Brasileira perde a casa durante terremoto na Turquia e tenta voltar para o Brasil: ‘Esse lugar não para de tremer’

A brasileira Fernanda Lima Giçi mudou-se para a Turquia há cerca de um ano e meio. Ela vive na cidade de Adıyaman, no sudeste do país. A localidade foi muito abalada pelo terremoto que atingiu a região na madrugada de domingo, 5, no horário local. Grávida de três meses e com um filho de um ano e meio, Fernanda viu sua casa desmoronar e perdeu todos os pertences. Sem condições de permanecer no país, a família tenta voltar para o Brasil. Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, ela contou como tem vivido desde que o abalo sísmico que a tirou do seu lar. “Antes mesmo de acontecer o terremoto, por volta das 20h, eu senti tremor bem sutil. Quando foi 3h, eu acordei muito tonta. Comecei escutar a casa dar pequenos estalos. Aqui nessa região, a maioria dos tetos das casas é feito de terra. Eu fiquei com medo e decidi não dormir. Um pouco depois das 4h, houve um estalo muito grande. Eu só tive tempo de pegar meu filho do berço e gritar para o meu marido correr. Ele pegou a criança e correu na frente. Eu fiquei para trás e caí no meio de tudo. Não tinha por onde se segurar. O chão parecia algodão ou chiclete, não sei explicar direito. Parecia que o mundo estava acabando. A gente correndo na neve e na chuva. Meu filho enrolado no cobertor sem saber o que estava acontecendo. E a gente perdeu nossa moradia. Não existe mais casa. Não temos para onde ir. Estamos em um lugar provisório. Você fica na casa dos outros um ou dois dias, tudo bem. Mas depois você começa a não ser mais tão bem-vindo. A cidade está devastada. Muita gente perdeu a casa, muita gente perdeu a vida. É muito triste ver tudo o que aconteceu. Pareceu que passou uma coisa muito ruim para acabar logo com tudo. Agora estamos nos questionando o que vamos fazer. A sensação é de impotência e uma tristeza muito grande. Ainda passamos por um segundo terremoto aqui. Esse lugar não para de tremer. E dizem que vai ter mais um, de magnitude maior. Queremos voltar para casa e deixar o país”, compartilha.

Fernanda ainda revela que este é o segundo episódio de terremoto que vive desde que se mudou para o país. O primeiro ocorreu na mesma época no ano passado. Ela classifica a vivência como devastadora e assustadora. “Parece que a cidade não existe mais. Está um clima de vazio, de nada. O que a gente pode fazer? Nada, só esperar. A gente quer voltar para o Brasil porque não temos nada aqui. E as coisas ainda vão ficar mais difíceis”, avalia. Atualmente, a família se encontra na casa do cunhado de Fernanda, na Turquia. “Eu não sei o que eu vou fazer. Emprego para ele é difícil por ser estrangeiro. Mas é melhor a gente ir embora do que morrer aqui. Isso já não tem mais condições. Não tem casa, não tem emprego, não tem lugar para ir. Eu fico perdida”, revela. Como a região está sem energia, o contato com Fernanda fica restrito. Para enviar ajuda, é possível entrar em contato pelo whatsapp (+90 543 257 56 66) com Luanny, brasileira que está atuando em parceria com a Embaixada para o resgate da família. Luanny fez parte do Conselho de cidadãos, que é um grupo que atua em parceria ao Consulado em ajuda a brasileiros em situação de risco na Turquia.

Fernanda Giçi e Mihdat Gici

Fernanda com o marido Mihdat Giçi – Fonte: Facebook/Mihdat Gici/Reprodução

A cidade de Adıyaman não recebeu muita ajuda para as pessoas impactadas pelo terremoto. A família de Fernanda encontra-se sem energia e com pouca água para sobreviver. A maioria das companhias aéreas internacionais continua a operar voos na Turquia. O Aeroporto de Istambul, o principal hub do país para voos internacionais, está operando normalmente. A Turkish Airlines cancelou alguns voos na segunda-feira, 6, para Samsun, Adiyaman e Siirt, e prioriza as operações para ajudar nos esforços de busca e resgate. “O Grupo de Trabalho Interministerial sobre Cooperação Humanitária Internacional, cuja Secretaria Executiva é exercida pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), se reuniu extraordinariamente na tarde desta segunda-feira, 6, para examinar o conteúdo da possível assistência humanitária do Brasil em resposta ao apelo internacional por ajuda, recebido da Turquia. Essa resposta poderá compreender o envio, à Turquia, de equipe humanitária de busca e resgate urbano, em atenção ao pedido expresso do governo turco por esse tipo de auxílio. As condições operacionais necessárias para isso estão sendo reunidas pelos órgãos públicos federais competentes”, informou em nota o Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

O terremoto que atingiu Turquia e Síria nas primeiras horas da segunda-feira, 6, já provocou mais de 5.000 mortes, de acordo com um balanço atualizado divulgado nesta terça. É esperado que o número continue subindo com o avanço do trabalho das equipes de emergência para busca de sobreviventes soterrados nos escombros. Ao menos 3.419 pessoas morreram na Turquia e 1.602 na Síria, somando as vítimas das regiões controladas pelo governo e também das áreas dominadas pelos rebeldes, o que eleva o total a 5.021, de acordo com as autoridades locais e fontes médicas. Estima-se neste momento que a Síria tenha pelo menos 3.500 pessoas feridas, e a Turquia, 20.534. “Temos 3.419 vítimas confirmadas e 20.534 feridos no momento. O número de pessoas resgatadas dos escombros ultrapassou 8.000. Temos um total de 5.775 edifícios destruídos. Até agora, ocorreram 312 tremores secundários”, afirmou o vice-presidente turco, Fuat Oktay.

No final desta segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde expressou sua preocupação pela falta de informação de algumas regiões dos dois países, o que acende o alerta para possível subnotificação de mortos e feridos. A entidade ainda alertou para a situação dramática da Síria, já muito prejudicada e fragilizada pela guerra civil que ocorre no país há anos. A OMS ainda afirmou que o terremoto de magnitude 7,8 pode afetar 23 milhões de pessoas nas duas regiões: “Os mapas mostram que 23 milhões de pessoas estão expostas, incluindo cinco milhões de pessoas vulneráveis”, afirmou a diretora da OMS Adelheid Marschang ao conselho executivo da agência da Organização das Nações Unidas (ONU).