Expansão dos Brics traz desafios diplomáticos para o Brasil

A expansão dos Brics, com adesão do Irã e convite à Cuba, além da presença de Rússia e China, traz desafios adicionais para a diplomacia brasileira. Se fosse em outros tempos, na época da fundação do bloco em 2009, a presença brasileira nos Brics não traria maiores problemas. No entanto, de lá para cá o mundo mudou. De 2009 até hoje, as tensões geopolíticas aumentaram consideravelmente. Após a eclosão da guerra com a Ucrânia, a Rússia passou a ser formalmente inimiga dos EUA, e a China cresceu como grande adversária no campo geopolítico.
A ordem unipolar, sob hegemonia americana deu lugar ao mundo bipolar, com a recriação da Guerra Fria do século XXI. De um lado EUA, apoiado pela União Europeia, e do outro, o bloco russo-chinês, com apoio de vários países emergentes. Esse cenário trouxe um freio no processo de expansão da globalização. Em vez de globalização, economistas atualmente falam em fragmentação diante do aumento do risco geopolítico. A fragmentação nada mais é que o processo pelo qual países optam por produzirem bens “em casa” ou em nações próximas que não trazem riscos geopolíticos, mesmo que isso represente uma oneração do processo de produção.
A Alemanha, por exemplo, após a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia passará a pensar duas vezes em comprar energia da Rússia. Mesmo que a importação de gás natural seja economicamente mais favorável, a Alemanha tem receio de que o gás (energia) seja utilizada como uma arma de guerra. Além da guerra entre Rússia e Ucrânia, há tensões geopolíticas no Oriente Médio (Israel x versus Irã) e na China (independência de Taiwan). Nesses embates, os EUA apoiam Ucrânia, Israel e Taiwan, enquanto China, Rússia e Irã fazem parte dos Brics.
É sob esse contexto complicado que o Brasil está. Historicamente somos aliados dos EUA, nosso segundo principal parceiro comercial atualmente. Além disso, de um modo geral, a sociedade brasileira defende a democracia e a liberdade individual nos aproximando dos valores norte-americanos. Por outro lado, fazemos parte dos Brics, com países adversários geopolíticos dos EUA e com valores bem distantes dos nossos.
No entanto, no mundo real, não dá para o Brasil deixar de fazer negócios com a China (principal parceira comercial) e nem com a Rússia (fornecedora de fertilizantes ao nosso agronegócio). Assim como também não é possível de deixar de fazer negócios com EUA e União Europeia. Tal situação traz uma complexidade adicional para a diplomacia brasileira, que historicamente conseguiu agir de maneira pragmática, abrindo espaços econômicos e comerciais com vários países.
É fundamental que o Brasil aproveite os Brics para estreitar relações comerciais e econômicas com os países membros, sem declarar apoio geopolítico e ideológico a nenhum deles. Se optarmos por menos pragmatismo e mais ideologia, trilharemos um caminho perigoso no campo das relações internacionais, com prejuízos à sociedade brasileira.