EUA ganham apoio de Japão e Holanda para lesar indústria de chips da China

Os EUA convenceram dois outros países a se juntarem a eles na expansão da proibição de exportação de tecnologia para fabricação de chips para a China, de acordo com uma publicação da Bloomberg. A medida pode prejudicar a produção local de chips da China, pois existem poucas, se é que existem, fontes alternativas para as tecnologias sofisticadas necessárias para a fabricação de semicondutores modernos.

Como parte de uma guerra comercial mais ampla com a China, os EUA buscaram o embargo de tecnologia de chips do Japão e da Holanda, onde estão sediados alguns dos maiores fabricantes mundiais de equipamentos de fabricação de semicondutores. O país impôs restrições às exportações de chips para a China pela primeira vez em 2015, estendendo-as em 2021 e duas vezes em 2022. As restrições mais recentes foram introduzidas em dezembro.

Os EUA também já proibiram as exportações de hardware de inteligência artificial, como unidades de processamento gráfico (GPUs), unidades de processamento de tensor (TPUs) e outros circuitos integrados específicos de aplicativos avançados (ASICS) e os mais recentes equipamentos de litografia ultravioleta extrema (EUV) usados para fazer eles, e o governo holandês fez o mesmo. A Holanda é o lar da empresa ASML, a única fabricante de ferramentas EUV.

Os EUA agora persuadiram a Holanda e o Japão a se juntarem a eles na proibição da exportação de alguns equipamentos de litografia ultravioleta profunda (DUV) um pouco mais antigos. A ASML também faz isso, enquanto o Japão abriga fabricantes de equipamentos DUV, como Canon, Nikon e Tokyo Electron Ltd., tornando os dois países fundamentais para o plano dos EUA de corroer o domínio da China no mercado mais amplo de microchips.

Em contraste com os chips mais novos, como os usados nos iPhones mais recentes da Apple, feitos com máquinas EUV, os microchips maiores e mais antigos feitos com equipamentos DUV são usados principalmente nos setores automotivo e industrial.

Os três países finalmente chegaram a um acordo sobre restrições à exportação de alguns equipamentos DUV em 27 de janeiro de 2022, informou a Bloomberg.

“Esta é uma escalada significativa, pois impede a entrada e o progresso da China no setor de ponta e dificulta sua atual indústria de semicondutores”, disse Josep Bori, Diretor de Pesquisa de Inteligência Temática da GlobalData, empresa de analytics e consultoria.

Em outubro do ano passado, o governo Biden impôs restrições a certas exportações para a China para reduzir sua capacidade de produzir semicondutores mais novos, menores e mais inteligentes.

Essas restrições incluíam uma proibição de exportação de chips de computação avançados e dispositivos que os continham, e certos itens de fabricação de semicondutores, incluindo máquinas de litografia ultravioleta extrema.

Então, em meados de dezembro, o governo expandiu essas restrições para impedir que outras 36 instituições chinesas e fabricantes de chips acessassem a tecnologia de chips dos EUA, incluindo a Yangtze Memory Technologies Corporation (YMTC), a maior fabricante terceirizada de chips do mundo.

A proibição de exportação incluiu restrições a semicondutores usados em hardware de inteligência artificial, como unidades de processamento gráfico (GPUs), unidades de processamento de tensor (TPUs) e outros circuitos integrados avançados específicos de aplicativos (ASICS).

Discussões a portas fechadas

A combinação de restrições pelas três nações pode ser a resposta para os problemas dos EUA, já que as restrições anteriores podem não ter sido suficientes para frustrar o plano da China de fabricar chips avançados ajustados para tarefas de inteligência artificial, disse Asif Anwar, Diretor Executivo de Práticas Automotivas Globais da Strategy Analytics.

O apoio do Japão e da Holanda pode ajudar os EUA a impedir que a China fabrique semicondutores mais avançados, acrescentou Anwar.

