Com escândalo, João Guerra assume liderança da Americanas S.A.

O conselho de administração da Americanas S.A. – holding dona das lojas Americanas e dos e-commerces Americanas.com e Submarino, entre outros – anunciou no fim da tarde de quarta (11) que João Guerra, então CHRO da companhia, passa a responder interinamente pelos cargos de diretor-presidente e diretor de relações com investidores. O executivo tem 31 anos de carreira dentro da própria Americanas, e ocupou cargos de liderança na área de tecnologia – incluindo head de TI, CTO e diretor de CX.

Guerra foi escolhido justamente por não ter envolvimento prévio na gestão contábil ou financeira da empresa. Isso é importante porque a Americanas comunicou, em fato relevante enviado à Comissão de Valores Imobiliários (CVM), que encontrou, em análise preliminar na área contábil, inconsistências de valores de cerca de R$ 20 bilhões (na data-base de 30/09/2022).

Apesar de a Companhia estimar que o efeito sobre o caixa real da companhia seja “imaterial”, o fato foi suficiente para que o diretor-presidente, o ex-Santander Sergio Rial, além do diretor de relações com investidores, André Covre, ambos recém-empossados, deixassem seus cargos. Ambos ficaram apenas 9 dias em seus respectivos cargos.

Além de Guerra, o conselho da Americanas S.A. também anunciou a criação de um comitê independente para “apurar as circunstâncias que ocasionaram as referidas inconsistências contábeis”. Rial seguirá assessorando o processo de investigação junto à comissão. Também prometeu que “manterá o mercado informado a respeito dos desdobramentos” da denúncia.

Em detalhes

Segundo a Americanas, no mesmo comunicado, o efeito das inconsistências sobre o caixa é “imaterial”, ou seja, não afeta o fluxo de caixa atual da empresa. Mas não é possível determinar, no momento, como essas inconsistências afetarão os resultados e o balanço patrimonial.

Rial, em conferência fechada transmitida em parte pelo canal do BTG Pactual no YouTube nessa quinta (11), e obtida pela Agência Reuters, afirmou que identificou “sinais de que talvez o nível de transparência e talvez a vontade da própria gestão em querer falar de problemas e desafios não estivesse tão fluída na organização como deveria”. As ações da empresa já era negociadas com forte queda na B3 nessa manhã.

O problema, segundo a empresa, está sobretudo na contabilidade relacionada ao financiamento de compras de fornecedores. E que por isso a empresa se tornou devedora de bancos e instituições financeiras, e essas dívidas “não se encontram adequadamente refletidas na conta fornecedores nas demonstrações financeiras”.

A última auditoria completa da empresa, feita pela PwC em 2021 e divulgada pelo Valor, não encontrou inconsistências. As demonstrações financeiras foram aprovadas sem ressalvas à época. A empresa de auditoria ainda não se pronunciou.

As estimativas ainda serão investigadas por auditores independentes e pela comissão recém-criada, e por isso estão sujeitas a confirmações e ajustes. E só então será possível determinar os impactos das inconsistências.

* com informações da Agência Reuters, do UOL e do Yahoo