Brasil lidera expansão de data centers na América Latina apesar de entraves fiscais
A América Latina ultrapassou pela primeira vez a marca de US$ 14 bilhões em investimentos em data centers, segundo dados apresentados por executivos do setor durante painel promovido pela Tech Capital, em São Paulo, com o Brasil à frente no desenvolvimento de projetos.
O volume se refere apenas à carga de TI operacional já instalada (1,2 gigawatts) e aos 260 megawatts atualmente em construção. O Brasil lidera esse crescimento, com destaque para a demanda por serviços de nuvem, interconexão local e uso intensivo de inteligência artificial (IA).
Para Rafael Bomeny, CFO da Odata, a demanda por cloud computing ainda é o principal vetor de expansão, mas a IA tende a acelerar ainda mais o setor. Ele estima que, para cada dólar investido por operadores de data centers, clientes finais chegam a aplicar sete dólares em equipamentos. A pressão por baixa latência tem levado à descentralização dos investimentos, com novas regiões brasileiras ganhando protagonismo, como Fortaleza (CE) e o Rio Grande do Sul.
Clayton Malheiros, CFO da Scala Data Centers, e Marcos Siqueira, CRO da Ascenty, destacaram a disponibilidade de energia como um diferencial competitivo do país. O Brasil conta com ampla matriz renovável – superior a 90% – e capacidade excedente de geração. Apesar disso, ambos apontaram gargalos na transmissão e na demora de 9 a 14 meses para aprovações regulatórias por parte do Ministério de Minas e Energia e do ONS.
“Temos capacidade ociosa em geração e transmissão em algumas regiões, mas a burocracia atrasa a expansão”, afirmou Renan Lima Alves, presidente da ABDC, que moderou o painel.
Tributos e financiamento limitam expansão
O alto custo do capital no Brasil foi identificado como principal barreira ao avanço de novos projetos. Alessandro Lombardi, chairman da Elea Data Centers, afirmou que os encargos de importação de equipamentos de TI podem ultrapassar 50%, tornando o país “um dos mais caros do mundo” para operar data centers. Segundo ele, “não há como financiar crescimento com taxa básica de juros acima de 15%”.
A maioria dos recursos utilizados para financiar os projetos vem de fundos internacionais, especialmente dos Estados Unidos e do Canadá. A exceção mencionada foi a Elea, com capital majoritariamente brasileiro, embora tenha por trás o Goldman Sachs.
Executivos também apontaram a necessidade de modernização do sistema financeiro local para incorporar instrumentos como ABS (Asset-Backed Securities, ou títulos lastreados em ativos), comuns nos Estados Unidos, que permitiriam maior reciclagem de capital.
América Latina em transformação
Chile e México também foram destacados como polos emergentes. O México, por sua proximidade com os EUA e crescente infraestrutura de backbones, tem atraído operadores globais. Já o Chile, apesar de sua estabilidade fiscal e custo reduzido para equipamentos, enfrenta restrições sísmicas e escassez de energia verde.
“O Brasil pode se tornar o principal hub de data centers de IA da região, desde que faça o dever de casa agora. A oportunidade é imediata”, afirmou Siqueira. Para Victor Arnaud, country manager da Equinix, a regulação da IA e a integração com dados internacionais também precisam ser endereçadas com urgência.
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