Fraude permite exportação ilegal de madeira do Pará

Uma investigação conduzida pela ONG Environmental Investigation Agency (EIA) revelou que madeira retirada ilegalmente de áreas protegidas no Pará está sendo exportada para os Estados Unidos e países da Europa com documentação oficial aparentemente regular. Segundo o relatório, empresas paraenses manipulam o Documento de Origem Florestal (DOF), principal instrumento de rastreabilidade da madeira no Brasil. A fraude ocorre quando autorizações legais são usadas para “esquentar” produtos extraídos de áreas onde o corte é proibido. Com isso, notas fiscais e registros de exportação não despertam suspeitas, apesar da origem ilícita. Apenas para os Estados Unidos, mais de 75 mil toneladas de madeira com indícios de ilegalidade foram embarcadas entre 2017 e 2023, aponta a investigação. Três grandes exportadoras, com histórico de autuações por desmatamento, aparecem como principais responsáveis pelos envios.
Essas empresas continuam operando normalmente, com acesso a crédito, estrutura logística internacional e contratos robustos, mesmo após sanções ambientais. O caso evidencia não apenas a fragilidade dos mecanismos de controle, mas também a falta de punição efetiva e a conivência institucional. O estado do Pará, que lidera o desmatamento na Amazônia — com 2.858 km² de floresta derrubados em 2023, segundo o Imazon —, será sede da Conferência do Clima da ONU, a COP 30, em novembro de 2025. A contradição entre o discurso oficial e a realidade da exploração madeireira levanta questionamentos sobre a coerência da política ambiental brasileira. Se o país quer protagonismo nas negociações internacionais, precisa garantir que a floresta não continue sendo comercializada de forma irregular. O combate ao desmatamento e à extração ilegal exige transparência, fiscalização intensa e responsabilização efetiva de quem lucra com a destruição.