Janela de atualização de PCs impulsiona estratégia de crescimento da HP em IA

Enquanto o ano passado foi sobre dispositivos, este é sobre soluções. É assim que executivos da HP Inc. definiram a estratégia de inteligência artificial (IA) da companhia durante o HP Amplify 2025, conferência global da empresa para parceiros e clientes, que aconteceu nesta semana em Nashville, nos Estados Unidos.
Computadores e impressoras ainda são parte integral do portfólio da fabricante – mas “parte” é a palavra fundamental aqui. Ainda que a HP tenha revelado mais de 80 novos produtos durante os dois dias de conferência, a ideia é que eles estejam todos integrados a uma oferta mais ampla de inteligência artificial na borda, combinando hardware, software e serviços.
“Queremos entregar IA na ponta”, disse Enrique Lores, presidente e CEO da companhia, na abertura do evento. “Queremos garantir que nossos clientes possam rodar LLMs em seus PCs e no restante de nosso portfólio, para que possam tirar vantagem de menores custos, maior agilidade, privacidade e segurança.”
Os PCs de IA, claro, são o primeiro passo dessa estratégia. A HP vê o ano de 2025 como uma oportunidade única para avançar no mercado de computadores embarcados com sistemas nativos de inteligência artificial. Isso deve ocorrer por conta de duas macrotendências.
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A primeira é que se aproxima um novo ciclo de atualização de máquinas nos segmentos B2B e B2C. Há cinco anos, quando a pandemia da Covid-19 teve início, uma grande quantidade de empresas e consumidores adquiriu novos equipamentos para se adaptar à realidade do trabalho remoto. Agora, muitos deles buscam modelos mais recentes.
Mas há também uma oportunidade relacionada ao Windows. Em 14 de outubro, a Microsoft encerra oficialmente o ciclo de vida do Windows 10, que deixará de receber suporte técnico, patches de segurança e novos recursos. Isso também deve acelerar a busca por dispositivos embarcados com o mais recente Windows 11. A HP, assim como outras fabricantes rivais, quer que seus PCs de IA estejam lá para abraçar essa oportunidade.
Durante sua conferência, a HP anunciou novos EliteBook 8 Series, redesenhados para necessidades corporativas. Os modelos embarcam unidades de processamento neural (NPUs) de até 50 TOPS, prometem até 224% mais eficiência energética e geração de imagens de IA até 43 vezes mais rápida quando comparados aos modelos sem NPU.
Novos modelos da linha HP EliteDesk 8 Series, de desktops corporativos, também foram revelados. O foco das máquinas é o desempenho, o menor consumo de energia e a segurança para usuários profissionais. Segundo a HP, os dispositivos da linha são os primeiros desktops comerciais do mundo já protegidos contra ataques de computadores quânticos.
Impressoras, software e serviços de IA
O portfólio de IA da HP também se expande a outras frentes da companhia. Em impressoras, a principal novidade do Amplify ficou por conta das máquinas da série HP LaserJet Enterprise 8000, projetadas para organizações de setores altamente regulados e integradas a arquiteturas Zero Trust. Os dispositivos também são protegidos contra ataques de computadores quânticos.
Foram anunciados ainda serviços de IA que estarão integrados ao processo de impressão da HP. Uma das novidades é voltada para a otimização do compartilhamento de documentos digitalizados – com ele, colaboradores poderão resumir documentos escaneados automaticamente ou redigir, com IA, e-mails com arquivos anexados.
Uma nova opção de segurança será a redação guiada de informações sensíveis. O recurso protege dados privados, ocultando-os automaticamente em documentos impressos e garantindo que informações confidenciais permaneçam seguras nos dispositivos HP, sem necessidade de conexão com a nuvem.
Novos serviços de IA também estarão disponíveis para usuários de PCs da organização. Um dos anúncios do evento foi o novo HP AI Companion, assistente que funciona diretamente no dispositivo, fornecendo respostas instantâneas e análise segura de arquivos, mesmo sem conexão com a internet. O serviço receberá atualizações ao longo deste semestre, incluindo comandos de voz e texto, além de proteção contra keyloggers e segurança de dados.
A própria HP tem sido um laboratório da solução. Segundo Alex Cho, presidente de Sistemas Pessoais, a empresa já adotou uma política de só entregar PCs de IA para seus novos colaboradores. Aqueles que já estão com uma dessas máquinas em mãos e têm acesso às aplicações nativas de IA têm economizado, em média, quatro horas semanais em carga de trabalho. “Isso significa dois dias por mês. É um impacto prático”, avaliou.
O potencial da IA na borda
Na leitura da HP, a capacidade de rodar sistemas de IA na borda trará um ganho importante de eficiência para as organizações, já que esses sistemas não dependem da latência da ida e volta de informações para a nuvem. A abordagem também garante a privacidade de dados corporativos, que não precisam deixar a máquina dos usuários para serem processados por modelos de IA.
