Estudante de 45 anos vítima de etarismo registra boletim de ocorrência contra colegas

A estudante Patrícia Linares, de 45 anos, do curso de Biomedicina da Unisagrado, em Bauru, no interior de São Paulo, que foi vítima de deboche por parte de três colegas da universidade, fez um boletim de ocorrência contra elas nesta semana. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP), o caso foi registrado como injúria e difamação na Delegacia de Bauru, onde segue sendo investigado. O etarismo ou velhofobia corresponde à discriminação por idade contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos. Em 10 de março, viralizou um vídeo em que três estudantes debocham de uma universitária pelo fato da colega ter mais de 40 anos. Nele, uma delas começa perguntando como se “desmatricula” uma colega de sala. Logo depois, outra responde:Ela tem 40 anos. Já era para estar aposentada”. A responsável pela filmagem ainda disse: “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade. Não sabe nem ver o Google”.

Internautas criticaram as jovens e se solidarizaram com a universitária ofendida. A Unisagrado lamentou a atitude. “Acreditamos que todos devem ter acesso à educação de qualidade, desde pequenos até quando cada um quiser, porque educação é isso: autonomia. Isso tudo faz sentido para nós”, declarou. Dois dias após o vídeo viralizar, as três estudantes que debocharam da universitária desistiram do curso de graduação. A informação foi confirmada pela Unisagrado. Em contato com o site da Jovem Pan, o centro universitário informou que um processo disciplinar foi aberto para apurar a conduta das estudantes. Porém, durante o processo, as três pediram a desistência do curso. “Dessa forma o processo perdeu o objeto e por isso foi finalizado”, disse a universidade.

A defesa de uma das estudantes divulgou nota pelas redes sociais na qual afirma que a jovem tem sofrido ameaças e linchamento virtual. Segundo o comunicado, a “tentativa de criminalização e as suposições quanto à possíveis atos ilícitos no âmbito civil, ultrapassam a medida do razoável”. Ainda segundo a defesa, “tais questões geraram repercussão na saúde mental, pois os valores morais recebidos de sua família são incompatíveis com o desejo de inferiorizar um semelhante, independentemente do que vem sendo veiculado”. O comunicado prossegue, afirmando que o preconceito, seja ela qual for, “não faz parte dos valores disseminados pela estudante, de maneira que o episódio reforçará sua busca por posições que se coadunem com seus princípios éticos e morais em seu cotidiano”. Por fim, a defesa diz que lições serão aprendidas com o episódio e que o ocorrido “não deve servir-se ao papel de oprimir, calar, envergonhar ou ameaçar jovens, cuja trajetória ainda se inicia”.