Carteiras digitais descentralizadas são o começo da revolução silenciosa da identidade digital

André Facciolli, CEO da Netbr, sorri em retrato com fundo preto, vestindo paletó escuro e camisa azul clara.

Imagine entrar numa sala VIP do aeroporto, assistir a um filme no cinema ou contratar um serviço de telecomunicação apenas mostrando seu celular, sem apresentar documentos, senhas ou cartões. Muitos já usam essa mecânica com a carteira digital, mas as carteiras digitais descentralizadas chegam com um fator adicional.

O princípio das carteiras digitais descentralizadas é simples, mas revolucionário: você decide o que compartilhar. Em vez de exibir seu RG completo, por exemplo, para provar que tem mais de 18 anos ao entrar em uma festa, a carteira digital mostra apenas a informação necessária, sua maioridade. Nada mais.

Embora ainda em estágio inicial, a jornada já é uma realidade mais madura na Europa, onde o governo atua como emissor confiável dessas identidades digitais. Por aqui, o movimento ganha corpo com iniciativas de empresas como a Netbr, liderada por André Facciolli, CEO da companhia e entusiasta da nova era da identidade digital.

“Temos tecnologia capaz de assegurar veracidade de transações, que são as carteiras digitais. E o melhor: com controle nas mãos do usuário”, aponta Facciolli. “A lógica é a da soberania de dados. O cidadão tem o controle, e não as empresas. Hoje, o dono da informação é a empresa. Com a carteira descentralizada, a lógica se inverte”, explica ele.

Na Europa, governos atuam como emissores únicos e confiáveis dessas carteiras, o que garante padronização, interoperabilidade e confiança. No Brasil, Facciolli acredita que estamos diante de uma grande oportunidade de seguir uma trilha própria, mas com ousadia. “Acredito muito na intensificação da identidade descentralizada no Brasil, pelo nosso apetite por inovação. Já vivemos isso com o open banking e o Pix.”

O que está por trás: criptografia e confiança

Toda essa revolução é sustentada por tecnologias de ponta como a criptografia FIDO2, que também embasa o funcionamento do Pix por aproximação e o open finance, e já avança para padrões de criptografia pós-quântica. “A identidade é o novo perímetro de segurança. Não dá mais para proteger a empresa inteira, mas conseguimos proteger a identidade”, resume.

A Netbr, que se posiciona como uma das maiores integradoras de identidade do mundo, tem investido em protocolos seguros e no desenvolvimento de um ecossistema de carteiras. Recentemente, a empresa anunciou parcerias com a Lina, gateway de pagamentos integrável a todos os bancos, e com a iProov, referência global em verificação biométrica e autenticação remota.

Casos de uso

Para acelerar a adoção, a Netbr criou sua própria carteira e já está testando casos reais de aplicação. Em seu próximo evento para a comunidade de tecnologia, por exemplo, o LinkedIn será usado como validador de identidade. Em outra frente, a parceria com a Lina permitirá autenticar informações bancárias para completar transações dentro de ecossistemas de parceiros, como empresas de telecomunicação.

Um dos protótipos em andamento envolve o acesso a salas VIPs de aeroportos via carteira digital, eliminando a necessidade de cartões físicos. Outro projeto conecta um banco e uma rede de cinemas, permitindo ao usuário autenticar sua identidade e concluir uma compra usando a wallet. “O segredo é gerar valor com casos de uso concretos”, diz o CEO.

De identidade individual a ecossistemas empresariais

Além dos benefícios para o cidadão, como mais privacidade, menos fraudes e facilidade de uso, as carteiras digitais descentralizadas podem transformar modelos de negócios. Facciolli explica que um banco, por exemplo, pode se tornar validador da identidade de um cliente e usar essa identidade validada em parcerias com outras empresas, como uma operadora de telecomunicação que oferece bônus ou descontos baseados na identidade verificada.

“Você começa a criar ecossistemas empresariais confiáveis, seguros e interoperáveis”, aponta. “Assim como o open banking abriu portas para o Pix, essas carteiras vão abrir portas para uma nova geração de interações digitais seguras.”

O que está por vir?

A inspiração europeia não está longe da realidade brasileira. Segundo Facciolli, 2026 será um ano crucial. “A Europa terá uma fase de adoção obrigatória do eIDAS (acrônimo de “Electronic IDentification, Authentication and Trust Services”, um regulamento da União Europeia que estabelece um quadro legal para a identificação eletrônica, autenticação e serviços de confiança) em toda a União a partir de 2026, com implementação total até o final de 2027.

Por aqui, ele acredita, inclusive, na possibilidade de uma união latino-americana em torno do tema, criando uma rede continental de identidade digital padronizada e segura.

O caminho, segundo ele, está sendo pavimentado. Com a tecnologia pronta, protocolos testados e um mercado cada vez mais atento à importância da soberania dos dados e da segurança digital, a próxima etapa é a escalada da confiança.

“Estamos bem no começo dessa jornada, mas com potencial para transformar completamente a forma como interagimos com o mundo digital”, conclui Facciolli.

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