estratégia de Elon Musk para o Twitter após ultimato


Em enquete realizada na própria rede social, maioria votou a favor da renúncia de Musk como CEO da plataforma. Elon Musk (à direita) na final da Copa do Mundo, ao lado de Jared Kushner, genro de Trump
GETTY IMAGES
A enquete de Elon Musk, perguntando se ele deveria deixar o cargo de CEO do Twitter, apareceu horas depois de ele ser fotografado na final da Copa do Mundo, no Catar, no domingo (18).
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Esta foto nos diz duas coisas: em primeiro lugar, Musk estava ao lado de Jared Kushner — genro do ex-presidente Donald Trump, que Musk tentou, e não conseguiu, trazer de volta à rede social da qual agora é dono.
Musk sabe que um tuíte bombástico de Trump provavelmente geraria polêmica, mas também seria como tirar a “sorte grande” para o Twitter — atraindo uma grande audiência para a plataforma.
Trump também sabe disso, é claro, e tem seus próprios interesses — mais especificamente, sua própria rede social, a Truth Social, à qual ele permaneceu leal até agora.
Ou seja, a carta que seria o trunfo de Musk parece fora do baralho.
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A segunda questão sobre a foto? A mesma prova que Musk estava geograficamente nos arredores da Arábia Saudita — lar dos maiores investidores do Twitter. Será que ele apareceu por lá, e eles — assim como milhões de pessoas que usam o Twitter todos os dias — fizeram sérios questionamentos sobre sua liderança ao longo dos últimos dois meses?
E ainda tem a questão da enquete em si. Como interpretamos o resultado — 57% dos 17,5 milhões de votos computados foram a favor de Musk deixar o cargo de CEO do Twitter —, vai depender do que achamos que ele queria alcançar com isso.
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A enquete pode ter saído espetacularmente pela culatra — se Musk estava tentando massagear seu ego —, ou pode ter sido um grande sucesso em termos de livrá-lo da situação a que se viu preso desde que a compra do Twitter foi, basicamente, forçada a ser concluída.
Não podemos esquecer que o dono da Tesla passou meses tentando não seguir adiante com a compra da plataforma.
Enquanto escrevo, o feed do Twitter de Musk está estranhamente silencioso.
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Não vai ser este o caso por muito tempo, sem dúvida. Ele tem um histórico de ouvir enquetes. Afinal de contas, ele colocou em votação se deveria ou não comprar o Twitter antes de tudo, quando todo esse circo começou.
No passado, ele também pediu aos usuários do Twitter que o ajudassem a decidir se deveria vender ações valiosas da Tesla.
É uma maneira pouco ortodoxa de fazer grandes negócios, para dizer o mínimo. Mas com Elon Musk, passamos a esperar o inesperado.
O próximo CEO
Então… se ele fizer o que as pessoas decidiram e renunciar — quem vai assumir o cargo de CEO?
Ele tem sido uma banda de um homem só desde sua chegada à empresa de rede social. Não há menção regular a um vice, ou a alguém com quem ele tenha trabalhado de perto. Mark Zuckerberg, da Meta, tinha Sheryl Sandberg; Jeff Bezos, da Amazon, tinha Andy Jassy (agora CEO). Musk não tem um braço-direito óbvio no Twitter.
Até mesmo altos funcionários que ele inicialmente via como aliados, como o ex-chefe de confiança e integridade Yoel Roth, deixaram a empresa e criticaram a liderança de Musk.
Mas antes de atualizar o currículo, considere por um momento a descrição do cargo de CEO do Twitter. Você tem o chefe mais exigente do mundo; você herda uma força de trabalho desmoralizada — metade recém-demitida, e o restante sob a orientação de trabalhar longas jornadas. As finanças são terríveis, de acordo com Musk: ele diz que o Twitter está operando com perdas de US$ 4 milhões por dia.
E ainda tem o legado de tomada de decisão caótica que definiu os últimos meses no Twitter. A abordagem de Musk em relação à moderação era decididamente pessoal. A “praça da cidade digital” que ele alegou que queria criar, começou rapidamente a parecer mais como se você tivesse entrado na casa dele e estivesse tentando não derrubar os enfeites.
As políticas iam e vinham aparentemente por capricho.
Qualquer futuro chefe também enfrenta o desafio de tentar manter a segurança de cerca de 300 milhões de usuários do Twitter, postando em tempo real — incluindo conteúdos que podem ser abusivos, ofensivos e, às vezes, ilegais.
Adicione a tudo isso a imprevisibilidade do próprio Musk — e o risco contínuo de que seu próximo tuíte possa causar danos incalculáveis ​​à reputação e/ou ao controle regulatório. Afinal, ele foi proibido de tuitar sobre a Tesla depois de causar a queda do preço das ações ao dizer que estava supervalorizado.
Então, mais uma vez, você poderia dizer que não tem como piorar.
Um novo CEO menos interessado em uma revolução implacável pode acalmar os investidores e melhorar o moral dos funcionários. Atualmente, a cada dois tuítes na minha timeline, um é de alguém ameaçando sair do Twitter ou reclamando sobre a rede. Uma rede social obcecada consigo mesma não está cumprindo seu potencial.
O entusiasta espacial Elon Musk pensou que o Twitter precisava de um pouco de combustível de foguete — e ele certamente forneceu isso.
Mas talvez agora ele esteja aprendendo da maneira mais difícil que redes sociais, e as pessoas que dão vida a elas, não são máquinas. Talvez o futuro desta empresa conturbada não esteja nas estrelas, mas com os pés firmes no chão. Se ele permitir isso.
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