Exclusivo: Conselho Deliberativo do São Paulo investiga viagem suspeita à Europa feita com dinheiro do clube

A semana segue agitada nos bastidores do Morumbi. Após empate em partida contra o Ituano, pelo jogo de ida da terceira fase Copa do Brasil, outro assunto ganha a atenção nos corredores do São Paulo: a investigação de uma viagem feita por dois membros da diretoria em 2020, ainda sob a gestão do ex-presidente Leco. O Conselho Deliberativo do Tricolor Paulista levará à votação um relatório feito pelo Conselho Fiscal referente à uma viagem feita em setembro daquele ano, dos dias 20 a 27 de setembro, por dois membros da Gestão Leco: Elias Barquete Albarello, o então diretor executivo financeiro do clube, e Rodrigo Roquette Gaspar, então diretor administrativo do clube e atual membro do Conselho Deliberativo. Os destinos foram as cidades Madrid e Barcelona (Espanha), além de Lisboa (Portugal).

A justificativa da viagem para a capital espanhola foi uma participação no congresso World Football Summit, um dos mais renomados no planeta quando trata-se de futebol. Já a viagem para Barcelona teve como alegação uma visita ao museu do Barcelona, buscando analisar a forma de atuação do clube e suas práticas com torcedores, e assim trazer as informações para serem aplicadas ao Tricolor Paulista. No entanto, após a jornada, nenhum relatório foi apresentado e nenhuma reunião oficial foi feita para tratar do assunto. O último destino, a cidade de Lisboa, em Portugal, recebeu como justificativa, reportada em audiência por Elias Albarello, uma “reunião com um possível investidor”. Entretanto, nenhum contato oficial chegou ao São Paulo e nenhuma formalização foi feita. Todos os gastos envolvidos na viagem foram computados na conta do São Paulo. A reportagem do Grupo Jovem Pan teve acesso ao documento de prestação de contas da viagem, que possui gastos como 82 euros somente em gorjetas de hotelaria e restaurantes, 28,35 euros gastos em pastéis de belém, gastos com ônibus de city tour (turismo), museus e até mesmo o valor de 1 euro para pagamento do uso de um elevador panorâmico em um shopping center (que possui escada rolante gratuita). A prestação de contas foi assinada pelos responsáveis pela viagem e incluía também o consumo de bebidas alcóolicas.

O material contido na prestação de contas foi inicialmente divulgado pelo “UOL”, em matéria publicada pelo jornalista José Eduardo Martins, atual diretor de comunicação do São Paulo, no dia 6 de agosto de 2020. A sentença formalizada pela comissão de Ética do São Paulo alega que o relatório, no entanto, possui diversas inconsistências. Um dos pontos levantados é a compra do pacote de city tour pela cidade de Barcelona, quando o único objetivo da viagem seria a visita ao museu. O documento de compra também apresenta que Rodrigo e Elias se dirigiram à Praça Catalunha, em sentido oposto ao museu do Barcelona. Outro fato que gera estranheza no relatório se diz respeito à viagem para Madrid, sob justificativa de participação no congresso do futebol: em depoimento, Rodrigo Gaspar afirma que o evento duraria das 9h às 19h, no entanto, a prestação de contas apresenta 7 despesas de taxi, city tour e 12 passagens de metrô. A representação, que deverá ser votada pelo Conselho Deliberativo do São Paulo em reunião na próxima segunda-feira, 17, classifica a viagem como “passeio e excursão” com gastos suportados pelo clube e busca condenar Rodrigo Gaspar, atualmente conselheiro do Tricolor Paulista, a 240 dias de suspensão, além de declarar sua perda de mandato e o tornar inelegível por 7 anos e 6 meses.

Em sua defesa apresentada à comissão de Ética, Rodrigo Gaspar afirma que não há embasamento para qualquer condenação ou punição. Dentre os pontos apresentados, endossados também por Elias Albarello, Rodrigo Gaspar afirma que a viagem para a World Football Summit foi feita por um representante da LaLiga espanhola no Brasil, e que este mesmo havia sugerido a visita dos diretores do São Paulo à estrutura do Barcelona, entendendo que poderia contribuir muito com ideias para profissionalização da gestão. A parada em Lisboa teria sido acertada baseada em uma visita ao Benfica e um encontro com representantes de fundos internacionais que o São Paulo negociava captação de recursos. Gaspar também afirma que todos os compromissos só foram confirmados após consentimento e incentivo do então presidente do São Paulo, Leco. Procurados pela reportagem do Grupo Jovem Pan, Rodrigo Roquette Gaspar e Elias Albarello afirmaram que preferem não se manifestar e que mantém as versões dadas em depoimento à Comissão de Ética do São Paulo. Já o clube, em contato com a JP, disse que o caso está no Conselho Deliberativo seguindo os devidos trâmites.