Economistas e especialistas alertam para riscos de ingerência no Banco Central

Economistas e especialistas ouvidos pela Jovem Pan defendem a autonomia do Banco Central. Eles disseram que a há justificativa para a taxa Selic [taxa básica de juros no país] estar alta como está atualmente: 13,75%. Para eles, sempre que há um cenário de incertezas, de instabilidade, há reflexos no mercado financeiro e no câmbio. Como o Brasil não produz tudo que consome, os preços dos produtos, inclusive dos alimentos, começam a ficar pressionados, mais caros. Mesmo já tendo disparado mais de 40% nos últimos três anos, por causa da pandemia da Covid-19. Segundo o economista do Ibmec Gilberto Braga as razões para manutenção dos juros elevados são de origem fiscal. “Como a inflação ainda resistente, em patamares elevados, isso tudo para a economia mostra que nós temos também um jogo político de fundo. O presidente da República tenta, de alguma maneira, dentro da sua visão, fazer com que a projeção dos juros caiam. Acho que ninguém no Brasil, nenhum economista, nenhum especialista, quer que os juros permaneçam altos. Mas enquanto o governo não definir qual vai ser a nova regra fiscal, qual vai ser a nova âncora, qual é a proposta para o endividamento público, de que maneira as políticas públicas serão financiadas daqui para frente, não existe espaço para uma queda repentina da inflação. O que faz com que os juros devam ser mantidos ainda em patamares elevados”, argumenta.

Já o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas, lembra que aumento da taxa básica de juros é um fenômeno global, que está sendo visto em muitos lugares por causa da pandemia da Covid-19 e que o BC não está fazendo nada de diferente de outras nações. Entretanto, segundo ele, no Brasil há problemas conjunturais e estruturais que fazem, há muito tempo, que a taxa Selic seja das mais elevadas do planeta. “As principais autoridades monetárias do mundo adotam a mesma ferramenta. É claro que o Brasil tem vários problemas, alguns de ordem estrutural, conjuntural, mas a taxa de juros aqui também funciona como um potente instrumento para conter o avanço da inflação. É claro que, como todo remédio, a taxa básica de juros também tem seus efeitos colaterais, ela impede o crescimento, a geração de emprego e renda, principalmente para os brasileiros menos favorecidos. Mas isso é algo transitório, não é duradouro. E é claro que manter uma inflação mais alta também acaba penalizando os mais pobres. Então, todos os benefícios sociais concedidos às famílias menos favorecidas acabam sendo parcialmente corroído pela inflação, se ela continua nesse patamar em que se encontra, muito distante da meta de inflação”, diz.

Nos últimos dias, integrantes do governo, inclusive o próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), trocaram críticas com o comando do BC, principalmente o presidente da instituição, Roberto Campos Neto. A expectativa do governo era de que a taxa poderia começar a cair após algumas sinalizações feitas no campo fiscal pelo Ministério da Fazenda. Mas não foi isso não ocorreu na última reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom), que manteve a Selic no mesmo nível. Nesta semana, no Rio de Janeiro, Lula chegou a dizer que a taxa é uma vergonha e que não havia justificativa para um patamar tão elevado. Ele conclamou empresários a criticarem e a cobrarem uma Selic mais baixa.

*Com informações do repórter Rodrigo Viga