Cidade para todos: o legado das Paralimpíadas

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As Paralimpíadas, realizadas logo após os Jogos Olímpicos, são um dos maiores eventos esportivos globais, reunindo milhares de atletas com deficiência de todo o mundo. Esses jogos não apenas celebram o talento e a superação, mas também servem como uma poderosa plataforma para a inclusão e a igualdade. Neste ano, serão cerca de 4.400 atletas competindo em 22 esportes diferentes, totalizando 549 eventos. 

Desde sua primeira edição em 1960 na Itália, as Paralimpíadas têm desafiado estereótipos e mudado percepções sobre pessoas com deficiência, mostrando que o esporte é uma arena onde o potencial humano pode brilhar, independentemente das limitações físicas. A cada edição, vemos histórias de determinação, força e coragem que inspiram milhões de pessoas ao redor do mundo.

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Agora, para que esses atletas possam competir em igualdade de condições, será que as cidades-sede ofereçam uma infraestrutura acessível? Justamente por isso, pensei em escrever este artigo para trazer à tona o tema de “cidades acessíveis”, que não é tão abordado assim, mas possui uma relevância enorme. 

E é importante dizer que, nesse contexto, o conceito vai muito além das arenas esportivas, pois se estende a todos os aspectos da vida urbana, desde o transporte público até as calçadas, hotéis e espaços de lazer. Um verdadeiro desafio que transcende o período dos jogos. Cidades acessíveis são vitais para garantir que todas as pessoas, independentemente de suas limitações físicas, possam participar plenamente da vida social, econômica e cultural. 

Para que uma cidade seja considerada acessível, ela deve incorporar uma série de elementos de infraestrutura que atendam às necessidades de todos os cidadãos, especialmente daqueles com deficiência. É importante considerar rampas de acesso, calçadas adaptadas, transporte público inclusivo, sinalização em braile,  áudiodescrição, banheiros acessíveis, plataformas elevatórias, áreas de estacionamento reservadas, entre muitos outros pontos. 

E a tecnologia pode ser uma grande aliada nesse processo. Por exemplo, o Access Map é uma ferramenta digital que auxilia pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida a encontrar rotas acessíveis em áreas urbanas. Com dados de elevação e acessibilidade de calçadas, a plataforma já mapeou mais de 150 km de vias em algumas cidades, oferecendo trajetos mais seguros e inclusivos para todos os usuários.

E o que o Brasil tem a ver com isso? 

Tudo! De acordo com o IBGE, nosso país possui mais de 17 milhões de pessoas com deficiência. Entre os idosos com mais de 60 anos, a proporção é de um a cada quatro com algum tipo de limitação. Projeções indicam que, a partir de 2031, haverá mais pessoas acima de 60 anos do que crianças com menos de 14 anos. 

Apesar disso, o Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade (IDL) revela que mais da metade dos 876 municípios analisados não está preparada para esse envelhecimento, ressaltando a importância das tecnologias assistivas no planejamento urbano sustentável. Essas tecnologias são cruciais para promover uma vida mais independente e inclusiva, ampliando as habilidades funcionais de pessoas com deficiência.

Nosso professor e amigo Ricky Ribeiro, durante a primeira edição do evento IoT Solutions Congress Brasil, organizado pelo iCities em parceria com a Fira Barcelona e a Prefeitura de São Paulo, trouxe uma visão importante sobre como a tecnologia assistiva tem o ajudado a conseguir viver com qualidade nas cidades. Ricky é portador da doença ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), não possui movimentos, mas consegue digitar textos por meio de leitores ópticos e, justamente por isso, pôde participar do nosso evento e dar uma baita palestra, que inspirou demais o público. Tenho que admitir que até algumas lágrimas rolaram na plateia. 

Além disso, o incentivo ao empreendedorismo no nosso país também corrobora com a criação de soluções inclusivas que melhoram a qualidade de vida do cidadão. E esse investimento não deve ser feito apenas pelas empresas e startups. O governo também deve estar extremamente atento a esse tema para buscar esse tipo de fomento, pois projetos de infraestrutura e acessibilidade exigem, muitas vezes, um investimento alto, que pode ser catalisado por bancos como o BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul). 

Outro caso interessante no nosso país é o do Programa Calçada Acessível criado pela FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro). O objetivo é melhorar a acessibilidade urbana, promover um ambiente mais adequado para novos negócios e modernizar a infraestrutura da cidade. A iniciativa, desenvolvida em parceria com prefeituras e outras instituições, já foi implementada em 45 municípios do Rio de Janeiro e visa garantir mobilidade urbana e qualidade de vida, além de atrair investimentos para a região.

Em São Pedro da Aldeia, onde a infraestrutura inclui muitas construções históricas, o programa busca adequar ruas e calçadas antigas, promovendo um planejamento cuidadoso. A ação também envolve orientações para manter as melhorias planejadas mesmo com mudanças de gestão municipal, destacando a importância da acessibilidade como fator essencial para o desenvolvimento urbano e econômico da cidade. O programa também já foi adotado por outras cidades na Região dos Lagos, como Búzios e Cabo Frio.

Para comprovar a eficácia do projeto, os próprios gestores públicos dos municípios foram colocados para dar uma volta no espaço com uma cadeira de rodas e, adivinha só? Conseguiram uma mobilidade bastante positiva, além de terem feito o importante exercício de se colocar no lugar do outro, algo tão essencial para um governante. 

Acessibilidade: uma jornada além do esporte

Para terminar nossa reflexão, queria deixar um questionamento: se atletas de todo o mundo podem superar barreiras físicas e preconceitos, por que nossas cidades não poderiam fazer o mesmo? Paris, com sua infraestrutura icônica, já se prepara para essa transformação, mas o legado das Paralimpíadas deve ir muito além dos jogos, impulsionando uma revolução urbana inclusiva.

O Brasil, com milhões de cidadãos que enfrentam desafios de acessibilidade diariamente, também tem um papel crucial nessa mudança. O caminho para cidades realmente acessíveis é longo e exige o esforço conjunto de governos, empresas e sociedade civil. 

Mas imagine o impacto de um Brasil onde cada calçada, cada meio de transporte, e cada espaço público seja pensado para incluir a todos. Esse é o desafio que as Paralimpíadas nos deixam: não apenas assistir às vitórias dos atletas, mas também garantir que essas vitórias sejam refletidas nas ruas de nossas cidades.

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