Como os países dos Brics lidam com a governança digital?

A governança de tecnologia é um assunto prioritário para todos os países nos dias atuais, sendo que, entre os integrantes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), existem estratégias antagônicas, ou seja, nações caminhando para direções opostas. Ao longo deste artigo, você entenderá como cada país aborda os desafios da governança digital. Aqui no Brasil, há um alto investimento tanto da iniciativa privada quando dos governos voltado para o desenvolvimento tecnológico, bem como nas leis, sendo a LGPD de (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais – Lei 13.709 de 14 de Agosto de 2019) considerada um marco para governança de dados e privacidade, e mais recente o PL 2339/2022 voltado para tecnologias de Inteligência Artificial. Outro aspecto importante no Brasil é a pressão política direcionada para regulação do conteúdo da internet, sendo considerada por muitos, uma forma de censura, ferindo, assim, a liberdade de expressão.
Direcionando a análise para a estratégia russa, enxergamos um caminho no sentido de restrição e controle, onde em 2019 deram início ao processo de “Soberania Digital”, englobando uma série de restrições para navegação na internet, bem como outros tipos de mídia. Atualmente, o governo russo está desenvolvendo uma internet totalmente independente da rede global, ou seja, desconectando por completo o país do resto do mundo. Com isso, o governo passará a controlar 100% do conteúdo para a sua população e empresas.
Quando analisamos a estratégia chinesa, constatamos um cenário ainda mais restritivo, onde está estabelecida uma forte governança centralizada representada por um controle rigoroso sobre os dados e a internet. O governo chinês defende sua estratégia alegando buscar a segurança nacional. Esta estratégia torna a China, o país mais vigiado do mundo, onde até mesmo o reconhecimento facial com IA são utilizados para monitorar sua população.
Em contraste às restrições impostas por Rússia e China, temos a Índia, que está focada no seu projeto de inclusão e empoderamento digital, expandindo o acesso à internet e digitalizando serviços públicos, beneficiando milhões de pessoas. Por exemplo, o sistema de identificação biométrica chamado “Aadhaar” permite a verificação de identidade para o acesso aos serviços disponibilizados pelo governo, representando um grande avanço no processo de digitalização dos sistemas, embora também crie preocupações com a privacidade e o uso ético dos dados. A governança de tecnologia na Índia busca alcançar um equilíbrio entre expansão digital e proteção de dados, ao mesmo tempo em que incentiva a inovação para suportar seu rápido crescimento econômico.
Por último, mas não menos importante, a África do Sul enfrenta desafios significativos quando o assunto é inclusão digital. Mesmo assim, o país tem progredido na adoção de políticas de governança tecnológica, ainda mais com a Lei de Proteção de Informações Pessoais (POPIA). O governo sul-africano criou a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Digital, com o objetivo de incentivar a inovação e a melhora no acesso à internet para a população.
Observando todo esse contexto tecnológico, o especialista internacional Carlos Oliveira, M.Sc (c), diretor do Comitê de Governança da Associação Nacional dos Profissionais de Privacidade de Dados (APDADOS.org), recomenda cinco pontos para todos os profissionais de tecnologia da informação que desejam expandir seus trabalhos entre os países dos Brics:
Estudo detalhado dos países-alvo
Invista tempo em aprender sobre as culturas, economias e particularidades tecnológicas de cada país do Brics. Esse conhecimento pode ser adquirido por meio de cursos especializados sobre cada região, leituras de relatórios de mercado e análises de tendências tecnológicas locais. Familiarizar-se com as diferenças culturais e políticas ajudará a adaptar abordagens e a desenvolver uma perspectiva global.
Viagens de pesquisa e imersão cultural
Realizar viagens turísticas ou de negócios para esses países pode ser uma forma prática de entender o mercado e a infraestrutura local. Visitar feiras de tecnologia, eventos de negócios ou mesmo fazer um roteiro turístico com foco tecnológico permite que você observe de perto o ambiente de inovação e as demandas específicas do mercado, além de facilitar o networking com parceiros locais.
Estudo de inglês e outros idiomas regionais
O inglês é amplamente utilizado no Brasil, Índia e África do Sul, mas estudar o idioma principal de cada país pode fazer uma grande diferença. Aprender russo e mandarim, por exemplo, pode facilitar a comunicação e o acesso a materiais exclusivos. Além disso, muitos cursos de idiomas incluem aspectos culturais, o que ajuda a criar conexões mais autênticas e facilitadas no trabalho.
Cursos sobre regulamentações de privacidade e governança digital
Fazer cursos sobre regulamentações de privacidade, como a LGPD no Brasil, a Soberania Digital da Rússia, o Aadhaar na Índia, as diretrizes da China, e a POPIA na África do Sul, é essencial. Existem cursos online e workshops específicos sobre essas leis e práticas de governança digital, que podem ser obtidos em instituições locais ou internacionais. Esse conhecimento será útil para garantir conformidade e adaptar tecnologias às demandas locais.
Networking e participação em comunidades tecnológicas locais
Estabelecer contatos com profissionais de tecnologia de cada país ajuda a entender as demandas locais. Participar de comunidades online, como fóruns e grupos de redes sociais focados em governança tecnológica, além de eventos e conferências virtuais, abre portas para parcerias e colaborações. Muitos desses países também possuem incubadoras de inovação e hubs tecnológicos onde você pode se conectar com profissionais locais e entender o que está em alta no mercado.
O especialista Carlos Oliveira, que também é mestrando em administração com foco em tecnologia pela Florida Christian University, também aconselha que sejam feitas visitas em empresas de tecnologia nos países em questão, para que uma imersão real seja feita para de fato conhecer o dia-a-dia das operações que os profissionais lidam nesses países. Oliveira salientou que essa foi a principal ação de sucesso, antes de ter aberto sua empresa de consultoria de TI nos Estados Unidos.
A contextualização da governança digital nos países do Brics envolve a compreensão das políticas e regulamentações específicas de cada país, bem como a avaliação das desigualdades tecnológicas. Além disso, devemos considerar a infraestrutura de conectividade disponível e as parcerias internacionais estabelecidas. Ao analisar esses elementos, considero desafiadora a jornada da governança nos países do Brics para garantir a privacidade de dados e segurança sem impactar a inovação e o desenvolvimento.
Quer se aprofundar no assunto, tem alguma dúvida, comentário ou quer compartilhar sua experiência nesse tema? Escreva para mim no Instagram: @davisalvesphd.