Evox quer encurtar jornada de corporações em busca de inovação

Gilmar Batistela é imediatamente reconhecido pela fundação e comando da Resource IT, na qual esteve por quase 28 anos. A integradora tecnológica teve forte presença no mercado financeiro e foi vendida em junho de 2019 para o Grupo Cimcorp, e depois unificada na operação da atual Qintess, de Nana Baffour.

Durante os anos em que esteve à frente da Resource, Batistela experimentou, em diferentes níveis, o até então complicado relacionamento entre corporações e pequenas empresas inovadoras, as startups. Na própria Resource, por volta de 2014, incumbiu executivos da empresa da tarefa de desbravar o Vale do Silício, nos EUA – que naquela época era o mais famoso, e um dos poucos, celeiros de startups no mundo.

“Eu conversava muito com os clientes e procurava entender as tendências. E percebi que esse movimento de mão de obra intensiva [em TI] tinha uma data para ser reduzido, principalmente entre os bancos”, conta ao IT Forum o executivo. Essa perspectiva de futuro em que corporações e startups caminhariam juntas, no entanto, esbarrava em alguns problemas.

“Analisamos muito o mercado e verificamos que havia um gap entre uma boa solução feita por uma startup B2B, que é o nosso foco, até chegar a uma grande empresa”, relembra. “Quando fiz a venda [da Resource], um dos motivos era esse projeto que estou lançando agora. Como consegui deixar isso como projeto meu e não vender, foi um grande motivador.”

Parte das grandes empresas acabou optando por criar modelos de inovação aberta, ou fazer parcerias com ecossistemas estabelecidos, mas o tempo e o investimento para garimpar e obter soluções seguras é grande, assim como o nível de fracasso, alega Gilmar. Mesmo grandes ideias podem morrer pelo excesso de empecilhos, diz.

Batistela vendeu ao Cimcorp as operações da Resource no Brasil, no Chile e na Colômbia, mas manteve os escritórios nos EUA e no México. Passados os três anos estabelecidos pela cláusula contratual de não-concorrência, além de uma pandemia global que reduziu o ritmo dos planos, o executivo volta ao mercado com a evolução da operação que seguiu sob seu controle, e agora batizada de Evox Global.

O objetivo da empresa, que conjuga escritórios na Califórnia e no Brasil, é facilitar a compra de soluções inovadoras por parte das grandes companhias certificando as startups. A pretensão da empresa é agir como “agente facilitador de negócios”, dando mais agilidade e segurança a essas transações.

Como funciona?

A proposta da companhia é preencher uma lacuna: segundo Batistela, em busca de inovação, muitas empresas investem em soluções ou startups muitas vezes não preparadas para atender requisitos de homologação, bastante rígidos no caso das organizações de grande porte, como bancos, por exemplo.

“Eu idealizei fazer uma curadoria das soluções, entender quais resolveriam problemas de negócio do cliente. Para chegar lá com segurança tive que aportar muito conhecimento do nosso time, e trabalhar esse processo”, explica o executivo. “São 67 pontos [de certificação], que vão desde estrutura societária, sustentabilidade, cibersegurança, o que agrega aos negócios… Foi uma jornada longa, não é um processo tão fácil.”

Ele explica que o processo começou indo ao mercado e buscando diretamente startups, tanto no Brasil como nos EUA e Europa. Depois, o time da Evox passou a procurar alguns ecossistemas de startups específicos. Foram cerca de 500 startups avaliadas, com atualmente 50 delas certificadas, com soluções para diversas indústrias.

Batistela diz que a meta é chegar ao fim de 2023 com uma centena de startups certificadas. “Queremos atender qualquer indústria”, diz o executivo, mencionando que parte considerável delas (de 15 a 20%) atuam com soluções de ESG. Outros setores já atendidos incluem indústrias e serviços financeiros, além de soluções mais transversais, para backoffice, marketing e vendas, por exemplo.

É possível buscar soluções diretamente no site da companhia. A maioria das empresas certificadas é brasileira, o que sem dúvida facilita a entrada da empresa no mercado nacional, considerando que são soluções pensadas para a realidade local. Mas também há startups europeias, israelenses e chinesas, entre outras.

A metodologia desenvolvida pela companhia, que passa por revisões e evolução constante, segundo o fundador, promete transformar linguagem técnica em linguagem de negócio, facilitando a contratação. A intenção é permitir aos executivos das corporações identificar com rapidez que solução é mais adequada aos desafios específicos.

Para construir o modelo, a Evox diz ter investido até aqui cerca de R$ 15 milhões, incluindo construção de infraestrutura tecnológica, instalações e profissionais.

“Estamos construindo esse ecossistema mundial, ver o que está acontecendo lá fora e podemos trazer muito rapidamente. Mas temos também a motivação de valorizar o empreendedor brasileiro, porque tem muita coisa boa”, ressalta. “A Evox acaba sendo uma ponte para realizar os projetos dos empreendedores e alcançar os clientes.”

No modelo de negócios da Evox, a empresa assume o contrato entre startup e corporação – e os riscos – e recebe uma fatia. Se a grande empresa ganha pela redução do risco inerente à inovação, para a startup a vantagem é principalmente o ganho de escala, diz Batistela, pois ela passa a alcançar mais empresas com suas soluções já devidamente certificadas.

“Zerar as falhas é impossível, mas minimiza muito. Alcançamos um nível de segurança muito grande”, alega.

Estrutura e futuro

Batistela é o único investidor da Evox até o momento. Trata-se, como ele mesmo frisa, de um projeto individual. Mas “a ideia não é ficar sozinho”, ressalta, dizendo que já há interessados em aportar dinheiro no negócio e escalá-lo, “inclusive mundialmente”. A meta é chegar a vários mercados globais, mas capital será necessário para contratar consultores de venda e melhorar a plataforma, além de certificar mais startups.

“Acredito que vamos ter investidores. Não tão cedo, mas talvez em um ou dois anos”, diz.

Atualmente a empresa tem 10 executivos, incluindo nas áreas de venda e processos. Além de Batistela como CEO, estão na empreitada Rodrigo Buono (CTO e CSO), Leomar Oliveira (CINO), Fabiana Batistela (CMO) e Wagner Kojo (líder da operação brasileira). Flavio Pripas (Digibee), Felipe Pontieri (Dasa) e Paulo Guzzo (Innova Capute) atuam como conselheiros.

Otimista, o fundador da Evox evita falar em números de faturamento ou clientes para o primeiro ano de operação. Diz que tem entre 40 e 50 novos clientes no pipeline, interessados por números distintos de soluções, além de uma “esteira com um monte de startups”.

“Minha expectativa é ter um crescimento exponencial”, diz.