Aymoré Moreira substituiu Vicente Feola no comando da seleção brasileira que conquistou o bicampeonato, no Chile

O jornalismo é o rascunho da história e sabemos que muitas informações se perdem no tempo. Quando estava fazendo uma pesquisa sobre a Copa de 1962, ano em que a seleção brasileira conquistou o bicampeonato mundial, eu tive uma surpresa. Os jornais antigos desmentiram um fato dado como verdadeiro há décadas. A versão propalada sem parar era a seguinte: o técnico Feola, que treinou a seleção em 1958, foi substituído em 1962 por Aymoré Moreira porque ficou doente. Não foi bem assim! 

Depois da Copa de 58, Feola continuou no comando da equipe brasileira até o fim de 1960, quando foi contratado pelo Boca Juniors, da Argentina. O jornal O Globo de 26 de dezembro daquele ano informava: “Com a saída de Vicente Feola, contratado pelo Boca Juniors, a CBD não se precipitará na escolha do técnico para a seleção nacional”. No dia 8 de março de 1961, Aymoré Moreira foi confirmado como treinador da equipe nacional, como destacou a mesma publicação: “As resoluções tomadas foram as seguintes: ‘por indicação do vice presidente Paulo Machado de Carvalho homologar a escolha de Aymoré Moreira para técnico da seleção de futebol para os jogos das Taças O’Higgins e Oswaldo Cruz, no corrente ano, e para a Taça do Mundo de 1962, no Chile (…)”. Ou seja, em março de 1961, Aymoré já estava confirmado para a Copa de 1962. 

Entretanto, no fim de 1961, Feola deixou o Boca Juniors e voltou como uma espécie de auxiliar técnico de Aymoré na seleção e, inclusive, foi destacado para participar da preparação brasileira em Campos do Jordão, Friburgo e Serra Negra. De acordo com o Jornal dos Sports, Feola passou mal em Serra Negra: “Na manhã de ontem [27.04.62], o treinador Vicente Feola foi internado no Hospital Santa Catarina [em São Paulo], a fim de tentar recuperar-se para poder prestar serviços à seleção brasileira, no Chile, uma vez que sua ida está seriamente ameaçada. Como se sabe, Feola está com hipertensão arterial e agora foi acometido de violenta nefrite, que o obrigará a repouso absoluto (…).”

Feola realmente ficou doente, mas não seria, de qualquer maneira, o técnico da seleção. O chefe da delegação brasileira, Paulo Machado de Carvalho, fez questão de reservar um quarto para o treinador, caso ele se recuperasse e pudesse viajar ao Chile. Entretanto, ele não melhorou a tempo. Depois do bicampeonato, assim que os jogadores desembarcaram no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, a primeira parada foi na casa de Vicente Feola. 

Ouça agora uma série de reportagens sobre a heroica conquista da seleção brasileira em campos chilenos, em 1962. Espero que goste!