Como construir uma liderança relevante? CEO da Atos destaca os pilares essenciais

Nelson Campelo, CEO da Atos para a América do Sul, não economizou nas palavras ao abrir sua palestra no Jornada Itaqui, evento que reúne os principais líderes de recursos humanos. “Não levem nada do que eu disser como uma verdade absoluta”, alertou. O aviso, mais do que uma precaução, parecia uma declaração de princípios: em tempos de mudança acelerada, não há espaço para conceitos imutáveis. O executivo, que há seis anos lidera a operação latino-americana da multinacional francesa de tecnologia, defendeu que o papel da liderança precisa se reinventar continuamente para não se tornar irrelevante.
Ao longo de sua fala, Campelo destrinchou os pilares que considera essenciais para liderar em um cenário de mudança constante. Entre eles, destacou a necessidade de adaptação, agilidade na tomada de decisões, aprendizado contínuo e a capacidade de equilibrar o curto e o longo prazo sem perder de vista a visão estratégica. “Se não estivermos preparados para mudar o tempo todo, não seremos líderes, seremos seguidores das circunstâncias”, afirmou.
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O DNA do novo líder
Para Campelo, a primeira característica indispensável de um líder hoje é a adaptabilidade. “Mesmo em empresas que não são de tecnologia, a tecnologia já é um fator de mudança. Nas empresas de tecnologia, então, isso se torna ainda mais rápido e intenso”, explicou. Segundo ele, resistir a mudanças ou operar sob modelos ultrapassados é o equivalente a condenar a empresa à estagnação.
Outro ponto importante é a agilidade. Em multinacionais, processos internos podem ser verdadeiros labirintos burocráticos, retardando decisões críticas. Para evitar essa armadilha, a Atos reformulou sua estrutura operacional, criando um modelo descentralizado que conferiu mais autonomia às lideranças regionais. “Isso nos tornou mais rápidos e assertivos”, afirmou Campelo. “O cliente não pode esperar pela nossa burocracia.”
O terceiro pilar é o aprendizado contínuo. “O mercado de tecnologia muda o tempo todo. Se você quer crescer, precisa estudar e se manter atualizado”, reforçou. O executivo contou que, em um encontro recente com 150 colaboradores, enfatizou que o aprendizado não pode ser apenas um esforço ocasional, mas um compromisso permanente. “Não há espaço para líderes que param no tempo e acham que a experiência do passado será suficiente para resolver os desafios do futuro.”
Por fim, Campelo abordou a necessidade de equilibrar curto e longo prazo. A pressão por resultados imediatos pode comprometer a construção de um futuro sustentável. “A mudança deixou de ser um projeto. Agora ela é contínua. Quem não souber lidar com isso ficará para trás”, alertou. Ele defendeu que o papel do líder é garantir entregas de curto prazo sem comprometer a visão estratégica. “Se você só pensa no curto prazo, sua empresa não terá futuro. Se só pensa no longo prazo, talvez não sobreviva ao presente.”
Transformação de dentro para fora
Nos últimos anos, a Atos passou por um processo de reposicionamento. Antes, a operação sul-americana era vista como secundária dentro da estrutura global. O desafio, segundo Campelo, foi criar uma direção compartilhada e uma identidade própria para a região. “Definimos três pilares para nossa estratégia: satisfação e fidelidade das pessoas, reconhecimento da marca e crescimento acelerado da receita”, contou.
A implementação do conceito OneAtos foi mais do que uma reestruturação. Ela exigiu mudanças culturais profundas. Os escritórios, antes divididos por marcas adquiridas, foram unificados em espaços abertos e colaborativos, reforçando um senso de pertencimento. A rotina de reuniões internas foi drasticamente reduzida, priorizando encontros com clientes. “Se não estamos ouvindo nossos clientes, estamos errando”, sentenciou Campelo.
Os resultados não demoraram a aparecer. A empresa cresceu dois dígitos ano a ano, contratou mais de mil profissionais em três anos e viu sua interação interna crescer 90%. A Atos também passou a figurar entre as melhores empresas para trabalhar no Brasil. “Isso não é sorte. É o efeito de um trabalho consistente, baseado em escuta ativa e na construção de um ambiente de aprendizado constante”, enfatizou o executivo.
O líder entre o protagonismo e o servir
No final da palestra, Campelo citou um lema que se tornou um norte para ele: “Seja leal ao seu futuro, não ao passado”. A frase resume o espírito da liderança que defende. Para ele, um líder precisa ser tanto protagonista quanto servidor. “Liderar é criar as condições para que as coisas aconteçam, e não ficar no caminho delas”, resumiu.
Ele ressaltou ainda que a liderança não pode ser um exercício de ego, mas um compromisso coletivo. “O líder precisa abrir espaço para que outros brilhem. Precisa construir um ambiente onde as pessoas se sintam seguras para inovar, errar e aprender.”
Ao fim da palestra, um participante perguntou qual conselho Campelo daria para quem busca se tornar um bom líder. Ele sorriu e respondeu sem hesitar: “Esteja presente. Lidere pelo exemplo. A melhor forma de engajar as pessoas é mostrando que você está engajado primeiro.”
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