Do tabu do dinheiro ao furor das criptomoedas

Meninos devem se concentrar principalmente em ganhar dinheiro, e meninas devem buscar, sobretudo, a “felicidade” (mesmo que isso lhes custe a liberdade financeira). Essas afirmações podem parecer exageradas para muitos leitores, mas há vários estudos que mostram que o “marco zero” da desigualdade de gênero está nas conversas entre pais e filhos ainda na infância. As meninas costumam receber mensagens sobre a felicidade em detrimento da independência financeira, enquanto os meninos não apenas ouvem falar sobre como ganhar dinheiro, como também recebem permissão tácita para serem ambiciosos. Felizmente, com o passar dos anos, cada vez mais mulheres estão se livrando desse tipo de mandato ou dando a ele um novo significado. Dinheiro e felicidade não são incompatíveis, e a independência das mulheres começa por suas contas bancárias. O fato de 2023 ter começado com o refrão de Shakira (“mulheres não choram, mulheres faturam”) dominando todas as plataformas musicais e as conversas nas redes sociais demonstra claramente que o pudor relacionado à ambição feminina começou a diminuir.

Creio que estamos diante de uma mudança transcendental: a geração de mulheres educada sob o tabu da geração de riqueza (implicitamente associada ao masculino) começa a assumir o controle de seu futuro financeiro. São as mesmas mulheres que, quando crianças, ouviam falar mais de “cuidar” do que de “correr riscos”. Joline Godfrey, autora do best-seller “Raising Financially Fit Kids”, lembra que, mesmo no caso da clássica experiência das crianças norte-americanas de montar uma banca de limonada, o comportamento dos pais é diferente em relação aos meninos e às meninas: no primeiro caso, elogia-se o risco; no segundo, escutam-se recomendações “de cuidado”.

No ritmo das cripto

Para além da narrativa de Shakira como pano de fundo, o ano de 2023 demonstra um processo de aceleração da independência financeira feminina através de dados muito concretos. Segundo uma pesquisa recente, as criptomoedas são o segundo ativo mais escolhido pelas mulheres (atrás apenas do dinheiro em espécie), e a taxa de adoção aos criptoativos está aumentando em um ritmo mais rápido do que a dos homens. A partir de minha vasta experiência como empreendedora e líder de uma empresa focada na democratização da riqueza, creio que esse é um indicador relevante do crescente desejo de autonomia financeira que muitas mulheres têm depositado nas criptomoedas. Ao mesmo tempo, evidencia uma perspectiva lúcida e uma visão de mercado que não se restringe aos investimentos de curto prazo.

Paralelamente, a ousadia das mulheres em investir nas moedas digitais, apesar dos preconceitos e temores que povoam o setor (especialmente após os momentos difíceis vividos no ano passado), mostra que o horizonte, a médio e longo prazo, é animador para elas. O próximo desafio será identificar a nova geração de criptomoedas que busca evitar a volatilidade e o anonimato. Essas características, às vezes erroneamente associadas a todas as moedas digitais, não são estáticas nem imutáveis. E sua transformação pode multiplicar oportunidades financeiras para milhões de mulheres, apesar dos tabus com os quais cresceram.