A estratégia, defende a HP, é ainda um passo importante para o futuro da “experiência de trabalho” – uma área em que a companhia deve investir com força em sua abordagem de IA. Dados do estudo Work Relationship Index, promovido pela HP no ano passado, apontam que apenas 28% dos trabalhadores têm uma “relação saudável” com seu dia a dia profissional.
Na leitura da fabricante, experiências de IA que melhoram o cotidiano de trabalho das pessoas são um caminho não só para ganho de eficiência, mas também para melhorar a conexão entre as organizações e seus colaboradores.
Essa abordagem também prepara o terreno para futuras evoluções que a HP acredita que acontecerão com a IA na borda. “Há algumas macrotendências que já são conhecidas”, disse Tuan Tran, presidente de Tecnologia e Inovação da HP Inc. “Acredito que veremos a evolução de modelos que rodam na nuvem, mas têm execução parcial na borda. Vamos ver modelos híbridos evoluírem. Temos um ecossistema que tira proveito disso.”
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Ainda segundo o executivo, a HP vê que o avanço de tecnologias como modelos destilados abre a possibilidade de que, em breve, agentes de IA também possam ser rodados de forma local em dispositivos. Isso abrirá uma nova janela de oportunidades para as organizações, que poderão combinar a implementação de agentes na nuvem, em infraestruturas locais e na borda. Serviços financeiros, saúde e varejo são áreas que devem aproveitar essa tendência.
“Imagine todos os casos de uso muito específicos de agentes. A maior parte desses dados é extremamente sensível, altamente segura, então você quer que sua computação aconteça ali, onde você está, em vez de ficar na nuvem”, afirmou Dave McQuarrie, chief commercial officer (CCO). “Estamos bem empolgados com muitas dessas aplicações especializadas. Dá para imaginar o quão específicos esses agentes precisam ser e o quão profundamente integrados eles deverão estar aos dados locais.”
Para quem não entendeu a aquisição da finada Humane AI – startup que desenvolvia um acessório pessoal de IA para consumidores finais – pela HP, ela também faz parte dessa estratégia. Anunciada no final de fevereiro, a compra de US$ 116 milhões tem o objetivo não só de trazer talentos em IA para a organização, mas também de servir como uma espécie de conector para o ecossistema que a HP vislumbra.
“Eles têm muito trabalho em termos de modelos que rodam localmente e na nuvem”, disse Tran. “Nosso foco foi na aquisição de talento, mas também na conectividade e IA. Queremos padrões que permitam uma experiência fluida de conectividade de IA entre dispositivos.”
Inteligência artificial na TI
Para o setor de TI, outra área em que a IA ganha espaço é a expansão da HP Workforce Experience Platform (WXP). A plataforma de gestão de TI foi lançada pela companhia em fase beta no ano passado, mas ganhará disponibilidade geral a partir de abril.
A plataforma se baseia em dados de telemetria coletados a partir de 24,6 milhões de dispositivos, reunidos em um data lake de 4 petabytes, para apoiar gestores de TI na garantia da eficiência de equipes e frotas amplas de dispositivos. Por mês, são mais de 11 milhões de incidentes de TI remediados em clientes da HP.
Entre os novos recursos da WXP está um sistema de análise de sentimento que emprega IA para aprimorar experiências de funcionários por meio da análise de pesquisas abertas. Também estará disponível a nova Fleet Explorer, ferramenta de processamento de linguagem natural (NLP) que permite consultar dados de dispositivos instantaneamente, obtendo insights em tempo real.
A plataforma integrará ainda novos scripts, alertas e dashboards pré-construídos, desenhados para facilitar o monitoramento de dispositivos, a automação de fluxos de trabalho e a gestão da infraestrutura de TI. Por fim, há uma nova integração com a Vyopta, solução de gestão de colaboração adquirida pela HP no ano passado, que poderá ser operada diretamente na WXP.
One HP
Durante o Amplify, a companhia deu mais detalhes sobre um movimento apelidado de “One HP”, que tem o objetivo de trazer mais coesão entre produtos e serviços da HP. “Queremos oferecer uma experiência consistente entre dispositivos”, explicou Lores. “Não importa se você estiver em um PC ou usando uma impressora, não queremos que eles pareçam produtos completamente diferentes.”
O sucesso dessa estratégia não depende apenas da própria companhia, mas também de parceiros-chave na implementação dessa proposta para os clientes. Para garantir essa experiência coesa, a HP anunciou que trará uma série de mudanças ao seu programa de parceiros, com mais recompensas e retornos para os canais que optarem por trabalhar com uma gama ampla de produtos da organização.
“A ideia não é apenas trazer melhores experiências ao cliente, mas também contar com os parceiros para levá-las até eles”, indicou Kobi Elbaz, vice-presidente sênior de Operações de Receitas Globais. Nessa jornada, mais de 16 mil parceiros de canais da HP já foram treinados em temas de IA.
*O jornalista viajou a Nashville a convite da HP Inc.
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