Em meio a guerra comercial, acenos positivos dos dois lados do Atlântico

Oficialmente o telefone de Donald Trump ainda não recebeu a esperada ligação dos chineses em busca de um acordo. Apesar de dizer que muitas conversas ocorrem nos bastidores, fontes próximas à Casa Branca dizem que a China ainda não deu o passo necessário para viabilizar negociações que levem à trégua de novas tarifas. Ao confirmar que os tributos praticados aos bens chineses são, de fato, 145%, o mercado nas Américas oscilou negativamente, colocando em prejuízo as principais empresas norte-americanas mais uma vez. A postura adotada por Pequim é pragmática e envolve pensar minuciosamente o passo necessário para que seja feita apenas uma manobra certeira. Todavia, o momento exato do início desse diálogo ainda é desconhecido.
A relação entre os dois gigantes das finanças e manufaturas vai muito mal, mas até mesmo no olho de um furacão econômico, há movimentações que indiquem dias mais promissores para alguns países. Desde a posse de Donald Trump, os maiores temores dos aliados europeus se concretizaram. O abandono gradual da Ucrânia econômica e militarmente, ofensas gratuitas proferidas pelo vice-presidente JD Vance e uma guerra comercial. Os estreitos laços dos dois lados do Atlântico nunca estiveram tão frouxos em 80 anos, o que levou a Europa a repensar sua postura de alinhamento automático com os Estados Unidos e recomeçou uma corrida armamentista dentro do continente. O tratamento de destaque e preocupação oferecida aos países europeus por Washington DC, foi descartado, enquanto o protecionismo domina a agenda norte-americana.
Ao anunciar o tarifaço, Donald Trump não poupou seus aliados históricos, taxando severamente o Japão, Taiwan e até mesmo colocando tributos a Israel e à União Europeia. O bloco europeu foi tributado em 25% em seus carros exportados para os Estados Unidos e 20% em todos os demais produtos. Segundo o republicano, o déficit de mais de 230 bilhões na balança comercial com a UE, precisa ser reduzido imediatamente. Sem ter o mercado consumidor norte-americano tão facilmente acessível como outrora, dezenas de empresas europeias perderam bilhões de dólares em valor de mercado em apenas 10 dias. As projeções econômicas para a força motriz europeia, a Alemanha, se tornaram ainda mais baixas, indicando uma recessão técnica em 2025.
Divididos entre a retaliação imediata e a resposta a longo prazo, líderes e ministros do bloco se encontraram algumas vezes em poucos dias para discutir uma estratégia conjunta. Após muita deliberação, tarifas recíprocas de 25% para determinados produtos agrícolas e industriais foram aprovadas, tendo vigência a partir da terceira semana de abril. Todavia, ao concluir a aprovação, a presidente da comissão europeia, Ursula von der Leyen, ressaltou que tudo poderia ser negociado e até mesmo anulado em caso de uma reconsideração das taxas propostas por Trump.
Em um movimento considerado programado por alguns, e inesperado por outros, o presidente norte-americano, recuou em suas tarifas para pelo menos 75 países, garantindo que não serão taxados acima dos 10% dentro de 90 dias. A medida inclui a União Europeia, que viu sua alíquota cair pela metade em questão de horas e respirou mais aliviada. Em seguida, como um gesto de gratidão e de compreensão diplomática após a decisão divulgada, o bloco também recuou e voltou atrás com suas próprias tarifas aos bens estadunidenses.
Os últimos dias deixaram claro que o objetivo central dos Estados Unidos sob a nova administração Trump, é acima de reconstruir a economia norte-americana, desestabilizar a economia chinesa. Nesse cenário a Europa e os europeus são meros coadjuvantes, nações irrelevantes, por hora, para que o presidente alcance os seus objetivos. Contudo, esse pequeno sinal de afago, parece reacender a esperança europeia em reconstruir uma relação tão fundamental para sua estabilidade. Sonhar é preciso em tempos de crise para manter a altivez, mas a imprevisibilidade de Donald Trump deve ser considerada para que a Europa em sua nova realidade enfadonha, não interprete uma manobra estratégica dos Estados Unidos como o retorno do status quo.