Com Trump na Casa Branca, Europa repensa dependência energética

A reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos reacendeu uma preocupação antiga entre os países europeus: a segurança energética. Com a política externa americana cada vez mais voltada para os próprios interesses, e com a pressão por contratos inflexíveis para o fornecimento de gás natural liquefeito (GNL), a União Europeia volta a considerar um cenário que até pouco tempo era impensável — retomar negociações com a Rússia. Desde a invasão da Ucrânia, o bloco havia cortado laços energéticos com Moscou, reduzindo drasticamente as importações de gás russo. Para isso, diversificou fornecedores, investiu em infraestrutura de GNL e aumentou o uso de energias renováveis. No entanto, essa transição foi custosa e, em muitos casos, incompleta. O gás norte-americano passou a ocupar espaço no mercado europeu, mas a vitória de Trump mudou o tom da parceria. O novo governo exige contratos mais longos e menos regulação ambiental para manter o fornecimento, o que colide com as metas climáticas do Pacto Verde Europeu. Além disso, há receio de que os EUA usem o gás como instrumento de pressão política em momentos de tensão internacional.

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Diante desse impasse, a Comissão Europeia enfrenta um dilema: manter o alinhamento com os Estados Unidos e pagar caro por isso — tanto no campo econômico quanto no ambiental — ou buscar um pragmatismo geopolítico que pode incluir uma reaproximação, ainda que parcial, com o mercado russo. Essa possível reconexão com a Rússia não se dá por afinidade ideológica, mas por necessidade estratégica. Países como Hungria, Áustria e Alemanha já demonstram preocupação com o aumento dos custos e com a instabilidade no fornecimento. O risco, no entanto, é que essa volta represente não só um retrocesso ambiental, mas também um enfraquecimento da posição ética e diplomática da União Europeia no cenário internacional. O desafio europeu é grande: garantir segurança energética sem comprometer sua agenda climática e sem se tornar refém dos interesses das grandes potências. Em tempos de gás caro e clima instável, a verdadeira soberania energética talvez só venha com o investimento massivo em fontes renováveis e produção local. E esse é um movimento que exige coragem — e urgência.