Brasil precisa mais que infraestrutura para capturar valor da IA
Políticas fiscais para atrair grandes data centers ao Brasil não serão, por si só, suficientes para garantir protagonismo do país na era da inteligência artificial (IA), avalia Victor Arnaud, presidente da Equinix, gigante global do mercado de centro de dados.
Em entrevista ao Tele.Síntese, ele elogia a iniciativa governamental em torno do Redata, mas lembrou que há muito valor nesta cadeia além da infraestrutura: “Se as aplicações forem desenvolvidas fora, o valor capturado também ficará fora. Trazer só o data center para cá não é suficiente”.
A fala ocorre em meio ao debate sobre medidas do governo federal para incentivar a instalação de data centers no país, como a proposta de desonerar a importação de equipamentos. Arnaud defende uma política industrial mais ampla. “É só uma pequena parte de uma política maior de IA. O resto precisa vir junto: formação de profissionais, estímulo à criação de aplicações e uso estratégico dos dados”, ponderou.
Arnaud fala com conhecimento de causa. A Equinix acaba de inaugurar o data center RJ3, no Rio de Janeiro, e avança com a construção das unidades SP6 e SP7 em São Paulo este ano, no mesmo campus onde já estão previstos SP8 e SP9 nos próximos. Desde 2014, segundo o executivo, a companhia investe mais de R$ 1 bilhão ao ano no Brasil.
Consolidação e ecossistema
Arnaud vem com naturalidade as estimativas bilionárias em torno da construção de data centers no país. Segundo ele, o ciclo atual repete o que já foi visto com outras infraestruturas, como redes de fibra e torres. “Se construir demais e a receita não vier, você vai ser vendido. A infraestrutura muda de dono, mas não desaparece”, afirmou.
O executivo explicou ainda que a IA exige uma arquitetura distribuída, com diferentes camadas de processamento — desde o far edge (mais próximo do usuário), passando por centros urbanos (metro edge), até os data centers de hiperescala. “Os melhores modelos são pensados de forma distribuída para garantir desempenho e eficiência energética”, disse.
Ele afirmou ainda que o Brasil evoluiu nos últimos anos em infraestrutura de conectividade, destacando o papel do IX.br e a presença local de grandes provedores de conteúdo, que antes operavam majoritariamente a partir dos Estados Unidos. Apesar disso, defendeu mais investimentos em cabos submarinos, redes metropolitanas e última milha: “Quanto mais infraestrutura, mais tráfego será trocado — e isso alimenta o ecossistema”.
América Latina segue caminho semelhante ao da nuvem
A Equinix também avançará com IA na região. Após consolidar o Brasil como principal base, a empresa está presente na Colômbia, México, Chile e Peru. Arnaud acredita que a expansão da tecnologia seguirá um padrão semelhante ao da computação em nuvem: chegada inicial ao Brasil, seguida por ramificações em outros mercados latino-americanos. “O cliente que vem ao Brasil já pergunta: você me ajuda também no México? No Chile? Em Bogotá?”, relatou.
Assista acima à entrevista completa com Victor Arnaud.
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