Biomimética: tecnologia inspirada na natureza pode construir futuro mais resiliente e sustentável

Guilherme Gennari, especialista em biomimética, fala ao público durante o evento IT Forum Trancoso. Ele veste uma camisa branca e utiliza um microfone de cabeça, com um telão ao fundo exibindo o nome do evento em letras brancas (natureza)

Buscar novas referências é um passo fundamental para qualquer processo de inovação. E por que não recorrer a uma fonte que reúne bilhões de anos de experiências, tentativas, erros e acertos em inovação? Essa é a proposta da biomimética, área de estudo que busca referências ancestrais em tecnologias encontradas na natureza para solucionar problemas e desenvolver ideias inovadoras.

“A Terra se originou há 4,5 bilhões de anos. A vida, há cerca de 3,8 bilhões de anos. Nós, Homo sapiens, surgimos há apenas 300 mil anos. Quando se trata de vida na Terra, somos apenas aprendizes. Estamos começando agora, como estagiários”, afirmou Guilherme Gennari, biólogo e CEO da Iandé, durante o painel “Biomimética, solução para os desafios mais urgentes do mundo e dos negócios”, no IT Forum Trancoso. “Não adianta acharmos que, com esse nível de experiência, conseguiremos tomar decisões complexas e resolver todos os problemas.”

De acordo com o executivo, o pensamento biomimético se aproxima bastante da disciplina do design thinking, prática já comum no cotidiano de organizações ágeis. Seu diferencial, no entanto, está em buscar soluções concebidas ao longo de bilhões de anos por organismos ou fenômenos naturais.

Diversos projetos concretos e de impacto já foram desenvolvidos com base nessa abordagem, contou. Um exemplo é a DNA Data Storage Alliance. Fundada em outubro de 2020, a iniciativa reúne empresas como Microsoft e Western Digital na busca por uma alternativa eficiente para armazenar o volume exponencial de dados gerados por nossas sociedades.

Uma das soluções encontradas é armazenar essas informações em DNA – molécula essencial à vida, responsável por guardar instruções genéticas. O tema é estudado há décadas por cientistas e já foi comprovado como uma alternativa viável para o armazenamento digital.

Em 2017, por exemplo, um experimento da Universidade de Harvard demonstrou ser possível armazenar um vídeo completo em DNA, sem perdas significativas de qualidade. Hoje, o desafio é escalar esse modelo de forma eficaz para aplicação em negócios. “É um formato estável, compacto, resiliente e interoperável”, afirmou Gennari.

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Nem toda iniciativa inspirada pela biomimética, contudo, precisa ser um projeto revolucionário de alta tecnologia. Segundo o Gennari, há práticas simples baseadas na natureza que podem impactar o dia a dia corporativo de maneira eficiente.

Um exemplo é a importância da diversidade nos negócios. Se, na natureza, há um determinada população completamente homogênea, explicou o biólogo, qualquer adversidade pode eliminá-la por completo. O mesmo vale para empresas. “A diversidade, seja nos conselhos, nas lideranças ou nas equipes, não pode ser apenas um objetivo para agradar stakeholders. Ela é, de fato, um diferencial competitivo”, disse.

Outra lição é a resiliência por meio da descentralização e autorrenovação. O modelo, contou o executivo, é diretamente inspirado no funcionamento das nossas células –  que se dividem com um objetivo específico. “Na natureza, nada cresce apenas por crescer. A única coisa que cresce sem controle – como, por vezes, as empresas desejam – é o câncer. Todo o restante é sincronizado”, disse. “O crescimento tem que ser acompanhado de desenvolvimento e acontecer longo do tempo”, contou o CEO.

Para finalizar, fez mais um apelo inspirado na biomimética para os CIOs presentes na plateia: quando o assunto é eficiência e aumento de produtividade, não há alternativa melhor do que a cooperação. O tema é particularmente importante quando se discute temas como o desenvolvimento tecnológico sustentável ou até a evolução de tecnologias de fronteira, como a inteligência artificial.

“Ao longo destes bilhões de anos de evolução, uma coisa que aprendemos é que a colaboração é maior que a competição”, disse. “Na maior parte do tempo, as espécies colaboram. A competição é muito custosa,e ninguém quer custos que não precisa ter”.

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