Cabernet Sauvignon no Novo Mundo: descubra as nuances dessa uva tão nobre e democrática

O vinho, muitas vezes, guarda dentro da garrafa a celebração que, penso, se sobrepõe a própria qualidade da bebida. Com este espírito, num almoço há poucas semanas, daqueles almoços que, mesmo deliciosamente periódicos, sempre carregam uma oportunidade de celebrar a vida, eu elegi um vinho com história (ainda que particular) para ser aberto. Era um argentino Navarro-Correas, Colecciín Privada, de 1981, cujo corte tinha como casta predominante a, francesa, Cabernet Sauvignon. O vinho estava incrível, perfeito e delicado e a Cabernet Sauvignon se fazia notar de forma imperativa, quase opulente, mesmo com a idade do vinho. Se a garrafa guardava história, a uva predominante não menos. Se há uma casta unânime no Novo Mundo (dos vinhos) é, exatamente, a Cabernet Sauvignon, de origem francesa, da região de Bordeaux, já é considerada mundial, por se adaptar com facilidade aos climas mais diversos, ser mais resistente a pragas, e ser lançada a  mão tanto em “varietais” quanto em vinhos de corte, como é o caso do argentino acima citado. Os vinhos dessa uva são longevos, podendo ser bebidos em 15 anos ou mais. O que dá estrutura ao vinho, ou seja, que faz com que seus sabores e aromas se preservem e destaquem, é o tanino, e a casta bordalesa é detentora de um tanino ímpar. Sobre suas nuncias, é importante destacar seus sabores de cassis, ameixa, menta e cedro, que independem de onde a uva foi cultivada, sendo que o cultivos em lugares mais quentes deixam traços de azeitona e amora no vinho, enquanto que regiões frias dão toques de pimentão à uva. Sabores de vegetais, como pimentão verde, podem estar presentes no vinho caso a colheita não tenha sido feita de maneira ou na época adequada. Tudo isso ocorre sem que se despreze o terroir da região do cultivo.

Na Califórnia esta casta ganhou destaque incrível e, sem medo de errar, afirmo que os varietais mais importantes da Cabernet Sauvignon vêm de lá, se sobrepondo aos seus irmãos europeus (exceto Bordeaux, é claro). Logo depois a Argentina nos entrega vinhos sensacionais, seguido do Brasil. Já os Cabernets Sauvignon chilenos, em que pese exceções como os da espanhola Miguel Torres, da, de DNA italiano, De Martino e da Viña  von Siebenthal; são todos planos e de qualidade mediana, onde o marketing ocupa mais espaço na garrafa que o vinho. Na Argentina os vinhos desta casta trazem, além de suas características naturais, uma minerabilidade bem presente e no Brasil encontramos uma acidez que os torna bastante gastronômicos. Ainda há bons exemplares uruguaios e australianos. Reitera, de todos os lugares, são vinhos longevos e, a exceção do chilenos, apresentam excelente potencial evolutivo com a guarda. Vou sugerir alguns que merecem ser provados e começo com o argentino Navarro-Correas Reserva Cabernet Sauvignon, que é um vinho aveludado, complexo e balanceado; também destaco, o Durigutti HD, um belo Cabernet Sauvignon orgânico, que é  vinificado em ovos de concreto, com leveduras autóctones, amadurecendo por quatro meses em foudres de carvalho francês.

Do Brasil destaco o Batalha Cabernet Sauvignon, da Campanha Gaúcha, divisa com o Uruguai e uma das mais promissoras regiões vinícolas brasileiras, e o Viapiana VIA1986 Blend, um corte 50/50 Cabernet Sauvignon e Merlot, sendo de excepcional qualidade. Da Califórnia (EUA), começo com o Motto Backbone, um vinho intensamente perfumado, que compõe o seu nariz com aromas que remetem a ameixa madura, tabaco, folhas secas, bouquet garni, canela e pimenta preta; e o Bogle Cabernet Sauvignon, californiano vinificado em barris de carvalho e que tem potencial gastronômico excelente. Da Austrália o ícone é o Penfolds Maxs Cabernet Sauvignon, que assimilou otimamente o terroir da grande ilha. Finalizando as sugestões, destaco um vinho uruguaio de excelente qualidade, o Garzon Estate Cabernet Sauvignon, que harmoniza muito bem com carnes grelhadas e é seco, com ótima acidez, taninos estruturados e final equilibrado. Vale a pena viajar com esta casta tão nobre e democrática e permitir-se descobrir suas nuncias. Salut!