As discussões entre os três países foram realizadas em particular, sem planos de anunciar o resultado, disse a Bloomberg. Ele citou fontes dizendo que a Holanda expandirá suas restrições à ASML Holdings para impedir que a empresa exporte algumas máquinas de litografia DUV, cruciais para linhas industriais de manufatura de chips eletrônicos. Da mesma forma, o Japão imporá proibições semelhantes à Nikon Corporation, disseram as fontes.

Essas empresas são fundamentais, disse Anwar, da Strategy Analytics. “Empresas como ASML e Nikon podem desempenhar um papel maior para garantir que a China não tenha a capacidade de fabricar internamente os chips mais avançados que permitirão o próximo estágio de aplicativos baseados em IA em datacenters de TI/corporativos, veículos autônomos e outros mercados”, disse.

“Atualmente, o CEO da ASML espera que as vendas na China, em 2023, permaneçam estáveis, apesar das restrições e, portanto, isso está limitando a eficácia das políticas de controle de chips dos EUA”, acrescentou Anwar.

A ASML registrou receita de € 21,2 bilhões (US$ 22,7 bilhões) em 2022. A China comprou 14% dos sistemas fabricados.

Pressão política

Os EUA parecem estar usando sua influência política em nível global para atrair nações como a Holanda e o Japão para a mesa de discussão, acreditam os especialistas.

“Não acreditamos que a conformidade da ASML com essas proibições seja apenas uma questão de boa vontade (então, enfim, pressão política). O fato é que os EUA têm jurisdição total sobre a Cymer, subsidiária da ASML em San Diego – a única dona da propriedade intelectual e fabricante de um componente crítico, a fonte de luz de litografia de plasma produzido a laser (LPP) EUV – o que significa que Washington efetivamente detém o botão nuclear”, disse Bori, da GlobalData.

Isso também significa que os EUA têm o poder de interromper significativamente os negócios EUV da ASML se a empresa não cumprir as proibições de exportação mais amplas propostas, disse Bori.

Além disso, a equipe de gerenciamento da ASML fez declarações públicas nas últimas semanas, destacando o impacto desigual das proibições de exportação da China na ASML em comparação com seus pares dos EUA, como Applied Materials, KLA e Lam Research.

“Certamente o governo holandês é sensível às reivindicações da ASML e seus próprios interesses nacionais, e discussões difíceis, levando em consideração a disputa comercial em andamento, estratégia industrial, segurança nacional e relações diplomáticas, devem ocorrer durante reunião oficial privada”, disse Bori.

Resposta da China

Quaisquer novas restrições que surjam do lado do Japão e da Holanda com os EUA podem encorajar os chineses a procurar outras tecnologias e acelerar o desenvolvimento de suas próprias capacidades, disse Anwar.

“Assim, por exemplo, devemos esperar uma mudança dos processadores Intel x86 e baseados em ARM para a arquitetura de conjunto de instruções de padrão aberto RISC-V para se tornar parte da solução que as empresas chinesas desenvolvem”, disse ele.

Com o tempo, isso colocará a base internacional de fornecedores de semicondutores em desvantagem, porque a indústria chinesa não dependerá mais de sua tecnologia, disse Anwar, acrescentando que isso pode até abrir outra frente competitiva.

“Se essas soluções baseadas em RISC forem aceitas internamente como adequadas para o propósito, elas também poderão ser vendidas internacionalmente para outros países”.

No entanto, a China tem lutado com seu programa Made-in-China 2025, disse G. Dan Hutcheson, Vice-Presidente da TechInsights, empresa de pesquisa de mercado.

Sob a bandeira do Made-in-China 2025, o país estabeleceu uma meta de dez anos de fabricar 70% dos principais materiais dos produtos industriais no mercado interno até 2025 – incluindo semicondutores e equipamentos de fabricação de semicondutores.

“Como se viu, copiar o equipamento provou ser muito mais difícil para a China, em comparação com o Japão construindo sua indústria de equipamentos na década de 1970”, disse Hutcheson.