Digitalização do setor de saúde aumenta no Brasil, porém LGPD engatinha

O uso de tecnologias pelos profissionais de saúde no Brasil teve um salto significativo quando comparado com o cenário anterior à pandemia, constatou o TIC Saúde 2022 lançado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) nesta segunda-feira (5/12).

De acordo com a pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), entre os enfermeiros, 81% deles já utilizam em 2022 dispositivos eletrônicos para anotações de enfermagem. Em 2019, esse número não ultrapassava os 52%. No caso de histórico e anotações, houve um aumento de 62% para 85% e imagens de exames radiológicos, de 42% para 65%, ainda referente aos dados disponíveis eletronicamente dos pacientes.

No caso dos médicos, houve aumento na disponibilidade de lista de medicamentos prescritos ao paciente (74% em 2019 para 85% em 2022).

“Com a maior adoção de sistemas eletrônicos pelos estabelecimentos de saúde, observamos em 2022 que os profissionais passaram a ter mais acesso a dados dos pacientes no formato eletrônico, o que pode impactar de forma positiva a assistência em saúde”, comenta Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br.

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No entanto, a 9ª edição da TIC Saúde revelou que, apesar de o percentual de estabelecimentos de saúde que possuem uma política de segurança da informação definida ter aumentado de 30%, em 2021, para para 39% em 2022, o percentual é ainda baixo quando se vê o aumento da digitalização dos dados de pacientes.

Alguns estratos, porém, apresentaram avanços mais significativos, na análise do estudo, como os estabelecimentos privados — metade deles possui uma política sobre o tema, enquanto nos públicos o percentual é 25%. No caso dos profissionais, mais de 60% dos que trabalham nos privados realizaram algum treinamento sobre segurança da informação. No caso dos estabelecimentos públicos, essa proporção é inferior a 15%.

“Esses resultados evidenciam a necessidade de maior atenção e investimento por parte dos estabelecimentos de saúde em relação à segurança da informação, principalmente em um contexto de expansão do acesso a dados dos pacientes em formato digital”, pondera Barbosa.

Já as ações adotadas pelos estabelecimentos ligadas à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), a pesquisa apontou que 41% dos estabelecimentos promoveram campanha de conscientização interna sobre a legislação, um aumento de nove pontos percentuais na comparação com 2021, quando foram registrados 32%. Verificou-se, também, uma disparidade entre os estabelecimentos públicos e privados no que diz respeito a medidas adotadas.

Entre aquelas investigadas, a prática mais frequente foi a promoção de campanhas de conscientização interna sobre a LGPD (56% dos privados e 25% dos públicos), seguida pela nomeação do encarregado de dados pessoais (47% dos privados e 17% nos públicos) e implementação de um plano de resposta a incidentes de segurança de dados (43% dos privados e 17% dos públicos).

Uso de novas tecnologias permanece baixo

A pesquisa TIC Saúde também buscou investigar o uso de novas tecnologias pelos estabelecimentos de saúde. Um número reduzido de estabelecimentos aplica a análise de Big Data. Em um universo de 120 mil estabelecimentos investigados pela pesquisa, cerca de 7.600 utilizam esse recurso, sendo que destes, cerca de 5.700 são estabelecimentos privados. A principal fonte de informações são os dados próprios dos estabelecimentos tanto os provenientes de fichas cadastrais, formulários e prontuários (76%) quanto os provenientes de dispositivos inteligentes e sensores (74%).

A Inteligência Artificial é utilizada por cerca de 3.500 dos estabelecimentos de saúde e está mais presente nos estabelecimentos privados (cerca de 3.200), enquanto a robótica é utilizada por cerca de 4.700 (cerca de 3.300 destes são privados).

A 9ª edição do TIC Saúde ouviu 2.127 gestores de estabelecimentos de saúde localizados em todo o território nacional entre abril e outubro de 2022. A pesquisa também entrevistou 1.942 profissionais de saúde.