Entenda a condição que causou a morte da jornalista Glória Maria

A dois dias do Dia Mundial de Combate ao Câncer, a jornalista Glória Maria morreu após enfrentar dois cânceres, um no cérebro e outro no pulmão. De acordo com comunicado da TV  Globo, ela tratava de metástases cerebrais e o tratamento havia deixado de fazer efeito nos últimos dias. De acordo com o Ministério da Saúde, o câncer de pulmão é o terceiro mais comum em homens e o quarto em mulheres no Brasil. A estimativa é que mais de 30 mil novos casos sejam diagnosticados por ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que para cada ano do triênio 2020/2022. O órgão ainda indica que o câncer de pulmão é a principal causa de morte por câncer entre homens e mulheres, representando aproximadamente 25% do total de óbitos de origem cancerígena. Já o câncer de cérebro é mais raro, com incidência de 11 mil novos casos por ano. Neurocientista PhD, Fabiano de Abreu Agrela explica que a condição de Glória Maria – as metástases – são células cancerígenas que se espalham por outros órgãos e que esse tipo de câncer é um dos que possuem maior probabilidade se espalhar pelo corpo até atingir o cérebro. “O câncer de pulmão é um dos cânceres com maior probabilidade de se espalhar para o cérebro. Aproximadamente 10% dos pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (NSCLC) têm metástases cerebrais no diagnóstico inicial e até 40% acabarão desenvolvendo tumores cerebrais durante a doença. Diferente do câncer cerebral, que se origina no cérebro e consiste em células cancerígenas cerebrais, as metástases cerebrais do câncer de pulmão ocorrem quando as células cancerígenas se desprendem do tumor nos pulmões e entram na corrente sanguínea ou viajam pelo sistema linfático até o cérebro, onde se multiplicam”, emendou.Segundo o especialista, à medida que os tumores cerebrais metastáticos crescem, eles podem danificar diretamente as células ou afetar o cérebro indiretamente, comprimindo partes dele ou causando inchaço e aumento da pressão dentro do crânio. Os primeiros sinais de alerta podem ser sutis e facilmente atribuídos a outras causas, incluindo quimioterapia. Ele ainda ressalta que a morte não foi por câncer no cérebro e sim de metástases cerebrais. “O nome certo a dar é câncer de pulmão com metástase cerebral ou metástase de câncer no cérebro”, pontua.

Neurocirurgião do Hospital Sírio Libanês e Mestre em neurociências pela Unicamp, Henrique Lira complementa que apenas tumores malignos são as metástases cerebrais. “Ele é oriundo de um câncer em outra região do corpo. Então, essas células cancerígenas acabam migrando para corrente sanguínea, na maioria das vezes, e se implantam em outra região do nosso corpo. E da mesma forma acontece com o cérebro, né? Então, as metástases cerebrais são lesões malignas que na maior parte das vezes podem precisar de tratamento cirúrgico e também associado à quimioterapia e radioterapia. Suspeitamos de um tumor cerebral quando o paciente apresenta algum tipo de sintoma neurológico novo e atípico de evolução progressiva. Por exemplo, uma dor de cabeça que o paciente nunca teve e passou a ser recorrente, ter todos os dias, em um caráter progressivo e intenso. Além disso, outro sintoma são síndromes epiléticas, crise convulsiva ou alguma outra alteração em que há suspeita de uma crise epilética que o paciente nunca teve antes. Quando é identificado uma suspeita na ressonância magnética, temos que identificar qual a natureza dessa lesão cerebral. Muitas vezes o paciente precisa ser submetido à cirurgia. Inclusive, de urgência para que a lesão seja retirada e enviada para biópsia, que é o exame mais confiável para fechar diagnóstico. Quando se constata um tumor maligno, na maioria das vezes, é preciso de um tratamento complementar com quimioterapia e radioterapia”, esclarece. Lira finaliza afirmando que é sempre um desafio para o paciente, família e equipe médica enfrentar esse diagnóstico.