Espelho meu: férias é período movimentado para a cirurgia plástica

A estimativa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica para o ano que acaba de fechar foi marcante. Afinal, de acordo com os dados, foram realizados cerca de 2 milhões de procedimentos em 2023. O Brasil já configura o segundo país do mundo em que mais se realizam procedimentos cirúrgicos, sendo a lipoaspiração ainda a predileta de muitas e muitos. Sim, os homens também entraram nessa onda, e cresce cada vez mais o número deles em consultórios e em busca de melhorar o visual. Estar bem consigo reflete nas questões não só pessoais como também profissionais e até de saúde mental. “Costumo dizer que toda queixa de paciente deve ser cuidadosamente acolhida. É preciso priorizar a expectativa dele, balanceando obviamente a experiência na técnica adquirida com um desenho do resultado que podemos, juntos, alcançar. Sim, a cirurgia plástica não é algo exato, depende de um pré, um durante e um pós muito delicado, em que grande parte da responsabilidade do que se fez também é do próprio paciente, é preciso entender isso”, relata Dalvo Neto, cirurgião plástico formado pela Universidade Federal do Ceará, que atua na Santa Casa local e contabiliza mais de 20 anos de experiência.

Para o especialista, não existe procedimento sem risco, mas sim, a conduta de minimizá-los. “Os métodos menos agressivos têm o ponto positivo de diminuírem a invasividade, porém oferecem uma resposta bem inferior aos métodos invasivos. Em relação aos riscos, todo tipo de procedimento realizado gera riscos, obviamente em proporções diferentes, mas todo procedimento está sujeito a riscos que devem ser elucidados aos pacientes de maneira clara e detalhada.” A lipoaspiração mudou o cenário da cirurgia plástica mundial e já ultrapassou os implantes de prótese mamária, em especial no Brasil e nos EUA.

A pedido da coluna, o médico respondeu a 5 perguntas polêmicas quando o assunto é cirurgia plástica

O verão não é a melhor época para se realizar um procedimento

Mito. ⁠A época do verão tradicionalmente é um período de “alta estação”, tendo em vista o período de férias, de melhor repouso (diante da folga do calendário escolar) e, teoricamente, propício a um período maior de descanso. É claro que alguns cuidados se fazem necessários com relação à exposição solar e cumprimento das medidas do pós-operatório com execução de drenagens e todos os protocolos solicitados, mas é uma época de muitas intervenções e independentemente da estação, mantém-se a responsabilidade do paciente em realizar o que o médico solicita para o sucesso do resultado da cirurgia.

A lipoaspiração é uma cirurgia para emagrecimento

Mito. A lipoaspiração é uma cirurgia destinada ao tratamento de gordura localizada e não está ligada ao emagrecimento. Aliás, temos muitos problemas com relação a esse tipo de pensamento, pois existe uma síndrome de reganho de peso e até aumento de peso em pacientes submetidos à lipoaspiração que não fazem o controle nutricional adequado e passam a ganhar de maneira aleatória um novo aumento de gordura, que gera irregularidades no desenho corporal executado durante o procedimento. É preciso entender que esse procedimento melhora o contorno corporal, mas o paciente deve fazer sua parte com uma dieta balanceada, exercícios e até tratamentos estéticos complementares para manter o resultado por mais tempo.

Existe limite de idade para a realização de cirurgia plástica

Mito. Hoje não existe limite preciso de idade. A longevidade dos tempos tem se tornado um tabu facilmente quebrável a pacientes outrora ditos “velhos para uma cirurgia plástica”, mas diante dos cuidados com saúde mais adequados podem, sim, serem submetidas a intervenções cirúrgicas em idades mais avançadas, mediante a avaliação clínica adequada do ponto de vista clínico.

Preciso trocar a prótese de mama a cada 10 anos

Depende. Os implantes antigos carregavam essa ideia por conta da falta de avanço tecnológico e, em alguns casos, até rejeição corporal. Atualmente, utilizamos os chamados nano implantes, que precisam ser implantados abaixo do músculo, pois não se fixam a nada, precisam de fios ou suporte muscular (alças musculares do peitoral maior ou outros), mas causam menos reação tecidual e, consequentemente, esperamos que passem mais de 10 até 20 anos sem necessitarem troca. O ideal é conversar sempre com o médico e, de maneira detalhada, entender a cirurgia para que cheguem juntos a uma boa escolha.

Um cirurgião plástico pode se negar a realizar uma intervenção

Verdade. ⁠Essa é uma questão polêmica e ampla. Temos profissionais de boa diversidade, mas entre nós cirurgiões plásticos, em especial membros da SBCP, temos um código de ética apurado e buscamos sempre diagnosticar extremos como o TDC (transtorno dismórfico corporal), em que pacientes com distúrbios de falta de aceitação da imagem própria procuram uma perfeição inalcançável e buscam detalhes inatingíveis. Pacientes com essa conduta devem ser encaminhados a profissionais apropriados. Além disso, somente o profissional de saúde, no caso o médico, pode avaliar riscos e benefícios do que o paciente pede ou busca e é necessário transparência para que o sucesso seja atingido de maneira natural para ambos.

Independentemente do motivo, é preciso primeiro internalizar o porquê da intervenção que você pensa em fazer, com o pensamento de que não existe fórmula mágica. Esta colunista nunca realizou uma cirurgia plástica, mas por ser bariatricada, entende que, em qualquer caso, existe a parcela de responsabilidade do médico, ao realizar o procedimento, a do paciente, ao seguir a conduta solicitada pelo médico, e a da vida, que nos mostra que precisamos fazer escolhas. Que a saúde esteja sempre entre as suas escolhas primárias!